23 maio 2011

Grelhada primaveril

Vim ver o mar, intrometer-me entre a falésia e a água, caminhar sobre as arestas da duna que a maresia castigou, descobrir para que lado suspira o vento e deixar-me acariciar.
Fecho os olhos e o vento é agora as tuas mãos no meu rosto. Mãos que só assim são as tuas. Fossem elas reais e ser-me-iam já estranhas.
O dia vira-me a cara e eu faço-lhe o mesmo, mas apenas para encontrar os teus olhos e neles estampado o sol.
Não te rias de mim, dos meus vazios, das coisas que não compreendo.
Um dia procurarás em vão por mim a teu lado, numa cama despida de amor, sem outro aconchego que não a memória de um beijo tardio. A recordação de uma almofada feita berço de suspiros, esgares de prazer e juras de amor.
Não há qualquer regozijo. Apenas um laivo de intuição. São coisas que não se explicam... apenas se sentem, desprovidas de sentimento, de emoção, de quaisquer juízos de valor.
Uma brisa costeira arranca odores a pés rasteiros de rosmaninho e o ar ganha laivos de primavera marítima.
Uma raposa assome-se de focinho no ar, farejando o pólen.
As andorinhas tecem teias de elegância em contra-luz.
Um pica-pau, distante, martela um pinheiro, como alguém batendo à porta do meu desconcerto.
Desço a duna e enraízo os pés na areia grossa. Deito-me de costas e fico de olhar perdido no último dos azuis. Mas o apelo do mar é sempre mais forte. Em menos de nada estou dentro de água, nadando, sem rumo, sem pressa.
O tempo passa lenta mas imparavelmente, entre cada par de braçadas. Sinto-me arrefecer. Saio de dentro de água, arrepiado.
A luz desvanece-se. Alargo o passo, fugindo à noite.
Caminho fazendo a revisão do dia, a revisão da matéria dada. O que foi que aprendi hoje? Aflige-me pensar que a resposta é "nada".
Mas o que sei eu?
Muito sou, precisamente porque pouco sei.
É isso!
Nada como um pensamento reconfortante para justificar a impossibilidade de racionalizar. Mas ainda bem: a razão é falaciosa.
Revisitarei este assunto... a seu tempo.  Não hoje, não agora, não na presença de um copo vazio.

1 comentário:

Unknown disse...

Nem tudo na vida, tem respostas na altura que desejamos.
Acredito até,que não nos serão dadas respostas a muitas perguntas.
Vá-se lá, saber porquê!
Resignar, faz parte da nossa aceitação.
Um dia também eu, tal como tu, me questionei sobre tanta coisa e as respostas sem virem.
Deixei de o fazer há pouco tempo.
E acredita que me sinto muito melhor assim.
Porquê? Porque sim, agora basta-me!
Sem explicações...pensarás!
Sem explicações...porque deixei de perguntar, dir-te-ei!

Beijo de alma para alma!

P.S. - Muda o título do post, para grelhada mista de Verão, e vais ver que não há respostas, simplesmente porque não há preguntas!

 

is where my documents live!