Em trânsito
O pior de qualquer viagem é o regresso. O dia seguinte ao regresso. Ainda não chegámos totalmente, ainda trazemos na pele o sabor do sal e do sol, ainda não nos habituámos ao desconforto do relógio no pulso e ao toque irritante do telemóvel. Acordamos, perplexos, na nossa própria cama:
"Onde estou?"
(...)
"Está em trânsito?", quis saber, há dois dias, um funcionário do serviço de fronteiras no aeroporto de Frankfurt; e então pensei: não, não estou em trânsito. Eu sou em trânsito. É a diferença entre estar gorda e ser baixa. Uma mulher gorda pode, eventualmente, emagrecer. Uma mulher baixa será sempre baixa. Claro, não lhe disse isto, não sou inteiramente louca. Sorri e confirmei. Ele sorriu também. Tinha um sorriso bonito. Disse-me: "Não sei de onde vem, nem para onde vai, mas gostava de estar à sua espera quando chegasse ao seu destino". Fiquei a pensar naquilo. No destino como um local de chegada. Uma pessoa em trânsito tem um destino?
Faíza Hayat, Crónica - Conversas com o Espelho, in Revista XIS, 3 Dez 2005.
07 dezembro 2005
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