31 março 2010

Páscoa

- Pai, o que é a Páscoa?
- Ora, Páscoa é ...... bem... é uma festa religiosa!
- Igual ao Natal ?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se
o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me
engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Maria, vem cá!
- Sim?
- Explica lá ao puto o que é ressurreição
para eu poder ler o meu jornal descansado.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a
viver após ter morrido. Foi o que aconteceu
com Jesus, três dias depois de ter sido
crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus.
Entendido?
- Mais ou menos ... Mãe, Jesus era um coelho?
- Que parvoíce é essa? Estás-te a passar!
Coelho? Jesus Cristo é o Pai do Céu! Nem parece
que foste baptizado! Jorge, este menino não pode
crescer assim, sem ir à missa pelo menos aos
domingos. Até parece que não lhe demos uma
educação cristã! Já pensaste se ele diz uma
asneira destas na escola? Deus me perdoe!
Amanhã vou matricular esta criança na catequese!
- Mãe, mas o Pai do Céu não é Deus?
- É filho! Jesus e Deus são a mesma coisa.
Vais estudar isso na catequese. É a Trindade.
Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Fátima?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que na Trindade fica o Espírito Santo?
- Não é o Banco Espírito Santo que fica na
Trindade, meu filho. É o Espírito Santo de Deus.
É uma coisa muito complicada, nem a mãe entende
muito bem, para falar a verdade nem ninguém,
nem quem inventou esta asneira a compreende.
Mas se perguntares à catequista ela explica
muito bem!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- (Aos gritos no meio da casa) Eu sei lá! É uma
tradição. É igual ao Pai Natal, só que em vez de
presentes, ele traz ovinhos.
- O coelho põe ovos?
- Chega! Deixa-me ir fazer o almoço que eu
não aguento mais!
- Pai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era, era melhor, ou então peru .
- Pai, Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro,
não é? Em que dia é que ele morreu?
- Isso eu sei: na sexta-feira santa.
- Que dia e que mês?
- Gaita!!!! Sabes que eu nunca pensei nisso?
Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira
santa e ressuscitou três dias depois, no sábado
de aleluia.
- Um dia depois portanto!
- (Aos berros) Não, filho - três dias!
- Então morreu na quarta-feira.
- Não! Morreu na sexta-feira santa... ou
terá sido na quarta-feira de cinzas? Ouve, já
me baralhaste todo! Morreu na sexta-feira e
ressuscitou no sábado, três dias depois!
- Como!?!? Como!?!?
- Pergunta à tua professora da catequese!
- Pai, então por que amarraram um monte
de bonecos de pano na rua?
- É que hoje é sábado de aleluia, e a aldeia
vai fingir que vai bater em Judas. Judas foi o
apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
- Então por que eles não lhe batem no dia certo?
- É, boa pergunta.
- Pai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite que o
nome dele tinha no apelido Coelho. Só assim
esta coisa do coelho da Páscoa faz sentido,
não achas?
- Coitada!
- Coitada de quem?
- Da tua professora da catequese !!!

Sons



Sade
Soldier of Love

30 março 2010

Marguerita

Não fossem os óbices decorrentes do acto de imobilizar o carro no meio da estrada e hoje teria parado, aberto as janelas, reclinado o banco para trás e ficado a apreciar a vista e o momento.
A estrada serpenteia por entre a arriba fóssil. Na descida em causa, o mar e a linha de horizonte ficam confinados entre o vermelho da duna consolidada e o pardo das areias soltas, tendo o céu como única fuga possível, numa espécie de pirâmide invertida a lembrar um copo de marguerita.
Beberia o momento e o efeito não seria menos inebriante.

