31 outubro 2010

Sons


Everything
Michael Bublé

Amor em fundo ferroviário

Estação de comboios - uma qualquer.
Os carros fazem paragens sucessivas para largar ou recolher passageiros.
Estacionei; desliguei; fiquei sentado.
Pára um outro carro de onde sai um jovem casal.
Dá para perceber: ela fica, ele vai.
Um abraço... múltiplos beijos.
Mudo de opinião. Afinal de contas ambos ficam... ambos vão.
Ambos ficam na sua lembrança e no seu coração.
Ambos vão na lembrança e no coração do outro... quiçá, numa réstea de sabor que perdura nos lábios ou num fio de perfume entranhado na recordação de uma tarde passada em entrega total?
Ele consulta o relógio, beija-a uma vez mais e dirige-se para a entrada.
Vacila... olha para trás.
Ela acena um adeus e encena um sorriso que só a custo convive com dois olhos embargados de lágrimas.
É tempo de partir.
A vida é assim mesmo: podemos apear-nos temporariamente mas, em última instância, o comboio avança sem contemplações.

30 outubro 2010

Sons

Eu sei que estamos quase em Lua Nova, mas como já estou com os copos ninguém desconfia.
Divirtam-se e sejam (MUITO) felizes


Guarda che luna
Luciano Pavarotti e Irene Grandi

29 outubro 2010

Vade retro galináceos e animais de carapaça

Hoje tive o azar de precisar de um almoço rápido e de pensar que meio frango da Guia com uma salada de tomate resolveriam o assunto.
Entrei no "Frango da Guia" do Almada Fórum e pedi meio galináceo, estimando que a coisa seria expedita.
A songa monga que me veio buscar à entrada, depois de algum tempo de espera perante um restaurante vazio (eram 12,15 horas), fez questão de exibir a maior das acrimónias logo desde o início. Quis sentar-me à entrada... recusei! Quis sentar-me no corredor, sujeito à corrente de ar que vinha da porta... recusei. Pedi-lhe para me sentar junto à parede. Respondeu-me com enfado: "escolha!", ao que retorqui: "O quê? a mesa ou a parede?". Continuou soturna como uma noite de Inverno. Pensei: "estou consumido!" (com um "F" grande)...
Acabou por me sentar sob um LCD suspenso da parede. Não percebi se a ideia era de que aquilo despencasse da parede e me amarrotasse a crista ou se a intenção era muito mais sórdida. É que, acto contínuo, a moçoila ligou a geringonça e eu tive que aturar o cacarejar de duas aves canoras escorraçadas das respectivas capoeiras, perto das quais o bardo Chatotorix (da aldeia de Astérix) seria um verdadeiro Pavarotti. Tentei pensar positivo, que seria uma forma de acelerar o palato de modo a poder fugir dali o mais rapidamente possível.
A moçoila, entretanto, conseguiu deixar-me sem perceber se olhava para mim se através de mim. Parecia-me estar a ser escrutinado pela capataz do aviário...
Nisto e naquilo passaram-se quarenta minutos e nada de meio-frango. Chamei a atenção para o facto, alertando que tinha que ir para o cinema e a sessão estava prestes a começar. Pois sim... tivesse o meio-frango duas patas (por qualquer alteração transgénica) e mover-se-ia mais rapidamente do que todos os empregados juntos. Viesse ele ainda com a cabeça e, apesar de morto, depenado e assado, teria certamente melhor aspecto do que aqueles aprendizes de empregados de mesa.
Mas lá veio o bicho, mais esfalfado do que eu...
Comi à pressa; chamei a estafermóide e pedi-lhe um café e a conta, ficando a pensar se ela seria capaz de tomar conta de dois pedidos em simultâneo...
A despesa perfez € 9,95. Dei-lhe uma nota e esperei pelo troco. Quando regressou ficou ali naquele vai que não vai, fica que não fica, a ver se sobrava alguma coisa. Disse-lhe: "Não encontro trocos nenhuns. Devem ter ficado perdidos junto com a sua simpatia. Fica para uma próxima oportunidade."
Foi um almoço de frango, comido por um fóssil e servido por cágados. A verdadeira refeição National Geographic.

