30 setembro 2010

Viva o sol

Dias há em que me salva o sol.
O seu aconchego, o seu brilho, a luminosidade que me ilumina os passos e me mostra o caminho.
Dias há em que, de outro modo, esmoreceria, definharia até coisa nenhuma, seca e ressequida, tanto quanto seco e ressequido está o meu coração.
Dias há em que não faço questão que outros dias venham a haver.
Dias há em que os há apenas porque tem que os haver.
Dias há em que os há e eu não percebo porquê...

29 setembro 2010

Bom dia!

Nada melhor do que uma genuína gargalhada logo pela manhã.
Divirtam-se com este clip musical decorado com cenas de Una vita difficile, de Dino Risi, 1961.
O inesquecível Alberto Sordi...


It's a beautiful day
Club Des Belugas

27 setembro 2010

Faria tudo de novo?

Claro que sim.
Mesmo conhecendo antecipadamente o desfecho, empenhar-me-ia ainda mais intensamente.
Quando é que duas pessoas que se amam profundamente mas não se conseguem entender de forma plena, param para dizer "já chega!"?
Nunca!


I'd do it all again
Corinne Bailey Ray

25 setembro 2010

Um retrato escrito.

Setúbal. Doca das Fontainhas.

O sol força a passagem sem pedir licença, rasgando as nuvens com seus estiletes de cristal.
O mar parece fervilhar. Reflexos flamejantes desenham cores a um ritmo alucinado e alucinante.
Sentado num dos largos pilaretes que mantêm à distância o verdete traiçoeiro, apoio ambos os pés na amarra de ferro que agora balouça como um pêndulo de khrónus.
Beatas e paus de gelado ganharam o seu espaço fazendo já parte da calçada estafada.
Os meus olhos seguem as nervuras da pedra.
Na muralha que se afunda em diagonal, um garanguejo mouro finta agilmente as doces investidas da água. Sob a superfície, os parcos despojos do dia vão sendo disputados por peixes-reis, sarguetas, alcorrazes e uma tainha já gasta. Graça, força e astúcia trocam-se de argumentos.
Debruço-me um pouco mais, pousando o queixo num punho cerrado e o cotovelo num joelho. Sorrio...
A minha sombra, projectada no chão, faz lembrar não sei se O Pensador se O Desterrado.
Soergo-me.
O convés de um Galeão do Sal divide a linha do horizonte com o areal do Bico das Lulas, ambos entrecortados por mastros de embarcações e palmeiras anãs.
No céu uma gaivota paira curiosa, de peito feito à brisa marinha que a sustém.
Rogo-lhe:
- Voai! Ide a Tróia, trazei-me uma Helena e juntos riremos trocistas desta vida espartana.
O Sado olhou-me. O Sado aconchegou-me. O Sado amou-me como só um rio o sabe fazer.

Love me like a river does
Melody Gardot

BSO X




That's Amore
Dean Martin
Moonstruck / O Feitiço da Lua (1987)

24 setembro 2010

Jantar reikiano

Ora muito bem!
Já que ando a ser provocado via comentários, vamos lá então afinar a ementa.
Se bem entendi (para fazer a lista de compras) as hostilidades rezarão do seguinte modo:

- Patê de tuna.
- Patê d'herbes aromatiques.
- Consommé de coriandre, avec huil d'olive fruitée et noix de muscade.
- Octopus aux four, avec des pignons, abricots secs, romarin, purée de légumes et pommes de terre aussi au four avec thym citron et ail.
- Desserts mystérieux à décider par les femmes.
- Vin rouge Chateaux Penafiel, Réserve du Charles.
Esta ementa Michellin traduz-se em idioma tuga da seguinte maneira:
- Atum com maionese
- Maionese com verduras
- Creme de coentros
- Polvo assado com um monte de entulho e batatas assadas com decoração
- Sobremesas: as mulheres que se "desenmerdem"
- O vinho leva o Carlos de casa.

Ora façam lá o favor de confirmar.
(Como diria a saudosa Ivone Silva: "Toma lá qu'é democrático!")

Bom dia!!!

Pirralho na escola a tempo e horas; uma manhã que ameaça um dia mais risonho que o de ontem; uma espreguiçadela daquelas; um sorriso; uma interrogação encarada sem dramatismos, antes com a postura própria de quem se vai habituando a esperar pelo que o futuro possa trazer, sem expectativas de qualquer espécie. A desilusão é cada vez mais uma improbabilidade.
Hmmmm... Who will comfort me? Aguardo sem pressas...


