19 abril 2012

Como por magia

Ela, querendo encostá-lo à parede, procurava um beijo.
Ele, mais por pudor do que por falta de vontade, olhava em volta, atrapalhado, comprometido, sabe-se lá com o quê, sabe-se lá porquê.
Um jovem de manga curta empurrava compenetrado um carrinho de bébé carregando um petiz. O miúdo envergava um garrido barrete andino e, gozando a feliz circunstância da infância, sorvia visualmente tudo o que se lhe oferecia em redor.
Mudei a mala de ombro.
Segui caminho.
Na praça de táxis entremeavam-se mágoas carpidas e prognósticos para o jogo do Sporting.
Um pouco mais à frente, um desses novos nichos passíveis de análise antropológica e sociológica: os grupos de pessoas que se agregam para fumar um cigarro à porta dos prédios onde trabalham.
Uma senhora, de blusão de pele, saia curta e meias de renda, auto-contemplava-se. Quando reparou que eu olhava, sorriu. Um daqueles sorrisos que diz: "sou muito gira!". Mandei-lhe, na volta do correio, outro sorriso. Um daqueles que diz: "claro que és!".
Ao dobrar da esquina, uma velhinha de andarilho expressava facialmente aquele misto de cansaço e de desespero de quem não se vê chegar ao destino. Pensei: "Força, irmã!"
A vida pode não ser um mar de rosas. Ainda assim, e avaliando tudo o que nos é oferecido aproveitar ou desaproveitar, consciente ou inconscientemente, cada vez mais me convenço de que o pior inimigo que podemos ter reside dentro de nós próprios.
Sejamos bons. Sejamos cada vez melhores e até tudo em nosso redor adquirirá um brilho de renovado fulgor.
Hoje estou feliz! Vou rever um grande amigo.
É seguir a canção: "(...) vive, como por magia, a vida num só dia."


A vida num só dia
Rádio Macau
 

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