As vagas enrolam a esforço, preguiçosas, desfazendo-se lânguidas nos cabeços dourados.
As dunas, pejadas de cardos e chorões, descansam dos rigores do Inverno.
Recosto-me na areia, entre alecrim, rosmaninho e pinheiros retorcidos pelo vento e pela maresia.
Deixo que o sol me preencha a face, ocupando o pouco que esta barba de Adamastor ainda permite.
Ando descuidado. A vida anda descuidada. Mais não faço do que olhá-la bem nos olhos e devolver a cortesia.
Não há "como", se não se tem "porquê".
Se o tempo o permitir, amanhã venho iniciar a época de caminhadas de borda-de-água.
Com um pouco de coragem talvez entre na água regeneradora.
Esta praia é o meu deserto e esta água o elemento que me expurga todos os males, qual bode expiatório da tradição judaica.
Se Deus trabalha por caminhos misteriosos, a mente humana nada lhe fica a dever, sobretudo no que diz respeito às múltiplas aptências que exibe quando se empenha em se auto-flagelar.
A razão escarnece de si própria com o mesmo embaraço risonho com que nos mascaramos quando nos estatelamos no chão em público. E o final, resignado, é sempre o mesmo. Até um dia... que não o de hoje.
Por ora deixai-me sorver um pouco mais de sol, um pouco mais de mar, um pouco mais de mim.
31 janeiro 2011
16 janeiro 2011
10 janeiro 2011
08 janeiro 2011
05 janeiro 2011
04 janeiro 2011
Barcelona - Apontamentos de viagem XVII
23.12.2010
Vôo previsto para as 17.55 horas.
Verá esta odisseia o seu fim?
Quero ir para "casa"!
Quero pegar na cana de pesca e ver-me dentro de água no Meco, a tentar os robalos natalícios.
Estou aqui a martirizar-me com algumas resoluções de ano novo.
Tenho muito que parar para pensar.
Olho para o lado e não consigo evitar o riso.
Até os guardanapos falam comigo.
Sou mesmo, mesmo cepo.
Estou tão saturado desta espera.
A mochila está tão cheia de roupa suja que nem chego aos livros que comprei. Não sei com o que me entreter. O ipod está a ficar sem bateria; a máquina fotográfica tem também a segunda carga nas lonas...
Pensei em aproveitar o tempo para enviar um sms de Natal aos amigos mas, fazê-lo a partir de Barcelona, não é boa ideia.
Acresce a tudo isto o facto de, apesar, de serem apenas 15,30 horas, o sol estar já tão baixo que entra pelas vidraças fumadas como um centurião em Roma depois de uma grande vitória.
É um convite à siesta ao qual custa dizer "não".
Quando o ócio se instala a imaginação ganha asas. É o grito de revolta da mente contra o imobilismo do corpo.
Resolvi contar o número de páginas que materializam estes meus apontamentos de viagem. São já vinte e oito. Ou direi "só vinte e oito?"
Uma núvem misericordiosa vem aplacar a força do astro-rei. Que alívio!
Maior alívio, neste momento, só consigo imaginar o regresso a "casa".
Vôo previsto para as 17.55 horas.
Verá esta odisseia o seu fim?
Quero ir para "casa"!
Quero pegar na cana de pesca e ver-me dentro de água no Meco, a tentar os robalos natalícios.
Estou aqui a martirizar-me com algumas resoluções de ano novo.
Tenho muito que parar para pensar.
Olho para o lado e não consigo evitar o riso.
Até os guardanapos falam comigo.
Sou mesmo, mesmo cepo.
Estou tão saturado desta espera.
A mochila está tão cheia de roupa suja que nem chego aos livros que comprei. Não sei com o que me entreter. O ipod está a ficar sem bateria; a máquina fotográfica tem também a segunda carga nas lonas...
Pensei em aproveitar o tempo para enviar um sms de Natal aos amigos mas, fazê-lo a partir de Barcelona, não é boa ideia.
Acresce a tudo isto o facto de, apesar, de serem apenas 15,30 horas, o sol estar já tão baixo que entra pelas vidraças fumadas como um centurião em Roma depois de uma grande vitória.
É um convite à siesta ao qual custa dizer "não".
Quando o ócio se instala a imaginação ganha asas. É o grito de revolta da mente contra o imobilismo do corpo.
Resolvi contar o número de páginas que materializam estes meus apontamentos de viagem. São já vinte e oito. Ou direi "só vinte e oito?"
Uma núvem misericordiosa vem aplacar a força do astro-rei. Que alívio!
Maior alívio, neste momento, só consigo imaginar o regresso a "casa".
03 janeiro 2011
Barcelona - Apontamentos de viagem XV
22.12.2010
Convido-vos a sentarem-se comigo neste banco da sala de check-in.
