15 julho 2011

Mesmo com as mãos tremendo e a alma partida

Não te mereço, Maria Ermengarda!
Eu sei que não devia beber tanto vinho branco. Ainda por cima daqueles que ostentam o rótulo de "boa escolha". Eu já estou farto de saber que o critério de "boa escolha" é sinónimo de três quartos do caminho para um estado absolutamente etilizado.
Dá-me de beber, Maria Ermengarda. Mas desta feita vai ao piporro. Enche-me o copo daquele tinto que marca a pedra mármore do balcão do taberneiro assim com como tu me marcas o granito da lápide.
Não chores sobre a minha sepultura. Não é coi, cova ou última morada. É um cantinho quente, de frente para o oceano. É o aconchego de alguém a quem Deus apareceu em sonhos e disse:
- Meu filho: o teu destino é o de andar pelo mundo a espalhar amor.
Faz luto, Maria Ermengarda. Mas não desses lutos do Estado-Novo. Xailes negros e carpideiras.
Veste aquele teu vestido de lascívia negra e desce em espiral pelo varão da minha memória.
Deita-te sobre a pedra fria como se fora o meu corpo quente. Delicia-te com os laivos do final de dia feitos esgares de prazer.
Traz-me mais um copo desse tinto indecoroso. Vai célere Maria Ermengarda que se me escoa a inspiração.
Não sei como, não sei por que artes. Sei que hoje vou fazer amor contigo.
É vertiginoso o desejo, inevitável o desfecho. Ai Maria Ermengarda, que não me tenho!
Anda cá e segura-me pois entro em queda livre. Agarra-me pela lapela desta jaqueta cansada. Prega-me um beijo nos lábios e diz que, apesar de todos os meus inconfessáveis defeitos, me queres, me amas.
Andai ligeiro Maria Ermengarda que se me esvai também o tinto.
Não te mereço Maria, quanto mais a ti, que és Maria Ermengarda.
Querer-te é querer demais.
Dá-me luz, mulher. Dá-me a certeza de ser. Faz-me real, faz-me existir, caminhar sobre as águas, ser senhor de mim mesmo.


3 comentários:

ANALUZ disse...

um sentir que se sentiu profundamente verdadeiro que saiu da alma quando se estava "embriagado", e quando por isso, somos o mais sinceros que alguma vez lúcidos fomos!

um dos dos textos e escritos que mais gostei de ler, porque senti que era sincero apesar de ser extremamente invejante ... o de sentir ser amada assim

Anónimo disse...

Escolher um vinho passa por um andar de trás para a frente, entre corredores de tinto, branco, verde ou rosé! “Escolher”, em palavra "desmontada", pode dividir-se em "es" e "colher". À primeira divisão acrescento-lhe " ´ ", para conseguir um…"és" o amor de Maria Ermengarda. E a segunda? Pode ser mesmo uma “colher”, que todos os dias lhe dá de um beber delicioso dessa boca “encrespada” de um vinho branco rotulado de “boa escolha”, ou então, de um “colher” em jeito de “apanhar” cachos de uvas a terminar num piporro de um vinho tinto, que deixa marca de um amor no coração de Maria Ermengarda! Tão feliz que é essa tua Maria Ermengarda! Pede-lhe muitos beijos e ela irá dizer muitas vezes sem se cansar, amo-te muito meu amor!

Alana

Unknown disse...

Um vinho com sabor a néctar de Amor!

Beija nesse coração de ouro!

 

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