29 março 2010

Sons



Renee Olstead
Is You Is Or Is You Ain't My Baby

Versão infantil

Doca de Belém

Sete horas da manhã.
Alvorecer cinzento, nuvens baixas apressadas por um vento gélido.
A ponte fervilha de pequenos pontos em movimento.
Um cacilheiro vence, a custo, um Tejo que fervilha, como que a querer entrar em ebulição.
Na doca, o desacerto do movimento dos mastros pauta-se por um aceno de sentido único que me diz: não!
A hora mudou este fim-de-semana (porque não mudei eu?). É por isso que ainda está tão escuro (e assim estou também eu).
Como num sonho confuso, gaivotas cruzam os ares em rumos de secretos propósitos ou, porventura, voando apenas porque existem para o fazer, porque é essa a sua natureza.
Será que tudo na vida tem mesmo que obedecer a um plano pré determinado?
Não existe lugar para coincidências?
Tanto racionalismo esmaga-me!
Um dia decido concretizar algumas (senão todas) das coisas que, tenho a certeza, me iriam dar um gozo quase (senão mesmo) animal. Coisas que não fiz porque o bom-senso e a urbanidade assim o determinam. Coisas que fogem à norma, à Lei e a todas as regras que, muitas vezes estupidamente, formatam e castram a nossa existência.
Fico-me por aqui.
Como diz a sabedoria popular: "Cão que ladra não morde!"... e este ladrar já vai longo!

26 março 2010

Leituras

Lemos, relemos... e não gostámos!
O Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati, 1940.
(1ª Ed., 2ª Imp. - Cavalo de Ferro Editores, Lda., 2006).
Este romance foi considerado "melhor livro do ano - 2005" pelo Público/Mil Folhas; Expresso/Actual; Revista Sábado; e Revista Visão.
O denominador comum para tamanhos elogios é a existência de uma metáfora "ambígua e aberta", que, supostamente, suscita questões existenciais, permitindo ao leitor rever a sua própria experiência de vida na de um jovem Oficial italiano que exaure toda a sua existência à espera de um inimigo que não chega e na contemplação de um deserto longamente inconsequente.
Percebemos os dilemas e as resignações que se colocam de forma permanente ao principal personagem da obra mas não nos conseguimos rever em tal experiência de vida.
A nossa existência é mais cheia de desacertos do que de resignações.

Deu um filme (Vd. aqui).

25 março 2010

Sons e algo mais...



To the soul's desires
The body listens
What the flesh requires
Keeps the heart imprisoned

What the spirit seeks
The mind will follow
When the body speaks
All else is hollow

I'm just an angel
Driving blindly
Through this world

I'm just a slave here
At the mercy
Of a girl

Oh I need your tenderness
Oh I need your touch
Oh I dream of one caress
Oh I pray too much

To the soul's desires
The body listens
What the flesh requires
Keeps the heart imprisoned

What the spirit seeks
The mind will follow
When the body speaks
All else is hollow

You keep me waiting
For the promise
That is mine

Please stop debating
Please stop wasting
Your time

Oh I need your tenderness
Oh I need your touch
Oh I dream of one caress
Oh I pray too much

Depeche Mode
When the body speaks

24 março 2010

Do programa cinematográfico de ontem

Muito bom: o documentário Portugueses nas trincheiras, de António Louçã e Sofia Leite (RTP - 2008).

Muito mau: O filme O Adeus às Armas, de Frank Borzage (1932). Embora o filme estivesse (mal) legendado, ter que gramar a Helen Haye e o Gary Cooper dobrados em Castelhano foi um castigo verdadeiramente dispensável.
É certo que o argumento do filme se baseia na obra homónima de Ernest Hemingway (A Farewell to Arms) que viveu muitos anos em Cuba. Mas não era preciso exagerar.
;-)

22 março 2010

A não perder

Se vivem perto de Lisboa sugiro-vos dois eventos a não perder:

Exposição e ciclo de cinema e debate Portugal nas Trincheiras - A I Guerra da República.

Programa completo

A exposição, propriamente dita, está patente ao público até 23 de Abril, 3ª-5ª, Dom: 10h00-18h00; 6ª-Sab: 10h00-24h00, no Antigo Picadeiro do Colégio dos Nobres - Museus da Politécnica (Rua da Escola Politécnica, junto aos museus da Ciência e Nacional de História Natural).
Ciclo de cinema e debate no Cinema São Jorge, 22 a 24 de Março.




