27 maio 2011
25 maio 2011
Morena serrana
Olhos cor de avelã, jeito de menina.
Passo aveludado escondendo um andar decidido.
Toda ela é determinação e espírito de sacrifício. A genética tem destas coisas. O universo, esse supremo ferreiro, deu ar à fornalha e forjou um estupendo ser humano, misto de serra beirã e de planície alentejana, capaz de fazer frente a qualquer intempérie com que a vida a confronte.
Curiosa e desconcertante é a sua insegurança. É uma menina gigante ou, quiçá, um gigante feito menina.
Prefere o recato às luzes da ribalta.
Em segredo, liberta-se. Em segredo desabrocha num furacão implacável, devorando medos e hesitações, num rumo imparável que é só seu mas que, querendo, se permite partilhar.
Aprecio tamanhos braços, capazes de estreitar uma criança a ponto de a fazer transbordar de amor e, ao mesmo tempo, de abraçar a mais grandiosa das causas.
Pasmo perante o conforto do seu colo, capaz de dar sossego e aconchego tanto ao petiz como ao avô, em doses que não necessita repartir porque de si brotam inesgotáveis.
Não é só uma mulher, nem uma mulher só. Jamais o será (embora ainda não o tenha compreendido).
Esta morena de rabo empinado nunca perde a compostura.
Treme, vacila, morde o lábio inferior e enche os olhos de lágrimas por cair, deixando escapar apenas um "que chatice!".
Não é resignação, é perseverança. Talvez aquela com que a terra vermelha da mãe África lhe impregnou os pulmões quando inspirou ar pela primeira vez na sua vida.
Mulher, amiga, amante e companheira.
Um dia irá abrir o guarda-fatos com o mesmo à vontade com que se faz à faina do dia-a-dia, enxotar todos os fantasmas que mantém guardados e deixar-se, tão simplesmente, continuar a aprender.
É assim esta minha morena serrana.
Passo aveludado escondendo um andar decidido.
Toda ela é determinação e espírito de sacrifício. A genética tem destas coisas. O universo, esse supremo ferreiro, deu ar à fornalha e forjou um estupendo ser humano, misto de serra beirã e de planície alentejana, capaz de fazer frente a qualquer intempérie com que a vida a confronte.
Curiosa e desconcertante é a sua insegurança. É uma menina gigante ou, quiçá, um gigante feito menina.
Prefere o recato às luzes da ribalta.
Em segredo, liberta-se. Em segredo desabrocha num furacão implacável, devorando medos e hesitações, num rumo imparável que é só seu mas que, querendo, se permite partilhar.
Aprecio tamanhos braços, capazes de estreitar uma criança a ponto de a fazer transbordar de amor e, ao mesmo tempo, de abraçar a mais grandiosa das causas.
Pasmo perante o conforto do seu colo, capaz de dar sossego e aconchego tanto ao petiz como ao avô, em doses que não necessita repartir porque de si brotam inesgotáveis.
Não é só uma mulher, nem uma mulher só. Jamais o será (embora ainda não o tenha compreendido).
Esta morena de rabo empinado nunca perde a compostura.
Treme, vacila, morde o lábio inferior e enche os olhos de lágrimas por cair, deixando escapar apenas um "que chatice!".
Não é resignação, é perseverança. Talvez aquela com que a terra vermelha da mãe África lhe impregnou os pulmões quando inspirou ar pela primeira vez na sua vida.
Mulher, amiga, amante e companheira.
Um dia irá abrir o guarda-fatos com o mesmo à vontade com que se faz à faina do dia-a-dia, enxotar todos os fantasmas que mantém guardados e deixar-se, tão simplesmente, continuar a aprender.
É assim esta minha morena serrana.
24 maio 2011
23 maio 2011
Grelhada primaveril
Vim ver o mar, intrometer-me entre a falésia e a água, caminhar sobre as arestas da duna que a maresia castigou, descobrir para que lado suspira o vento e deixar-me acariciar.
Fecho os olhos e o vento é agora as tuas mãos no meu rosto. Mãos que só assim são as tuas. Fossem elas reais e ser-me-iam já estranhas.
O dia vira-me a cara e eu faço-lhe o mesmo, mas apenas para encontrar os teus olhos e neles estampado o sol.
Não te rias de mim, dos meus vazios, das coisas que não compreendo.
Um dia procurarás em vão por mim a teu lado, numa cama despida de amor, sem outro aconchego que não a memória de um beijo tardio. A recordação de uma almofada feita berço de suspiros, esgares de prazer e juras de amor.
Não há qualquer regozijo. Apenas um laivo de intuição. São coisas que não se explicam... apenas se sentem, desprovidas de sentimento, de emoção, de quaisquer juízos de valor.
Uma brisa costeira arranca odores a pés rasteiros de rosmaninho e o ar ganha laivos de primavera marítima.
Uma raposa assome-se de focinho no ar, farejando o pólen.
As andorinhas tecem teias de elegância em contra-luz.
