21 dezembro 2011

Sacrilégio


É ou não um sacrilégio estar fechado em casa a trabalhar, abrir a janela, deixar entrar uma brisa de mar e sentirmo-nos obrigados a ficar entre quatro paredes, porque o tempo é curto e os compromissos académicos não se compadecem com estes apelos da água?
Estava melhor na ponta de um esporão da Costa.
São estas pequenas coisas que trazem à liça a cegueira de uma vida passada inconscientemente às voltas. Como um dia disse o "nosso" Variações, "só estou bem, aonde não estou"...
Triste esta (pelo menos minha) condição de permanente insatisfação. Não se explica. Ou, melhor dizendo (ou escrevendo): não consigo explicar.
A vida será assim mesmo. Nada de percursos lineares. O nosso percurso é esta espiral que transmite a sensação errónea de avanços e recuos quando, de facto, se trata apenas de um progresso feito de aprendizagem e forçosa revisão da matéria dada.
- Mas olha que o tempo voa...
- Também o meu espírito. Muito mais rápido e muito mais alto do que a própria vida.
- Mas como ele anda! E para onde voa o teu espírito?
- Nem eu próprio lhe adivinho o destino. Não lhe conheço sequer o propósito.
-Deixa-o ir livre e sem destino que ele saberá onde pousar.
Eu sei que sim!
Não sei o "como" e só muito vagamente percebo os mistérios que me assistem.
A vida é uma puta!
Há putas que se vendem por vender, pelo aparente benefício do acto.
Outras há que se vendem para poder satisfazer necessidades outras: subsistência, providência, vícios...
E assim somos nós, transigindo por vezes as nossas mais profundas convicções em função de um "assim tem que ser" que se nos atravessa no caminho.
Avançamos no caminho. Retrocedemos na condição.
Muito invejo essas fortalezas de carácter, baluartes de existência, seres humanos extraordinários que não vacilam, independentemente das expectáveis consequências.
O privilégio de conhecer três homens assim é incomensurável. O meu tio João Henrique e o Comandante Martins e Silva (Marinha de Guerra), ainda vivos, e outro tio meu, Carlos Pereira dos Santos, infelizmente já falecido.
O seu conhecimento não me fez como eles. Não chego a tanto. Não o consigo.
Mas quando chega a hora de ter pontos de referência, quando se trata de tentar fazer justiça a referências que tenhamos na vida, eles estão sempre lá, para me orientar ou para para me confrontarem com a vergonha de uma qualquer decisão que lhes não faça justiça.
É! Esta vida é assim mesmo: uma carpete de veludo carmim que percorremos como estrelas de cinema mal vestidas.
Era bom que pudéssemos tratar a nossa consciência como apenas um sonho mau. Acordar e fazer "reset"...
Que bom que seria...
Que merda, este passado que nos atormenta. É aprendizado. Certo! Mas que me importa a mim, consciente que estou de que nem precisava de saber mais para ter aprendido de outra forma?
Resignação? Não me é fácil!
Destino? É como reza o fado: o destino só destina quem já nasce conformado.
Por vezes apetece-me partir em direcção ao pôr-do-sol e com ele desaparecer.
Depois lembro-me dos meus dois preciosos filhos.
Não é apenas em mim que devo pensar...
Isso sim: seria um sacrilégio.

1 comentário:

ANALUZ disse...

Venho-lhe desejar um Natal cheio de candura, ternura, carinho, amor, Paz, alegria e que receba a prenda que sempre mais ansiou!!

obrigada por estar comigo neste ano que está terminando, e agradeço a Deus te-lo conhecido.

abraço fraterno e de muita LUZ

 

is where my documents live!