Thursday night fever

Hard Rock Cafe.
Quinta-feira à noite.
Do tecto pendem teias de aranha artificiais e esqueletos fluorescentes. Finados made in the USA.
O balcão é uma torre de babel: múltiplos idiomas afinando pelo diapasão aglutinador do álcool.
Nas mesas a fauna é diversa, dela sobressaindo uma holandesa envergando óculos de sol maiores do que as suas próprias mandibulas e um brasileiro que sucumbiu de borco sobre o tampo da mesa, indiferente a um Kid Rock que debita em écran gigante. Os companheiros riem sem intervir. É a velha solidariedade entre gente etilizada.
O espaço, a egrégora, as energias de há pouco eram mais calmas.
Mas não é no que é diferente que nos complementamos?
Bjs... on the rocks.

28 outubro 2010

Sons

Ó p'ra mim fresco que nem uma alface mas à procura de um pretexto para desfazer as frustrações na tromba do primeiro que olhar para mim de esguelha...
O melhor será ir já tratar desse assunto. Olho-me de través ao espelho e estampo a testa no dito cujo. ;-)
Depois fico a beber um copo, o sangue a pingar-me do nariz para dentro do hidromel... gotas que me parecem cair em câmara lenta.
Vermelho púrpura no dourado do malte... bonito.
Turva-se a vista, o líquido, a vida...
Nada como cair para trás num sofá e ouvir um som daqueles de querubim...


Waltz 4 Koop
Koop

27 outubro 2010

"Bem prega frei Tomás..."

Dizia recentemente a uma amiga que, por vezes, os nossos piores inimigos somos nós próprios.
Muito gostaria eu que essa consciência me isentasse de cair tanta vez em situações que me deixam tão angustiado.
Mas enfim... deve fazer parte de alguma agenda inconsciente de auto-flagelação (ou coisa que o valha).

26 outubro 2010

Tão longe e tão perto.

O tanto de bem que dissémos, o tanto de bem que fizémos quando o amor não cabia em nós.
O tanto de mal que dissémos, o tanto de mal que fizémos quando o amor se distraiu entre nós, ou de nós, já nem sei.
Perdemo-nos realmente ou ficámos apenas reféns do mal que nos oferecemos?
O tempo, que tudo cura, passa por mim acenando de longe com a promessa de um remédio que não vem. Mas afinal que impasse é este em que escorrego, mal me tendo de pé?
Quando tudo parece esfumar-se num passado longínquo, eis-me na presença da tua lembrança, pungente, como se de ti própria se tratasse. Vislumbro-te num carro que vem de frente; deitada na areia da praia; sentada numa cadeira de cinema; vejo-te entre duas colheres de maçã assada, sentado à mesa do restaurante, sozinho mas na tua companhia, o que me deixa ainda e cada vez mais só.
Quando te vejo não consigo deixar de fitar a tua boca. Acaba por ser irónico: eu tão triste enquanto a felicidade está mesmo ali, ao virar de um beijo teu... tão longe e tão perto.

"Oceano"... porque não sei de outro modo


Oceano
Djavan

Há quatro anos atrás

Há exactamente quatro anos atrás, transcrevi para este blog a opinião do Dr. João Marques dos Santos. Hoje, numa demonstração inequívoca da velha máxima Os cães ladram mas a caravana passa, cumpre-me voltar a fazê-lo.
Ah! Já agora:
- Béu, béu!

Nunca se viu tão fantástica unanimidade mediática sobre um projecto de Orçamento de Estado. Os economistas continuam a fingir não entender que alimentam um monstro, autofágico, que já começou a engolir a própria cauda. Sabemos que somos vítimas do PEC, da Europa, da globalização, e do fantástico poder do dinheiro. Mas é lastimável que os nossos maiores carrascos sejam sempre os nossos governantes. Sócrates e as suas pequenas marionetas não têm imaginação, nem capacidade técnica, nem doutrinal ou humana para mais. Já mostraram tudo quanto têm para dar.