Um pica-pau, distante, martela um pinheiro, como alguém batendo à porta do meu desconcerto.
Desço a duna e enraízo os pés na areia grossa. Deito-me de costas e fico de olhar perdido no último dos azuis. Mas o apelo do mar é sempre mais forte. Em menos de nada estou dentro de água, nadando, sem rumo, sem pressa.
O tempo passa lenta mas imparavelmente, entre cada par de braçadas. Sinto-me arrefecer. Saio de dentro de água, arrepiado.
A luz desvanece-se. Alargo o passo, fugindo à noite.
Caminho fazendo a revisão do dia, a revisão da matéria dada. O que foi que aprendi hoje? Aflige-me pensar que a resposta é "nada".
Mas o que sei eu?
Muito sou, precisamente porque pouco sei.
É isso!
Nada como um pensamento reconfortante para justificar a impossibilidade de racionalizar. Mas ainda bem: a razão é falaciosa.
Revisitarei este assunto... a seu tempo. Não hoje, não agora, não na presença de um copo vazio.
Fecho os olhos e o vento é agora as tuas mãos no meu rosto. Mãos que só assim são as tuas. Fossem elas reais e ser-me-iam já estranhas.
O dia vira-me a cara e eu faço-lhe o mesmo, mas apenas para encontrar os teus olhos e neles estampado o sol.
Não te rias de mim, dos meus vazios, das coisas que não compreendo.
Um dia procurarás em vão por mim a teu lado, numa cama despida de amor, sem outro aconchego que não a memória de um beijo tardio. A recordação de uma almofada feita berço de suspiros, esgares de prazer e juras de amor.
Não há qualquer regozijo. Apenas um laivo de intuição. São coisas que não se explicam... apenas se sentem, desprovidas de sentimento, de emoção, de quaisquer juízos de valor.
Uma brisa costeira arranca odores a pés rasteiros de rosmaninho e o ar ganha laivos de primavera marítima.
Uma raposa assome-se de focinho no ar, farejando o pólen.
As andorinhas tecem teias de elegância em contra-luz.
Um pica-pau, distante, martela um pinheiro, como alguém batendo à porta do meu desconcerto.
Desço a duna e enraízo os pés na areia grossa. Deito-me de costas e fico de olhar perdido no último dos azuis. Mas o apelo do mar é sempre mais forte. Em menos de nada estou dentro de água, nadando, sem rumo, sem pressa.
O tempo passa lenta mas imparavelmente, entre cada par de braçadas. Sinto-me arrefecer. Saio de dentro de água, arrepiado.
A luz desvanece-se. Alargo o passo, fugindo à noite.
Caminho fazendo a revisão do dia, a revisão da matéria dada. O que foi que aprendi hoje? Aflige-me pensar que a resposta é "nada".
Mas o que sei eu?
Muito sou, precisamente porque pouco sei.
É isso!
Nada como um pensamento reconfortante para justificar a impossibilidade de racionalizar. Mas ainda bem: a razão é falaciosa.
Revisitarei este assunto... a seu tempo. Não hoje, não agora, não na presença de um copo vazio.
21 maio 2011
Resposta à partícula M
Prateadas como a luz do luar
Aos cardumes, aos magotes.
Rodopiam em uníssono
Abrindo espirais de luz
Numa dança irrepetível,
Abraçam o azul do mar,
Odaliscas de azul riscadas.
Tentação de Verão,
Espalham um aroma próprio.
Fervilhando, ariscas,
Incandescentes,
Crepitantes.
Arrepio de sal no lombo,
Rolando na brasa,
Encharcando uma fatia de broa,
Saciam a fome aos pobres.
Aquecem-nos o coração,
Riem-se no prato,
Iluminam-nos a mesa.
Refiro-me a quê?
Aos cardumes, aos magotes.
Rodopiam em uníssono
Abrindo espirais de luz
Numa dança irrepetível,
Abraçam o azul do mar,
Odaliscas de azul riscadas.
Tentação de Verão,
Espalham um aroma próprio.
Fervilhando, ariscas,
Incandescentes,
Crepitantes.
Arrepio de sal no lombo,
Rolando na brasa,
Encharcando uma fatia de broa,
Saciam a fome aos pobres.
Aquecem-nos o coração,
Riem-se no prato,
Iluminam-nos a mesa.
Refiro-me a quê?
18 maio 2011
Como o vento que sussurra entre as folhas de uma árvore.
A vizinha do lado vocifera. O marido (ou lá o que seja) responde em surdina.
Não me apetece esta agonia do desentendimento entre pessoas.
Bebi um copo de vinho. Apetece-me um ar que não o doméstico. O ar de casa é sempre aquele que o nosso próprio estado de espírito constrói. Nem puro nem nefasto. Ele há momentos em que a paleta da vida não nos quer oferecer outra cor senão o cinzento.
E a gritaria continua...
