Elegia ao Companheiro Morto
Meu companheiro morreu às cinco da manhã
Foi de noite ao fim da noite às cinco em ponto da manhã
Ah antes fosse noite noite apenas noite
sem a promessa da manhã
Ah antes fosse noite noite noite apenas noite
e não houvesse em tudo a promessa da manhã
Deitado para sempre às cinco da manhã
Agora que sabia olhar os homens com força
e ver nas sombras que até aí não via a promessa risonha da manhã
Mas quem se vai interessar amigos quem
por quem só tem o sonho da manhã?
E uma vez de noite ao fim da noite mesmo ao cabo da noite
meu companheiro ficou deitado para sempre
e com a boca cerrada para sempre
e com os olhos fechados para sempre
e com as mãos cruzadas para sempre
imóvel e calado para sempre
E era quase manhã
E era quase amanhã
Mário Dionísio
17 novembro 2006
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