Incapaz de gerir as receitas do Estado ou de promover o crescimento económico, Sócrates, para recolher aplausos, refugia-se na política do corte. Sem anestesia, nem transfusões. Por isso se não entende tão grande unanimidade opinativa face às graves agressões deste orçamento. Porque este Governo não avança a direito. Faz umas curvas apertadas. Escolhe as suas vítimas e protege, sem vergonha, as suas melhores clientelas. O alarme de Jorge Coelho é sintomático. As almas de Sócrates, Campos, Pinho e outros ditos ‘governantes’ têm direito a inscrição a ouro no livro de honra da mais detestável das direitas. A que suga a vaca até a matar. Desapiedada. Que se não comove com os mais desfavorecidos e está sempre pronta para os atirar ainda mais para baixo na escala social. Quem se não incomoda em diminuir salários reais, quem agrava a carga fiscal dos reformados e deficientes, quem aumenta descontos para a CGA, quem todas as semanas corta nos medicamentos e na assistência médica e aumenta taxas moderadoras, quem ameaça diminuir 27% nos encargos do Estado com a ADSE, quem (no meio desta tempestade) cria excepções para a Banca oferecendo-lhe, como brinde, um regime de favor no apuramento dos seus impostos, não tem sequer direito a andar na rua de cara descoberta. E provoca náuseas quando insiste em dizer-se socialista. Deus livre os socialistas destes atabalhoados travestis políticos.
No limite, todos os socialistas que se empenhem em devolver alguma dignidade à vida política ver-se-ão obrigados a varrer os impostores e a votar na Direita (única alternativa conjuntural) para salvar as tradições e o bom-nome da Esquerda socialista, a sua cultura e os seus valores. Que são uma realidade histórica a respeitar. E que Sócrates aposta em esfrangalhar. Não é uma política restritiva e de rigor que está em causa. É o facto de essa política ser vesga. Maltratar (e beneficiar) sempre os mesmos. Sócrates massacra os portugueses mais desprotegidos com brutais restrições. Que são imediatas. Efectivas. Actuais. Indignas. E empobrecedoras. E nada oferece em troca senão mentirosas miragens. No que diz respeito à sua política social, este Governo espera que os mais velhos morram depressa e fia-se na adaptação e resignação dos mais novos, que não têm a memória de melhores dias. É este o seu programa.

João Marques dos Santos, Advogado
in "Opinião", Correio da Manhã, 20.10.2006

23 outubro 2010

Cenas dos próximos capítulos...

Hoje é Sábado gastronómico.
Amanhã vou escalar a Peninha, em Sintra.
Se desaparecer de circulação foi porque me escaqueirei todo...

20 outubro 2010

18 outubro 2010

Santa pasmaceira...

Despertar: 7 da matina;
Serviço 1: Levar herdeiro à escola;
Entrementes 1: Carro; comboio; Metro;
Serviço 2: Reunião de trabalho em Lisboa (mais amorfa e improdutiva do que o actual Governo);
Entrementes 2: Metro; comboio; carro;
Serviço 3: Ir buscar herdeiro à escola e levá-lo a casa;
Entrementes 3: Ida à farmácia para administração da vacina anti-gripe;
Serviço 4: Ir à Ford entregar um documento;
Serviço 5: Ir tratar dos meus canitos;
Entrementes 4: Chegar a casa, sentar o rabo numa cadeira e beber um scotch enquanto escrevo esta coisa deslavada...
E agora? Música (já está!... nem podia ser de outro modo); ler... hoje não me apetece muito por aí além; TV? Vade Retro Satanás!... Gravações? Tenho o filme Coeurs, de Alain Resnais, para ver, mas não é já...;
DVD? Tenho o La Graine et le Mulet, do tunisino Abdellatif Kechiche, para ver, mas também não é para já...
Podia começar a fazer o jantar mas, PORRA!, também não me apetece... Será que estou com uma doença grave?
Santa pasmaceira!!!...

16 outubro 2010

Sons (de sábado)


Nada pra mim
Ana Carolina

Leituras

(...) da viagem secreta ao fundo do coração trouxe um sono vertiginosamente profundo. a água e o ópio a ausência e o ritual a epígrafe e o punhal a prece e a pressa de partir. amadureço este inverno que é segredo. e o óbvio é uma oração em rodapé.
e o céu existe... cravado de pétalas... no olhar em que te alago.
"A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce.  Não cuida de si mesma. Nem pergunta se alguém a vê." Disse Silesius.
e eu reincido_____________ vês a pétala que te deixo?
assim
____________é tão tua. floresceu no deserto. é-me fonte e espinho. muralha e poros nocturna e partitura. vejo respondes e logo de seguida és parto e floresta.
sangue acamado na minha anca. mártir de um segredo mátreo. a rosa que não seca neste espinhoso mapa do coração. que te ofereço. cuidador dos lobos que me rasgam de rajada.