Foto de Arnaldo Garcez


Graças ao apoio do Exército, da Liga dos Combatentes e de dezenas de particulares que se associaram a esta iniciativa, foi possível reunir um conjunto muito significativo de peças e documentos relativos à presença das tropas portuguesas na frente de guerra europeia. Desde a partida das tropas para a Flandres - em Fevereiro de 1917 -, até à evocação da memória da Guerra através da Arte, a exposição mostrará a preparação das tropas; a forma de fazer a guerra; o quotidiano dos soldados; a Saúde em contexto de guerra; o que foi a Batalha de La Lys; o papel dos Presidentes da República Portuguesa no conflito e como acabou a guerra, em Novembro de 1918, e se chegou ao Tratado de Versalhes de 1919.
Entre os objectos expostos está um pequeno diário de guerra de um soldado oriundo de uma aldeia da Beira Alta contará a experiência da Grande Guerra na 1ª pessoa e em português. Outros documentos, como correspondência enviada pelos soldados para Portugal, peças do quotidiano, como marmitas, colheres e objectos artísticos elaborados pelos soldados a partir de munições, ou objectos menos
agradáveis, mas com igual importância histórica, como instrumentos cirúrgicos utilizados pelos médicos do CEP, permitirão ao visitante fazer uma autêntica viagem no tempo. Essa viagem será acompanhada, a par e passo, pela imagem - fotografia e filme -, permitindo evocar o Combatente "anónimo", mas também aquele cujo nome está hoje associado a outros contextos, esquecida que foi a sua condição de combatente da I Guerra Mundial. Serão, assim, entre outros, evocadas as memórias associadas à Grande Guerra de Jaime Cortesão, Anastácio Gonçalves e Hernâni Cidade.

...x...

Exposição Diary Drawings - Mental Illness and Me.

Obras da artista inglesa Bobby Baker.

Fundação Calouste Gulbenkian - Edifício Sede - Zona de Congressos.

Mais informação e imagens a partir daqui.

Divirtam-se com estas (avisamos desde já) poderosíssimas experiências.

Resolução do dia...

Tempo de apanhar os cacos, lamber as feridas e seguir em frente porque

21 março 2010

O velho Nicolau

Hoje estava um bocadinho mais animado e o meu dono deitou-me no alpendre enquanto tratava dos bonsais.
Já não consigo ir ao portão da rua ladrar à canzoada que passa, como fazem o Chaca e a Luca, mas enfim... Estou velhote. Perseguir bicicletas já não é para mim!


18 março 2010

Sons



Etta James - I'd Rather Go Blind

Chamem-lhe Oldies, chamem-lhe o que quiserem. Mas hoje já não se "ouve" tanto sentimento, tanta alma, numa canção.

Aliás, Etta James é, para mim, um must have da soul music.

E se a vida pudesse ser uma torrada aparada?

Li algures que homem que é homem come a côdea do pão mesmo que depois sorria sem dentes. Mas não seria tudo bem mais fácil se a vida fosse uma torrada aparada? Tudo macio e gostoso?
O meu Nicolau, velhote de quatro patas, já há três dias que não se tem nelas. Embora não esteja incontinente não consegue locomover-se, pelo que fica deitado numa poça de urina e fezes. Há que lavá-lo e secá-lo, depois de o encostar a uma qualquer parede, como se fora uma bicicleta.
Bebe da mangueira e, até ontem, comia da minha mão.
É um animal que tem tido uma vida repleta de problemas de saúde não congénitos. Não tem tido muita sorte nesse capítulo.
Em consequência de uma dessas situações, em que espetou uma silva na vista esquerda, perfurou a córnea e desenvolveu um glaucoma. Foi necessário extrair-lhe o olho. Foram tantas as peripécias que, por vezes e carinhosamente, me referia a ele como o meu robodog.
O Nicolau tem treze anos e meio. No final do ano passado tive de eutanasiar a Tara, com doze anos. Cancro no útero e, posteriormente, por todo o lado. Também os animais são merecedores de uma vida com um mínimo de qualidade.
Restam-me o Chaka e a Luca com, respectivamente, doze e seis anos.
Provavelmente, este irmão não durará muitos mais dias. Lá terá que seguir a luz e esperar por outra fase da sua existência.
E é assim a vida: esperando por um pouco de miolo. Começamos a ficar embaçados com tanta côdea!!!

16 março 2010

Roscas


Ora tomem lá um post vernacular para não se queixarem da minha ausência. Ao menos vão-se rindo (enquanto a vontade não se me volta...).

08 março 2010

Ai a fominha que vem por aí...



