18 maio 2011

Como o vento que sussurra entre as folhas de uma árvore.

A vizinha do lado vocifera. O marido (ou lá o que seja) responde em surdina.
Não me apetece esta agonia do desentendimento entre pessoas.
Bebi um copo de vinho. Apetece-me um ar que não o doméstico. O ar de casa é sempre aquele que o nosso próprio estado de espírito constrói. Nem puro nem nefasto. Ele há momentos em que a paleta da vida não nos quer oferecer outra cor senão o cinzento.
E a gritaria continua...
Melody Gardot no leitor de cds. Pode ser que a vibração de Love me like a river does ajude a refrear o conflito.
Vou para a porta das traseiras e acendo um bidi. Gosto deste desafio de manter incandescentes os laivos de tabaco enrolados em folha de diospireiro.
Eu e a minha partícula M estivémos a trocar galhardetes no FB. Esta mulher, não tendo o condão da omnipresença, surge-me sempre disparada, sabe-se lá vinda de onde e através de que mistérios, nos momentos em que me faz falta uma laracha.
É bonita a sensação de cumplicidade que desenvolvemos com certas pessoas. Tenho para mim que um legítimo propósito na vida poderia muito bem ser o de conseguir semelhante estado de alma relativamente a todas as pessoas que cruzam a nossa existência terrena.
Hoje à tarde sentei-me numa cadeira com um pedaço de papel colado nas costas, com os seguintes dizeres: Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Melhor Mestre em Museologia / 2010.
Celebrou-se o 33º aniversário da FCSH da UNL, assinaram-se protocolos, discursaram Secretário de Estado, Reitor, Director...
Perdi-me numa abstracção total. Na minha mente desfilaram em silêncio professores e colegas de mestrado. Não tenho a menor dúvida de que aquele diploma de Mestrado que recebi é deles também. Desprezo lugares-comuns. Nem faria qualquer sentido. Neste momento estou aqui a escrever de mim para mim.
Teria eu alcançado com tanto empenhamento e tamanho prazer a meta que tracei? De certeza que não! As pessoas passam por nós e nós por elas. O ser humano é duma permeabilidade extrema. E ainda bem que assim é. Bebemos dos outros enquanto, simultaneamente, nos damos a beber.
Escrevi algures que é no solo da partilha que melhor germinam as sementes do conhecimento.
É indelével a amizade, a troca de vivências sociais, culturais e académicas que experimentei, sobretudo durante o ano curricular do curso. Alguns ficaram, compagnons de route, outros seguiram os seus caminhos sem se terem demorado mais do que aquilo que cada um de nós achou necessário.
Por muito que um dia julgue tê-los esquecido, haverá sempre algo deles em mim, algo que transcende o nosso entendimento imediato das coisas. Uma carícia que não se vê mas que se sente, tal como o vento que sussurra entre as folhas de uma árvore.

2 comentários:

Unknown disse...

As saudades que tinha de te ler...onde andas perdido que tenho que ser eu a empurrar-te para algo que é teu ...tão teu!
Espelhas a alma em cada palavra. Recusas ficar com os louros só para ti...distribuis sempre! Até o Melhor Mestre , não te permites saborear sozinho! Partilhar faz parte de ti, como faz o ar que respiras.
E sem te chamar tu vens ... e sem me chamares ... Eu estou!

Beijas da Lua
E sim ...há cumplicidades que não se explicam, talvez seja "muitas vidas...muitos mestres"!
E quando a partícula M, está em sufoco, lá surge de repente uma chamada no telefone. De quem ? da partícula Z...claro está!
Será isto o chamamento de almas de que tanto falam??
Pois... não sei ! Só sei que te gosto muito partícula!

Anónimo disse...

Muito bonito!
Beijos Grandes e Xi-Corações (Muitos)

Mana Irene

 

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