Quando há dois ou três vôos que se juntam em matéria de horários, a easyJet é a loucura total.
Quem viaja mais já deve ter chegado à conclusão que esta companhia deu uma outra dimensão à expressão "o que é barato sai caro".
Claro que há sempre os casmurros - como eu - que insistem em dar o benefício da dúvida. Tenho a impressão que esta experiência me trará o necessário bom-senso. Quando planear viajar novamente é bom que me lembre de tudo isto, sob pena de ser promovido de casmurro a "casburro"...
Este terminal é uma torre de Babel. Gente de todas as raças padecendo de um mal que não escolhe caras: a bicha. Sim... a bicha e não a fila!!!
Um casal entra apressado. Atrás vem o puto, minúsculo, louro, rebocando uma mala maior do que ele.
Os pais estancaram no final da bicha mas ele, que vinha olhando para os pombos que haviam permanecido do lado de fora das vidraças, acabou estampado no rabo da mãe. Vá lá!... Podia ter sido pior.
Chamam para o autocarro. Chiça! Já não era sem tempo! Quatro horas e meia depois...
Convido-vos a sentarem-se comigo neste banco da sala de check-in.
Quando há dois ou três vôos que se juntam em matéria de horários, a easyJet é a loucura total.
Quem viaja mais já deve ter chegado à conclusão que esta companhia deu uma outra dimensão à expressão "o que é barato sai caro".
Claro que há sempre os casmurros - como eu - que insistem em dar o benefício da dúvida. Tenho a impressão que esta experiência me trará o necessário bom-senso. Quando planear viajar novamente é bom que me lembre de tudo isto, sob pena de ser promovido de casmurro a "casburro"...
Este terminal é uma torre de Babel. Gente de todas as raças padecendo de um mal que não escolhe caras: a bicha. Sim... a bicha e não a fila!!!
Um casal entra apressado. Atrás vem o puto, minúsculo, louro, rebocando uma mala maior do que ele.
Os pais estancaram no final da bicha mas ele, que vinha olhando para os pombos que haviam permanecido do lado de fora das vidraças, acabou estampado no rabo da mãe. Vá lá!... Podia ter sido pior.
Chamam para o autocarro. Chiça! Já não era sem tempo! Quatro horas e meia depois...
02 janeiro 2011
Barcelona - Apontamentos de viagem XIV
22.12.10
Vinte e duas palavras soltas
Vinte e duas palavras soltas
Porquê?
Lágrima
Almofada
Sorriso
Boca
Olhos
Silêncio
Areia
Mãos-dadas
Descalços
Momento
Eternidade
Fugaz
Inpotência
Incapaz
Infeliz
Ninguém
Dúvida
Cristalizado
Medo
Esperança
01 janeiro 2011
Eu e a Lua Feiticeira: James - Sit Down (2001 final live performance )
Eu e a Lua Feiticeira: James - Sit Down (2001 final live performance )
Luar anda especialmente produtiva. Surripio-lhe os James à laia de homenagem.
May the force be with you!
Luar anda especialmente produtiva. Surripio-lhe os James à laia de homenagem.
May the force be with you!
Barcelona - Apontamentos de viagem XII
22.12.2010
(+) Exposições e passeios.
Anteontem visitei uma exposição temporária no Arquivo da Coroa de Aragão: Francisco de Bórgia - Vice-Rei da Catalunha. 1539-1543.
Exposição muito bem montada, considerando a relativa exiguidade do espaço. Tirei uma fotos sem flash - assim como quem não quer a coisa.
Personagem muito interessante, que não conhecia, com ramificações a Portugal por via do matrimónio.
Ontem fui directo ao MUHBA - Museu de História de Barcelona.
O núcleo permanente baseia-se na intervenção e musealização do conjunto monumental Plaça del Rei, com particular incidência nos vestígios arqueológicos que datam da Pré-História à Idade-Média.
O museu está presentemente com uma exposição temporária extraordinária: Ja tenim 600! - La represa sense democràcia. Barcelona, 1947-1973.
Trata-se de um exemplo paradigmático de como, a propósito da aquisição de uma peça para o seu acervo - no caso, um automóvel Seat 600 - um museu pode efectuar um magnífico trabalho de investigação.
A exposição debruça-se sobre o movimento operário, o associativismo de bairro e outros modos de luta, visando sacudir a opressão dictatorial de Franco e atingir uma cada vez maior autonomia da Catalunha face ao governo central espanhol. Aborda-se igualmente o modo como algumas intervenções urbanísticas, a construção da fábrica da SEAT (cuja sigla, já agora, significa Sociedad Española de Automóviles de Turismo), e a realização de um Concílio Ecuménico Universal [?] em Barcelona durante o período cronológico em análise, pretenderam minorar a oposição social ao regime.
Uma vez mais: Muito bom!!!
De saída visitei a a exposição virtual montada no pátio do Museu Frederic Marès.