Who will comfort me (Live at the Troubador)
Melody Gardot

22 setembro 2010

Poesia portuguesa

Há pouco estive na FNAC para comprar poesia portuguesa.
Procurei, procurei e... lá estava: "Poesia".
A secção de "Poesia" da FNAC do Almada Fórum é composta por uma tímida estante, (mais estreita do que aquelas que compramos nos hipermercados), com meia-dúzia de prateleiras entre as quais se dividem autores portugueses e estrangeiros.
Arreliado, dirigi-me a um dos balcões de apoio e reclamei. Não se admite que de autores como Camões, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro ou Ruy Belo, se encontre disponível apenas um título de cada. Escapava a esta miséria a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, talvez porque a Editorial Caminho... é a Editorial Caminho.
Responderam-me o óbvio: que a poesia não vende, a maioria das editoras faliu ou está a falir, as edições têm sempre tiragens apenas na ordem dos 1200, 1500 exemplares...
Seja! Mas ficou a reclamação...
É o pão nosso de cada dia, é o quotidiano da Cultura portuguesa, engolida que vai sendo por acordos ortográficos e literatura de supermercado.
Por falar em quotidiano, aqui fica o nosso descontentamento manifestado com recurso a um grande poeta.

Poema Quotidiano

É tão depressa noite neste bairro
Nenhum outro porém senhor administrador
goza de tão eficiente serviço de sol
Ainda não há muito ele parecia
domiciliado e residente ao fim da rua
O senhor não calcula todo o dia
que festa de luz proporcionou a todos
Nunca vi e já tenho os meus anos
lavar a gente as mãos no sol como hoje


Donas de casa vieram encher de sol
cântaros alguidares e mais vasos domésticos
Nunca em tantos pés
assim humildemente brilhou
Orientou diz-se até os olhos das crianças
para a escola e pôs reflexos novos
nas míseras vidraças lá do fundo


Há quem diga que o sol foi longe demais
Algum dos pobres desta freguesia
apanhou-o na faca misturou-o no pão
Chegaram a tratá-lo por vizinho
Por este andar... Foi uma autêntica loucura
O astro-rei tornado acessível a todos
ele que ninguém habitualmente saudava
Sempre o mesmo indiferente
espectáculo de luz sobre os nossos cuidados
Íamos vínhamos entrávamos não víamos
aquela persistência rubra. Ousaria
alguém deixar um só daqueles raios
atravessar-lhe a vida iluminar-lhe as penas?


Mas hoje o sol
morreu como qualquer de nós
Ficou tão triste a gente destes sítios
Nunca foi tão depressa noite neste bairro

Ruy Belo, in Aquele Grande Rio Eufrates

20 setembro 2010

Há noites assim...


Free Fallin'
John Mayer

Paradoxos

De mim e para mim faltas-me apenas tu.
Ainda assim...
Rio do teu orgulho sobranceiro;
Rio do teu desprezo;
Rio do teu riso escarninho.
Eu sei que sou melhor que isso.
A fogueira que me deixou em chaga extingue-se agora nas labaredas do seu próprio fel.
Será que há coincidências?
Causa e efeito?
O eterno retorno?
Será que tudo terá sido apenas para demonstrar que sou capaz?
Por vezes a vida tem um sentido de humor doentio.


Interstate Love Song
Stone Temple Pilots

16 setembro 2010

Sons


Everlong (Skin and Bones) Live
Foo Fighters

Que chatice...

Como diria Voltaire, Les beaux esprits se rencontrent.
Ao que eu acrescento mais il y a des outres...

14 setembro 2010

Fotografia

Para quem gosta de fotografia fica este link sobre o concurso da Lonely Planet.
Divirtam-se!

Vou dormir sobre o assunto

Vou fazer como uma amiga minha que sonha com a lua, o mar e anjos pintados no tecto.

Esta canção tem tudo a ver com isso.

Ciao bellissima!


Una notte a Napoli
Pink Martini

13 setembro 2010

Ele há dias em que uma pessoa se farta. Hoje estou tão, mas tão fartinho...

O apelo à indiferença

O que fazer quando alguém parece ter abdicado de nos falar sem qualquer motivo aparente para tal?
Comezinho, diriam uns, lana caprina, diriam outros.
Apre, irra que me irrita, digo eu, usando e abusando das duplas consoantes.
Que as pessoas lá tenham as suas razões (ou mesmo não as tendo) e não as queiram partilhar, estão no seu direito. Mas porra!... Não me façam perder tempo a falar e a escrever para o boneco.
Podiam fazer o sublime sacrifício de nos dizer: ó fulano, desculpa lá mas, por motivos que não quero referir, gostaria que deixasses de me dirigir a palavra. Que tal?
Por muito perplexos ou injustiçados que nos sentíssemos pelo menos ficávamos a perceber. Com mais ou menos mágoa ou desgosto, ficávamos a saber que, não obstante continuarmos a desejar interiormente as maiores felicidades a essa pessoa, o latim seria para acumular em Cartão Continente.
A boa educação e a consideração pelos outros não estão, infelizmente, ao alcance de todos. Digo eu, que sou muito bronco... Ou será que sou também paranóico? Meu Deus!... o drama que se avizinha...
Por via das paranóias vou mas é beber um Porto.