Os novos pobres

A crise quando chega toca a todos, e eu já não sei se hei-de ter pena dos milhares de homens e mulheres que, por esse país, fora, todos os dias ficam sem emprego se dos infelizes gestores do BCP que, por iniciativa de alguns accionistas, poderão vir a ter o seu ganha-pão drasticamente reduzido em 50%, ou mesmo a ver extintos os por assim dizer postos de trabalho.
A triste notícia vem no DN: o presidente do Conselho Geral e de Supervisão daquele banco arrisca-se a deixar de cobrar 90 000 euros por cada reunião a que se digna estar presente e passar a receber só 45 000; por sua vez, o vice-presidente, que ganha 290 000 anuais, poderá ter que contentar-se com 145 000; e os nove vogais verão o seu salário de miséria (150 000 euros, fora as alcavalas) reduzido a 25% do do presidente. Ou seja, o BCP prepara-se para gerar 11 novos pobres, atirando ainda para o desemprego com um número indeterminado de membros do seu distinto Conselho Superior. Aconselha a prudência que o Banco Alimentar contra a Fome comece a reforçar os "stocks" de caviar e Veuve Clicquot, pois esta gente está habituada a comer bem.

07 março 2010

Sons



Pensavam que me tinha esquecido dos sons de fim-de-semana? Nops!

Mais velhos

Cumprimos ontem mais um aniversário.
Hoje acordámos cheios de vontade de estabelecer novas determinações de vida.
A primeira delas já está ao lume: uma massada de garoupa.

Bon appétit!

05 março 2010

Acessibilidades na Broadway.


Arts
ArtsBeat: Making Broadway Accessible for the Disabled
By ERIK PIEPENBURG
Published: March 2, 2010

A Q. & A. about the Theater Development Fund's Accessibility Program, which offers services to disabled theatergoers.

Gotas de água numa tarde de Verão

Foi assim, num piscar de olhos, que te vi pela primeira vez.
Estávamos no final de uma tarde sensaborona, uma tarde como tantas outras não fora o vislumbre da tua pessoa.
Combatias a calçada à força de mangueira num afã compenetrado. Desta feita era Dulcineia quem investia contra os gigantes feitos paralelepípedos, os quais, ainda que constrangidos pela imobilidade, ripostavam freneticamente, devolvendo cascatas de água que te molhavam o fato de treino.
A batalha continuou, acesa. À brancura da pedra sucedia-se o negrume do algodão encharcado. Onde outrora apenas se deixava adivinhar um par de seios firmes acrescentavam-se agora dois mamilos decididos.
O teu corpo, encharcado, era coroado por uma cara impenetrável. Olhar enigmático, penteado desalinhado...
Os teus pés teimavam em escorregar nas chinelas de borracha, merecendo, de quando em quando, sérias reprimendas. Inaudíveis, à distância a que me encontrava de ti, mas que me fizeram rir... primeiro de ti... depois para ti.
Não me viste... nem foi preciso.
Os laivos de vermelho e violeta que riscavam o céu, anunciavam não apenas mais um crepúsculo estival, mas também que, num dia não muito distante, seriamos um do outro.

Visitante nº 100.000

Então afinal de contas a quem é que eu tenho que entregar as latas de atum e de feijão-frade???

03 março 2010

Leituras

O Ministério da Cultura resolveu criar uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura a pretexto de que lidar touros seria uma tradição cultural portuguesa a preservar. Mas a tradição é mais antiga, do tempo em que humanos e animais lutavam na arena para excitar os nervos da multidão com o sangue e a morte anunciada. A piedade, que é um valor mais antigo do que Cristo, veio, na sua interpretação cristã, salvar disto os humanos. Esqueceu-se, porém, dos animais.

Há um momento nas touradas em que o touro, muito ferido já pelas bandarilhas, o sangue a escorrer, cansado pelos cavalos e as capas, titubeia e parece ir desistir. Afasta-se para as tábuas. Cheira o céu. Vêm os homens e incitam-no. A multidão agita-se e delira com o sangue. O touro sabe que vai morrer. Só os imbecis podem pensar que os animais não sabem. Os empregados dos matadouros, profissionais da sensibilidade embaciada, conhecem o momento em que os animais "cheiram" a morte iminente. Por desespero, coragem ou raiva (não é o mesmo?), o touro arremete pela última vez. Em Espanha morre. Aqui, neste país de maricas, é levado lá para fora para, como é que se diz? ah sim: ser abatido. A multidão retira-se humanamente, portuguesmente, de barriga cheia de cultura portuguesa, na tradição milenar à qual nenhuma piedade chegou.

