Final de tarde num dos terraços do ISCTE.
A luz que se esvai quase sem disso darmos conta; a brisa invernal que surge repentinamente; os aviões a voar baixo em aproximação ao seu destino; o frio, que sem contemplações nos sobe pelas pernas... tudo a lembrar os dias de uma certa "pandilha da museologia" em Berlim.
Berlim, a ilha dos museus, metrópole indescritível.
Não é falta de vontade. É o reconhecimento da minha incapacidade para o fazer. Já no decurso da nossa estadia, ao consultar alguns dos diferentes guias que entre nós levávamos, achei que, na esmagadora maioria dos casos, não havia texto que, por mais eloquente, colorido e desenhado para turista, fizesse jus à cidade.
Berlim é uma deliciosa salada arquitectónica, uma colmeia de gente diversa que nos transmite diferentes sensações, um misto de ambientes que nos traz, aqui e ali, em diferentes tempos da história.
Berlim é esse paradoxo: o dos museus que pretendem juntar diferentes tempos num só lugar, e o de uma cidade que encerra diferentes identidades espaciais num único momento temporal.
Os dias foram preenchidos por museus até à exaustão das nossas pernas que, a princípio, haviam jurado ser capazes de suportar tamanha maratona. Mentirosas!
Impelidos por aquela voracidade de conhecimento própria de quem gosta verdadeiramente de uma determinada coisa, pulverizámo-nos por Berlim em função das preferências temáticas de cada um, juntando-nos para visitar conjuntamente aquilo de que gostávamos em comum.
Se os dias foram maravilhosos, as noites não lhes ficaram a dever rigorosamente nada.
Incursões à gastronomia tradicional alemã, antecedidas pela abertura das hostilidades na primeira cervejaria onde nos cheirasse a Weißbier (cerveja de trigo). Notem que o "tuga" é capaz de desenvolver um faro de perdigueiro num muito curto espaço de tempo.
Os finais de dia com incursões ao bas-fond berlinense, foram experiências a raiar a alucinação.
Jornada de imensa aprendizagem (tirei cerca de mil e setecentas fotos), de exercício de uma amizade sentida que, felizmente, perdura ainda entre alguns de nós.
Como lembranças maiores ficam:
- Uma noitada passada na rua com -13 graus, na companhia da Estela, porque, descobrimos tarde demais, o bloco de apartamentos onde estávamos alojados não tinha painel de campainhas e os colegas tinham os telemóveis desligados;
- Uma visita ao Reichstag, (parlamento alemão), depois de nos termos abastecido no supermercado. Foi um festival de gargalhada geral ao passar na segurança, com os enlatados e as litradas de cerveja a desfilar nos monitores da polícia como top models em Paris.
Assim foram os dias de Berlim.
Hoje, levanto os olhos do caderno e é já noite em Lisboa.
19 dezembro 2011
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2 comentários:
A recordação desses dias (e outros), que marcam a nossa vida, trazem aquela ruga de expressão a que chamamos sorriso. Mesmo quando é noite em Lisboa.
Houve momentos em que te li, que ouvi as tuas gargalhadas.
Adoro-te!
Beijas
Às vezes fico a pensar no que será a saudade...Parece ser um pedaço de madeira a flutuar, que já foi outra coisa qualquer e que continua a querer ser... É bom recordar momentos que nos revitalizam, que despertam sorrisos e nos devolvem sensações!
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