24 março 2011

Destinos

Algum dia, em alguma parte, em qualquer lugar,
encontrar-te-ás a ti mesmo e essa, só essa,
pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas.
Pablo Neruda


Times Like These (Acoustic Version)
Foo Fighters

21 março 2011

Dia do Pai 2011 - Rabo de Peixe Margem Sul

A cabra cega das maçãs (com as costas feitas num ponto de interrogação e segurando um saco de gelo com a mão direita).
Quando as mães são de mão-cheia, ser pai é facílimo! ;-)

17 março 2011

Uma noite

Depois de mais uma estirada trôpega e vacilante, ele sucumbiu ao peso da lua cheia que iluminava o céu da aldeia. Deixou-se ficar sentado na valeta, de braço-dado com a estrada poeirenta.
Ela passou em galope veloz, montada na garupa da sua soberba.
Ele sorriu.
Um dia – pensou – um dia a humildade estampar-se-á na tua vida como cinco dedos na cara.
Soergueu-se e procurou o rumo de casa. Pensou num banho quente, no velho cadeirão coçado e num livro de poesia. Sim… de poesia, esse pasto da alma, esse vento Siroco que sempre depositara nas suas mãos eternas sementes de inquietação. Nela mergulhava todas as noites, como se num mar verde esmeralda. Fundo, tão fundo até onde o verde fica mais turvo e se soltam os gritos há muito tempo calados.
Ao retornar de cada uma dessas viagens, a sua existência não era mais a mesma, a sua consciência não estava já onde a havia deixado.
Um cachorro escanzelado atravessou-se-lhe ao caminho. Meio a medo, afoitou-se à força de tanta fome, com a cauda entre as pernas. Ganhou os restos de um pedaço de pão duro. Tudo se partilha, até mesmo a miséria quando nada mais há para partilhar.
Tirou do bolso uma garrafa de esperança. Sorveu um trago… e ainda outro.
Cerrou os olhos, deixou que a sua cabeça pendesse para trás. Inspirou fundo engasgando-se com a resposta de dois pulmões cheios de fumo e de mágoa.
Suspirou...
Contemplou o céu...
Avançou...
Viveu!


Sem cor
Dr1ve

16 março 2011

Navegar

Saio do combóio. A estação fervilha de vida nesta manhã de Março.
Cruzam-se estados de espírito, alegrias e preocupações. Cruzam-se pessoas, cruzam-se sonhos, cruzam-se vidas.
A vibração é ininteligível. Dá vontade de nos elevarmos acima da mole humana, abrir as asas e sacudir os nossos tormentos.
Deviamos todos poder ser capazes de nos melhorar com a mesma facilidade com que um pequeno pardal se lava numa poça de água.
Sorvo o momento; sigo caminho.
Hoje tenho uma arguição de Mestrado na Faculdade. É a vez da Sónia... A Sónia e as incontornáveis angústias de quem está preparadíssima mas teima em achar que não. Vai fazer um brilharete. Eu sei que sim!...
É cedo. Sento-me ao sol.
Fecho os meus olhos. Surgem-me os teus, devolvendo a sensação de cada despertar outrora experimentada.
Faltas-me... mas não te quero!
A vaga foi fresca, cristalina, renovadora. Mas não passou disso mesmo: uma vaga que cresceu, nos envolveu e rebentou em todo o seu esplendor. Espraiou-se na praia da vida deixando nada mais do que uma memória sofrida.
A vida é assim mesmo. Mas as marés são muitas e as vagas muitas mais.
De uma coisa eu tenho a certeza: este batel mudou de rumo.
Não lhe diviso o destino.
Não quero, sequer, perder tempo com isso.
Por ora, basta-me o simples navegar...


Sailing
Christopher Cross

04 março 2011

Diálogos poéticos


NA MESA DO SANTO OFÍCIO

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura, é no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.
Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.

José Carlos Ary dos Santos
 

 
SEMPRE
 
Como se os nossos corpos rebolassem num colchão de palavras,
nadei nos conceitos que me sussurraste ao ouvido,
nas frases soltas que tomaram forma afirmativa do meu e do teu ser!

Gemi as exclamativas frases que me arrancaste do fundo do peito...
Amei-te num futuro mais-que-perfeito!
Bani dos meus horizontes o modo condicional do verbo sentir e usei o gerundio do gosto de sorrir...

Num complemento circunstâncial de modo...
Amei-te!
No circunstâncial de lugar fiquei à espera
que o circunstâncial de tempo fosse um segundo...
do tamanho do mundo!

Antes do amo coloquei um pronome pessoal
e a seguir um reflexo
e vi que tinha nexo o que acabei de te dizer!

Muni-me então do campo lexical de tempo...
Sob a forma determinante da interrogativa
e surgiu o quando?
logo seguido da verbalização angustiada
do amanhã?

Apenas concluí no modo docemente circunstancial,
com a única temporal que eu senti:
Sempre!

Cristina Fidalgo
 

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