Uma boa solução a seguir quando se tem o edifício em remodelação e, portanto, encerrado ao público.
Após uma pequena pausa enchi-me de coragem e fiz-me ao Museu Picasso. Caminhei cheio de hesitações. Acontece-me quando sei antecipadamente que me dirigo para algo que me vai esmagar.
Eu e o Museu Picasso de Barcelona tinhamos uma relação idêntica à que tenho com os Açores: fica para amanhã!...
Chegando à entrada desvaneceram-se as hesitações. O museu apresentava como exposição temporária Picasso davant Degas. Deus me livre de perder as bailarinas e as prostitutas de Degas.
A exposição não se consegue descrever em poucas linhas, pelo que me vou abster de o fazer. Destaco apenas que, se dúvidas existissem sobre o facto de Picasso ter seguido ostensivamente a obra de Degas como inspiração e modelo para uma grande parte dos seus trabalhos, elas ficam completamente desfeitas pelo tête-à-tête entre obras de arte que esta exposição nos dá a fruir. Aliás, as palavras de Picasso com que os comissários abrem a exposição são claras: Si hay algo que se pueda robar, lo robo!
Pena ser tão teso. O catálogo da exposição, obra em grande formato e com uma impressão de luxo, custava apenas €35. Face à incógnita de não saber quando regressarei a casa, preferi guardar o dinheiro.
A exposição permanente apresenta uma disposição cronológica da obra de Picasso, dando igualmente muita informação biográfica.
Para quem goste deste mestre, este é mesmo um museu a não perder.
(+) Exposições e passeios.
Anteontem visitei uma exposição temporária no Arquivo da Coroa de Aragão: Francisco de Bórgia - Vice-Rei da Catalunha. 1539-1543.
Exposição muito bem montada, considerando a relativa exiguidade do espaço. Tirei uma fotos sem flash - assim como quem não quer a coisa.
Personagem muito interessante, que não conhecia, com ramificações a Portugal por via do matrimónio.
Ontem fui directo ao MUHBA - Museu de História de Barcelona.
O núcleo permanente baseia-se na intervenção e musealização do conjunto monumental Plaça del Rei, com particular incidência nos vestígios arqueológicos que datam da Pré-História à Idade-Média.
O museu está presentemente com uma exposição temporária extraordinária: Ja tenim 600! - La represa sense democràcia. Barcelona, 1947-1973.
Trata-se de um exemplo paradigmático de como, a propósito da aquisição de uma peça para o seu acervo - no caso, um automóvel Seat 600 - um museu pode efectuar um magnífico trabalho de investigação.
A exposição debruça-se sobre o movimento operário, o associativismo de bairro e outros modos de luta, visando sacudir a opressão dictatorial de Franco e atingir uma cada vez maior autonomia da Catalunha face ao governo central espanhol. Aborda-se igualmente o modo como algumas intervenções urbanísticas, a construção da fábrica da SEAT (cuja sigla, já agora, significa Sociedad Española de Automóviles de Turismo), e a realização de um Concílio Ecuménico Universal [?] em Barcelona durante o período cronológico em análise, pretenderam minorar a oposição social ao regime.
Uma vez mais: Muito bom!!!
De saída visitei a a exposição virtual montada no pátio do Museu Frederic Marès.
Uma boa solução a seguir quando se tem o edifício em remodelação e, portanto, encerrado ao público.
Após uma pequena pausa enchi-me de coragem e fiz-me ao Museu Picasso. Caminhei cheio de hesitações. Acontece-me quando sei antecipadamente que me dirigo para algo que me vai esmagar.
Eu e o Museu Picasso de Barcelona tinhamos uma relação idêntica à que tenho com os Açores: fica para amanhã!...
Chegando à entrada desvaneceram-se as hesitações. O museu apresentava como exposição temporária Picasso davant Degas. Deus me livre de perder as bailarinas e as prostitutas de Degas.
A exposição não se consegue descrever em poucas linhas, pelo que me vou abster de o fazer. Destaco apenas que, se dúvidas existissem sobre o facto de Picasso ter seguido ostensivamente a obra de Degas como inspiração e modelo para uma grande parte dos seus trabalhos, elas ficam completamente desfeitas pelo tête-à-tête entre obras de arte que esta exposição nos dá a fruir. Aliás, as palavras de Picasso com que os comissários abrem a exposição são claras: Si hay algo que se pueda robar, lo robo!
Pena ser tão teso. O catálogo da exposição, obra em grande formato e com uma impressão de luxo, custava apenas €35. Face à incógnita de não saber quando regressarei a casa, preferi guardar o dinheiro.
A exposição permanente apresenta uma disposição cronológica da obra de Picasso, dando igualmente muita informação biográfica.
Para quem goste deste mestre, este é mesmo um museu a não perder.
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