I Think I'm Paranoid
Garbage

12 setembro 2010

Leituras

A vossa alma é muitas vezes um campo de combate onde a vossa razão e o vosso juízo travam batalha contra a vossa paixão e o vosso apetite.
Gostaria de ser um artesão da paz na vossa alma e de poder converter em unidade e em harmonia a discórdia e a rivalidade entre os vossos elementos.
Mas como poderei eu consegui-lo, se não fordes vós mesmos artesãos da paz e amantes de todos os vossos elementos?
A vossa razão e a vossa paixão são o leme e as velas da vossa alma navegante.
Se as velas se rasgarem ou o vosso leme partir, mais não podeis fazer senão andar aos balanços, à deriva, ou ficar imóveis ao largo dos mares.
A razão, governando sózinha, é uma força restritiva; e a paixão sem controlo é  uma chama que queima para a vossa própria destruição.
Possa então a vossa alma exaltar a vossa razão até à altitude da paixão e que ela cante; e possa ela, pela razão, governar a vossa paixão, e que a vossa paixão viva pela sua própria ressurreição quotidiana, e, qual Fénix, se eleve acima das suas próprias cinzas.
(...) Quando, entre as colinas, vos sentais à sombra fresca dos brancos álamos, partilhando a sua paz e a sua serenidade, com os campos e os prados distantes, que o vosso coração diga em silêncio: "Deus repousa na razão."
E quando a tempestade se anuncia e o vento poderoso abana a floresta e o trovão e o relâmpago proclamam a majestade do céu, que o vosso coração se recolha então e diga: "Deus move-se na paixão."
E uma vez que sois o sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta de Deus, também deveis repousar na razão e mover-vos na paixão.

O Profeta
Khalil Gibran

11 setembro 2010

BSO VIII






The Shape of my Heart
Sting
Léon - The Professional / Leon - O Profissional (1994)

09 setembro 2010

Que bom!

É um privilégio poder ajudar a ajudar num ambiente como aquele que hoje à noite se viveu...

06 setembro 2010

Just a feeling

Este pode ser o maior disparate que alguma vez escrevi neste blog mas a minha intuição diz-me que muitos dos meus amigos e amigas andam num clima de amor, de paixão, que há muito não experimentavam.
Pode ser just a feeling...
(E não!... Este blog não conta com a colaboração da Maya.)

...o resto


Altar da Igreja Matriz de Tabuaço

Os sucalcos do Douro

Igreja Matriz de Barcos
Altar da Igreja Matriz de Barcos
Tecto da Igreja Matriz de Barcos
O Douro a montante da Régua

Igreja do Sabroso

Igreja do Sabroso e pedras tumulares do séc. XV
Altar da Igreja do Sabroso (fotografado através de uma frincha na porta)