Melody Gardot no leitor de cds. Pode ser que a vibração de Love me like a river does ajude a refrear o conflito.
Vou para a porta das traseiras e acendo um bidi. Gosto deste desafio de manter incandescentes os laivos de tabaco enrolados em folha de diospireiro.
Eu e a minha partícula M estivémos a trocar galhardetes no FB. Esta mulher, não tendo o condão da omnipresença, surge-me sempre disparada, sabe-se lá vinda de onde e através de que mistérios, nos momentos em que me faz falta uma laracha.
É bonita a sensação de cumplicidade que desenvolvemos com certas pessoas. Tenho para mim que um legítimo propósito na vida poderia muito bem ser o de conseguir semelhante estado de alma relativamente a todas as pessoas que cruzam a nossa existência terrena.
Hoje à tarde sentei-me numa cadeira com um pedaço de papel colado nas costas, com os seguintes dizeres: Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Melhor Mestre em Museologia / 2010.
Celebrou-se o 33º aniversário da FCSH da UNL, assinaram-se protocolos, discursaram Secretário de Estado, Reitor, Director...
Perdi-me numa abstracção total. Na minha mente desfilaram em silêncio professores e colegas de mestrado. Não tenho a menor dúvida de que aquele diploma de Mestrado que recebi é deles também. Desprezo lugares-comuns. Nem faria qualquer sentido. Neste momento estou aqui a escrever de mim para mim.
Teria eu alcançado com tanto empenhamento e tamanho prazer a meta que tracei? De certeza que não! As pessoas passam por nós e nós por elas. O ser humano é duma permeabilidade extrema. E ainda bem que assim é. Bebemos dos outros enquanto, simultaneamente, nos damos a beber.
Escrevi algures que é no solo da partilha que melhor germinam as sementes do conhecimento.
É indelével a amizade, a troca de vivências sociais, culturais e académicas que experimentei, sobretudo durante o ano curricular do curso. Alguns ficaram, compagnons de route, outros seguiram os seus caminhos sem se terem demorado mais do que aquilo que cada um de nós achou necessário.
Por muito que um dia julgue tê-los esquecido, haverá sempre algo deles em mim, algo que transcende o nosso entendimento imediato das coisas. Uma carícia que não se vê mas que se sente, tal como o vento que sussurra entre as folhas de uma árvore.
Não me apetece esta agonia do desentendimento entre pessoas.
Bebi um copo de vinho. Apetece-me um ar que não o doméstico. O ar de casa é sempre aquele que o nosso próprio estado de espírito constrói. Nem puro nem nefasto. Ele há momentos em que a paleta da vida não nos quer oferecer outra cor senão o cinzento.
E a gritaria continua...
Melody Gardot no leitor de cds. Pode ser que a vibração de Love me like a river does ajude a refrear o conflito.
Vou para a porta das traseiras e acendo um bidi. Gosto deste desafio de manter incandescentes os laivos de tabaco enrolados em folha de diospireiro.
Eu e a minha partícula M estivémos a trocar galhardetes no FB. Esta mulher, não tendo o condão da omnipresença, surge-me sempre disparada, sabe-se lá vinda de onde e através de que mistérios, nos momentos em que me faz falta uma laracha.
É bonita a sensação de cumplicidade que desenvolvemos com certas pessoas. Tenho para mim que um legítimo propósito na vida poderia muito bem ser o de conseguir semelhante estado de alma relativamente a todas as pessoas que cruzam a nossa existência terrena.
Hoje à tarde sentei-me numa cadeira com um pedaço de papel colado nas costas, com os seguintes dizeres: Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Melhor Mestre em Museologia / 2010.
Celebrou-se o 33º aniversário da FCSH da UNL, assinaram-se protocolos, discursaram Secretário de Estado, Reitor, Director...
Perdi-me numa abstracção total. Na minha mente desfilaram em silêncio professores e colegas de mestrado. Não tenho a menor dúvida de que aquele diploma de Mestrado que recebi é deles também. Desprezo lugares-comuns. Nem faria qualquer sentido. Neste momento estou aqui a escrever de mim para mim.
Teria eu alcançado com tanto empenhamento e tamanho prazer a meta que tracei? De certeza que não! As pessoas passam por nós e nós por elas. O ser humano é duma permeabilidade extrema. E ainda bem que assim é. Bebemos dos outros enquanto, simultaneamente, nos damos a beber.
Escrevi algures que é no solo da partilha que melhor germinam as sementes do conhecimento.
É indelével a amizade, a troca de vivências sociais, culturais e académicas que experimentei, sobretudo durante o ano curricular do curso. Alguns ficaram, compagnons de route, outros seguiram os seus caminhos sem se terem demorado mais do que aquilo que cada um de nós achou necessário.
Por muito que um dia julgue tê-los esquecido, haverá sempre algo deles em mim, algo que transcende o nosso entendimento imediato das coisas. Uma carícia que não se vê mas que se sente, tal como o vento que sussurra entre as folhas de uma árvore.
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