As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar
Isabel Mendes Ferreira

15 outubro 2010

14 outubro 2010

Mulher com brinco de mar

Quando ela me sussura ao ouvido é como o fervilhar da água, absorvida pela areia húmida no rescaldo de uma vaga nocturna.
Quando me beija a nuca, ela é o rebojo de uma onda que rebentou sobre mim, envolvendo-me numa explosão de minúsculas bolhas de oxigénio, fazendo estremecer o meu mais profundo eu.
Quando se arranja para uma festa, ela é lago de plácidas águas cristalinas, espelhando as constelações da estação, ou tormenta desfeita no mais rigoroso dos invernos.
Quando dança para mim, espraia toda a volúpia de uma laminária acariciada pelo vai-vem da maré.
Quando dançamos juntos somos como partículas de maresia arrancadas à superfície pelo sopro do vento boreal.
Quando o mau tempo se deixa adivinhar no horizonte ela sabe e relembra, melhor do que ninguém, que o amor é feito de marés cheias e marés vazias, de tempestades e de bonanças.
Quando chora, as suas lágrimas desvanecem-se céleres, como salpicos de água sobre uma rocha quente. As marcas, essas, perduram, mas apenas de modo efémero, como singelas manchas de sal.
Quando faz amor comigo ela é a calmaria seguida da tempestade que investe imparável contra o cabo, sem quaisquer estratégias, receios ou hesitações, varrendo encostas e sorvendo tudo à sua passagem enquanto os seus olhos me dizem:
- Faz de mim terra, tal como eu faço de ti água. Possui-me neste instante, tal como eu te possuo a ti. Juntos seremos a soma de ambos, o universo fundido num só instante".

Deus pode ter criado o homem à sua imagem. Mas a mulher... a mulher - Deus foi ainda mais ambicioso - criou-a à imagem do mar.

Sons (desta noite)


Come to me
Ricky Martin

09 outubro 2010

Polémico?

John Lennon foi assassinado faz hoje trinta anos.
Não fosse a sempre triste circunstância da morte de uma pessoa relativamente nova e o facto de ter escrito e composto algumas canções de antologia, pergunto:
E depois???

08 outubro 2010

Oração do dia

Mestres, namastê!
Que as graças que julgueis ser justo atribuir-me em resultado do meu trabalho, possam ser distribuídas pela minha família, pelos meus amigos e por todos quantos mais delas necessitem do que eu.
Dai-me a força de espírito para que me possa manter na senda do merecimento.
Que tudo aquilo que eu venha a obter por vosso intermédio, incluindo a resposta a esta prece, resulte do meu humilde esforço e não do meu pedido.
Obrigado!

Hachiko

Baseado numa história verídica ocorrida no Japão entre os anos 20 e 30 do século passado, este filme conta-nos uma belíssima história de amor incondicional.
Daquelas dádivas de que só os animais são capazes.
Curiosamente, conheço uma história muito semelhante a esta. Há não muitos anos, na Costa de Caparica, viveu um vira-lata minorca que, após o falecimento do dono, fazia diariamente o percurso do Bairro dos Pescadores até ao cemitério local, aguardando a abertura das portas pela manhã e saindo à hora de encerramento. Passava os dias deitado aos pés da campa do dono. Esta sua rotina apenas cessou alguns anos depois, no dia em que foi atropelado ao atravessar a via-rápida, algo que era obrigado a fazer duas vezes por dia.
Hachico - Amigos para sempre, não é um grande filme (nem nada que se pareça). Mas é uma grande história e, sobretudo, uma grande lição.
[Não levem um lenço... levem um lençol. Eu não levei uma coisa nem outra e passei um mau bocado a secar olhos e nariz com os dedos...]

07 outubro 2010

Sons


King of Pain
The Police

As vagas vêm em vagas


As vagas vêm em vagas
tragando tudo à sua passagem,
levantando castelos de água e núvens de espuma,
revolvendo areia, envolvendo-me na bruma.

As vagas vêm em vagas
e eu deixei de ver.
É da areia, da maresia no ar,
ou desta cegueira em que me quero afogar?

As vagas vêm em vagas
num sem parar de voltar.
Enrolam, desenrolam,
em chamas de sol se imolam.


As vagas vêm em vagas
lavando-me os sentimentos.
Indiferentes se bons se maus,
sobem escadas, descem degraus.


As vagas vêm em vagas,
impacientes, inclementes.
Não trazem calor nem amor
a um peito dilacerado pela dor.


