04 março 2011

Diálogos poéticos


NA MESA DO SANTO OFÍCIO

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura, é no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.
Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.

José Carlos Ary dos Santos
 

 
SEMPRE
 
Como se os nossos corpos rebolassem num colchão de palavras,
nadei nos conceitos que me sussurraste ao ouvido,
nas frases soltas que tomaram forma afirmativa do meu e do teu ser!

Gemi as exclamativas frases que me arrancaste do fundo do peito...
Amei-te num futuro mais-que-perfeito!
Bani dos meus horizontes o modo condicional do verbo sentir e usei o gerundio do gosto de sorrir...

Num complemento circunstâncial de modo...
Amei-te!
No circunstâncial de lugar fiquei à espera
que o circunstâncial de tempo fosse um segundo...
do tamanho do mundo!

Antes do amo coloquei um pronome pessoal
e a seguir um reflexo
e vi que tinha nexo o que acabei de te dizer!

Muni-me então do campo lexical de tempo...
Sob a forma determinante da interrogativa
e surgiu o quando?
logo seguido da verbalização angustiada
do amanhã?

Apenas concluí no modo docemente circunstancial,
com a única temporal que eu senti:
Sempre!

Cristina Fidalgo

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