Fim-de-semana no Douro

Na passada Sexta-Feira tracei azimutes para Norte e rumei a terras do Alto Douro vinhateiro.
Motivo: um casamento; o segundo para  cada um dos noivos (ele há gente teimosa hein?...).
Ainda nesse dia houve o tradicional jantar oferecido pelos amigos. Coisa de pouca monta, realizada num quintal em Tabuaço: um porco inteiro a assar no espeto e um panelão (daqueles de rancho para regimento de infantaria) a transbordar de caldo verde. O vinho, tinto e caseiro, como não podia deixar de ser.
De regresso à Régua, ou mais exactamente, à margem oposta do Douro fronteira à Régua, instalámo-nos na esplanada do bar do hotel. Sob um céu estrelado e gozando a brisa morna da noite, bebericámos um Porto Quinta do Castelinho de 20 anos, capaz de suscitar inveja aos astros. Ou foi da barriga cheia ou dos vapores etílicos: juro que a Ursa Maior me fez um manguito!
Sábado: casamento em Tabuaço (antecedido por uma visita-relâmpago ao MIDU - Museu do Imaginário Duriense, que fica logo ao lado do Tribunal e da Conservatória do Registo Civil); almoço em Loureiro: alheira, morcela e presunto; bacalhau à Varanda; cabritinho no forno; vitela assada à regional; morangos silvestres (são apenas os meus destaques para uma ementa mais extensa).
Saída de volta ao hotel a tempo de umas braçadas na piscina, rezando para não ter nenhuma congestão...
Hora do jantar (sim! home qu'é home não arrenega a hora de qualquer refeição) e a minha intuição prevaleceu sobre a aparente asneirada do voltar a comer bacalhau. De modo que lá marchou mais uma posta comedida do fiel amigo, com broa perfumada e  assente numa base de puré de grão coroada por espinafres escaldados (no ponto), tudo cercado por uma mancha de azeite gourmet e vinagre balsâmico (que não fazia parte do prato mas a malta também não é parva e sabe umas coisas sobre a arte de bem esgravatar toda a gamela...). O modesto repasto acompanhou uma garrafa de Quinta do Castelinho, tinto de 2008.
Depois da janta... bem... depois da janta morreu mais um Porto Castelinho de 20 anos.
Não sei se foi da comodidade do sommier, se do cansaço, (da pinga não foi certamente), dormimos na companhia dos anjos, revigorando o corpo e o espírito para um Domingo de cariz cultural que começou com uma ida a Peso da Régua, à loja da Quinta do Castelinho, para comprar Portos e vinhos maduros.
Seguiu-se uma visita a Barcos, onde o Sr. Padre Luís, pároco local há 43 anos (um poço de conhecimento da história local e um exemplo vivo de empreendedorismo e amor à terra), interrompendo o seu almoço, fez questão de nos conduzir numa visita pela igreja matriz local - templo românico que data do século XII -, pela Casa da Colegiada, pela Casa da Roda e pela zona velha da vila. Seguiu-se uma visita à igreja (também) românica do Sabroso e, já em Tabuaço, com a ajuda da Dª Luísa (fiel guardiã da chave do templo), pudemos desfrutar da magnífica igreja matriz local, onde se encontra um dos mais belos altares em talha dourada existentes em Portugal.
Fotografias, links de interesse e outras larachas, só mais logo. Agora fico-me por aqui porque antes de deitar ainda tenho que abrir uma garrafa de Porto, não vá o vinho estar estragado e eu ter que regressar à Régua logo pela manhã.
Beijos e abraços, consoante as preferências.

01 setembro 2010

Sons (hoje, também eles de origem canadiana)

Ora esmaguem lá o link...
Life is an open road
Bryan Adams

Um sonho com 20 anos.

Por volta de 1990, durante a leitura de antigos números da National Geographic na Biblioteca do Museu de Marinha, deparei-me com um artigo que me escancarou aos olhos e à mente algo de inesquecível:
- Banff and Jasper National Parks - Heart of the Canadian Rockies
(National Geographic Magazine / Junho 1980 / Vol. 157, nº6)

A primeira sensação obtida foi a de ter que lá voltar. Mas voltar? Como? Nunca lá fui!
Daqui a uns anos, quando tiver possibilidades para isso, aventuro-me a uma coisa destas - pensei.
Embora esta ideia tenha aflorado inúmeras vezes ao longo das duas últimas décadas (ena décadas... porra! Contabilizar o tempo em fatias tão graúdas deixa-me ainda mais velho...), este ano tudo regressou com renovado ímpeto.
Em menos de nada dei por mim embrenhado na internet a procurar voos low-cost para o Canadá, mapas das Montanhas Rochosas Canadianas, informação sobre alojamentos, quando ir, sítios a não perder, tudo e mais um par de botas.
Dirão: enloqueceu!
De facto, se me perguntarem, não saberei responder por que artes desencantarei o dinheiro para semelhante realização. Mas não é dessa matéria que os sonhos são feitos? De impossibilidades tornadas possíveis?
Comprei um The Rough Guide to Canada e um Caderno de Campo para começar a tomar notas sobre esta odisseia.
Já estive várias vezes para começar a escrever. De caneta na mão e confrontado com a virgindade imaculada de uma primeira página em branco, acabo por perder a coragem, esmagado pela responsabilidade que todos os princípios acarretam. Como se começa o diário de um sonho?
Querem saber uma coisa? Quanto mais me documento, mais dou comigo a pensar que todas estas informações são absolutamente supérfluas e que esta viagem não será tanto a procura de um sítio quanto a demanda de mim próprio.
Terá sido aqui que tive o vento por companheiro?
Terá sido aqui que me perdi?
Haverá melhor sítio para nos encontrarmos do que aquele em que nos perdemos?
Será possível sentirmos saudades do desconhecido?
Nunca lá fui... mas será que já lá estive?
Hoje estou aqui a partilhar este devaneio. Amanhã estarei sentado de pernas cruzadas sobre uma rocha sobranceira a uma cascata de água azul turquesa. Escalarei penhascos para poder beber a antiguidade sapiente do glaciar. Saberei erguer as mãos para o céu agradecendo a dádiva da vida e a possibilidade que é dada a esta partícula que sou eu de dela fazer parte. E pode ser que o vento me sussurre ao ouvido: Bem-vindo irmão! Tinha saudades tuas...
 

is where my documents live!