Os toureiros têm pose que se fartam (e com a qual fartam toda a gente). Pose de hombre, pose de macho. Mas os riscos que de facto correm são infinitamente menores que a sorte que inevitavelmente espera os touros, que o sofrimento e a desorientação que infligem aos touros para o seu próprio prazer e o da multidão. Dá vontade de dizer que quem se porta assim, quem mostra orgulho de se portar assim, tem entre as pernas, e não apenas literalmente, órgãos bem mais pequenos que aqueles que os touros exibem. Os toureiros são corajosos mas entram na arena sabendo que haverá sempre quem os safe, senão à primeira colhida, então à segunda. Às vezes aleijam-se a sério e às vezes morrem, o que talvez prove que os deuses da Antiguidade são justos, vingativos e amigos de todos os animais por igual. Os touros, esses, não têm ninguém que os vá safar em situação de risco, estão absolutamente sós perante a morte. Querem os toureiros ser hombres até ao fim? Experimentem ser tão homens como eram os homens e os animais na Antiguidade: se ficarem no chão, fiquem no chão. Morram na arena. É cultura. A senhora ministra da Cultura certamente compensará tão antigo costume.

Também era da tradição, em Portugal por exemplo, executar em público os condenados, bater nas mulheres, escravizar pessoas. Foi assim durante milénios. Ninguém via mal nenhum nisso a não ser, confusamente, com dúvidas, as próprias vítimas. Até que a piedade, na sua interpretação moderna e laica, acabou com tão veneráveis tradições.

Que será preciso para acabar com a tradição da tourada? Que sobressalto do coração será necessário para despertar em nós a piedade pelos animais?

Paulo Varela Gomes (Historiador)
In "Cartas do Interior", Público, 27.02.2010.

02 março 2010

Sons

Agora que se fala tanto em controlo da informação...



Versão acústica aqui

01 março 2010

Equívocos

A vida tem...
Ah pois tem!

A vida tem destas...
Destas e doutras!

A vida tem destas coisas...
Era isto que eu queria escrever!

Existem encontros que estão condenados a resultar em desencontros; conhecer alguém apenas para ficar sem perceber o porquê de tal facto.
Terá que existir um porquê? Há quem entenda que sim, que tudo tem uma razão para ocorrer.
São estes mistérios, por vezes assombrados, outras vezes assombrosos, que dão à vida o seu colorido, misto de propósitos e despropósitos, de querer, de julgar que se quer mas não quer, de não se perceber o que se quer.
O que ando cá a fazer?
Há muito que me coloco esta questão. O mais céptico em relação às respostas que encontro sou eu próprio.
Provavelmente a resposta não tem que ser demasiado rebuscada e será, tão somente, não ando cá a fazer nada.
Tempos houve em que tal conclusão me deixava bastante transtornado. Ninguém gosta de reflectir sobre a sua existência e acabar com um saco cheio de vento entre as mãos. Olhar-se no espelho e preferir que o dito parasse de reflectir o que não consegue ser mais do que apenas patético. Ninguém quererá estar no mais consigo de si (como diria João Bénard da Costa) e desesperar por sair de si próprio.
Hoje refugio-me no pensamento mesquinho de que, por mais vã, mais "fff" (fútil, frívola e fodida - três palavras a querer significar a mesma coisa) que a vida me pareça, esta realidade vai ter que me aturar. É a minha derradeira maldade. Ponho nessa ideia comezinha toda a importância do mundo, ainda que mais ninguém tenha que o fazer. É a vingança elevada à mais soberba das potências.
É engano? Afinal não é nada disso?
Pode ser!...
Terá sido, então, apenas mais um equívoco.

Sugestão de visita


Este Domingo fui com a criançada ver a exposição "A Aventura da Terra - Um Planeta em Evolução", patente ao público no Museu Nacional de História Natural, na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa.
Integrámos a visita dramatizada que ocorre no último Domingo de cada mês.
Embora alguns dos conteúdos sejam demasiado elaborados para crianças com menos de 9/10 anos, o actor (creio que o seja) que veste a pele de Charles Darwin e nos guia através da exposição, encontra-se muitíssimo bem preparado e utiliza um registo que foi capaz de segurar as minhas crianças durante um hora inteirinha. Quem trabalha nestes domínios saberá dar a devida importância a semelhante feito.
A exposição, que recorre a uma museografia muito simples, é bastante eficaz e mostra-nos a história abreviada do nosso planeta e das tipologias mais representativas de espécies que nele habitaram.
Muito, muito interessante. Muito didáctica e, com toda a certeza, duas horas bem passadas.
 

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