As vagas vêm em vagas
mesmo quando o crepúsculo boceja.
Cai a noite... a praia descansa.
Acorda o pesadelo que cansa.

As vagas vêm em vagas,
estendendo-se no colo do mar.
Sob o luar, próximas, belas...
Quiçá um dia irei com elas?

05 outubro 2010

Sons (relembrando Sábado)


Entre dos tierras
Héroes Del Silencio

Por estas e por outras...

Ontem à noite calhou ter assistido a um conjunto fragmentado de momentos televisivos de (dita) informação, em que os temas dominantes diziam respeito ao centenário da implantação da República e à actual situação de crise generalizada que o nosso país atravessa.
Depois de tudo bem digerido; depois do exercício destinado a subir o nível de vibração; depois de alguma preparação para voltar a pensar no assunto, cheguei à conclusão de que tenho ainda um longo - senão interminável - caminho a percorrer no sentido do amor e perdão incondicionais.
Sinto-me incapaz de compreender e/ou desculpar este escol de cães raivosos que se servem do serviço público como plataforma e/ou trampolim para poisos principescamente remunerados de onde delapidam o erário público a seu bel-prazer.
Não consigo admitir que uma corja de indivíduos que se renova numa estafada e incompreensivelmente mantida alternância democrática, continue a vomitar demagogia e retórica, criando e alimentando de forma tácita um monstro autofágico que sangra a favor desta escumalha, deixando a populaça anémica... cada vez mais anémica, pobre, em muitos casos miserável.
Até já os mais liberais arautos (vd. artigos recentes do jornal Expresso) clamam contra a insustentável promiscuidade entre o poder político, o poder económico e a banca.
Os últimos tempos têm sido férteis em cenas de favorecimento, desfalque, despautério financeiro e de cândida pouca-vergonhice, que não percebo como não são passíveis de procedimento criminal.
É o fartar-vilanagem próprio destes momentos de pânico que antecedem o naufrágio.
O problema é que este malfadado navio encalha, encalha de novo e volta a encalhar, não havendo meio de afundar.
Os ratos sobrevivem sempre, equilibrando-se reciprocamente, quais contorcionistas de circo coreano, no topo dos mastros de um salvado marítimo que terá de ser, uma e outra vez, reconstruído a partir da quilha, sempre pelo mesmo triste e patético conjunto de carpinteiros e calafates.
Ao jantar ouvi colegas meus de Faculdade, do tempo de Mestrado, gente da geração posterior à minha, com qualificações académicas e experiência profissional mais do que suficientes para poder aspirar a um posto de trabalho digno, confessar que estes políticos, mais do que sugar-lhes a vida e a bolsa, conseguiram a triste e indigna proeza de lhes subtrair os sonhos. Todos ponderam ir para o estrangeiro a muito curto prazo.
Eu não tenho idade nem condições para emigrar. Os meus sonhos são poucos mas bons, quiçá refinados pelo crivo desta realidade que nos é imposta e que não controlamos individualmente.
A este panteão de gatunos e oportunistas ideologicamente analfabetos que apenas se servem do serviço público para se engordarem a si próprios e às suas clientelas, urge relembrar uma panaceia ainda não há muitos anos prescrita por um nosso trovador:
A gente ajuda, havemos de ser mais, eu bem sei
Mas há quem queira, deitar abaixo o que eu levantei
(...)
Bem me diziam, bem me avisavam, como era a lei
Na minha terra quem trepa no coqueiro é o rei
A bucha é dura, mais dura é a razão que a sustém
Só nesta rusga, não há lugar para os filhos da mãe
Não me obriguem a vir para a rua, gritar
Que é já tempo de embalar a trouxa e zarpar...

Será que somos cegos? E eu por cá vou vendo muito bem... E vocês?

03 outubro 2010

After hours


Há lá coisa melhor do que cozinhar para os amigos, conversar com os amigos, dançar com os amigos, partilhar com os amigos?...
Gosto muito de todos vós; mesmo dos que não estiveram. Por vezes a distância é a melhor forma de percebermos claramente o quanto os amigos nos complementam, o quanto preenchem os nossos vazios.
Obrigado por serem meus amigos!

02 outubro 2010

BSO XI




Farewell
Tan Dun
O Tigre e o Dragão / Crouching Tiger, Hidden Dragon (2000)
 

is where my documents live!