18 março 2010

E se a vida pudesse ser uma torrada aparada?

Li algures que homem que é homem come a côdea do pão mesmo que depois sorria sem dentes. Mas não seria tudo bem mais fácil se a vida fosse uma torrada aparada? Tudo macio e gostoso?
O meu Nicolau, velhote de quatro patas, já há três dias que não se tem nelas. Embora não esteja incontinente não consegue locomover-se, pelo que fica deitado numa poça de urina e fezes. Há que lavá-lo e secá-lo, depois de o encostar a uma qualquer parede, como se fora uma bicicleta.
Bebe da mangueira e, até ontem, comia da minha mão.
É um animal que tem tido uma vida repleta de problemas de saúde não congénitos. Não tem tido muita sorte nesse capítulo.
Em consequência de uma dessas situações, em que espetou uma silva na vista esquerda, perfurou a córnea e desenvolveu um glaucoma. Foi necessário extrair-lhe o olho. Foram tantas as peripécias que, por vezes e carinhosamente, me referia a ele como o meu robodog.
O Nicolau tem treze anos e meio. No final do ano passado tive de eutanasiar a Tara, com doze anos. Cancro no útero e, posteriormente, por todo o lado. Também os animais são merecedores de uma vida com um mínimo de qualidade.
Restam-me o Chaka e a Luca com, respectivamente, doze e seis anos.
Provavelmente, este irmão não durará muitos mais dias. Lá terá que seguir a luz e esperar por outra fase da sua existência.
E é assim a vida: esperando por um pouco de miolo. Começamos a ficar embaçados com tanta côdea!!!

2 comentários:

Ponto de Interrogação disse...

Querido pirolito, apesar de estar sempre com os dedos 'no gatilho', este é um daqueles momentos em que não sei o que dizer.

Sei, talvez melhor do que muita gente, o que estás a sentir. Tenho uma relação com a natureza e com tudo o que é vivo muito minha. Algo que não sei definir nem explicar.

Penso que me é mais fácil sofrer por um 'animal' do que por um humano. Tenho muito mais dificuldade em gerir esse sofrimento. É, talvez em mim, algo irracional.

Tenho tido, como sabes, amigos de quatro e duas patas ao longo da vida. As perdas que tive não as sei qualificar mas foram, sem dúvida, tão dolorosas quanto outras. Para mim, são entes que, mais do que muitos outros, estão sempre presentes sem cobrarem o que quer que seja e sempre dispostos a dar-nos um suspiro de carinho.

Amo os animais, e tudo o que é vivo. Admiro a natureza. Desde muito cedo que digo que é o meu 'Deus'.

Acredito que eles estão cá com o propósito de nos protegerem de toda uma série de coisas. Acredito que, de alguma forma, são anjos que cumprem genuinamente o seu destino.

Acredito que esses seres têm sempre, salvaguardada, a sua luz. Já nascem e partem com ela. É assim que os vejo. Sempre.

Tenho a certeza que, neste momento, a Tara e o Nicolau são, efectivamente, luz. Pelo menos assim acredito. Outra coisa não me faz sentido.

Abraço imenso para todos!

Anónimo disse...

Também já estive numa situação idêntica aquela por que estás a passar, como sabes, e por isso sei avaliar bem a tua necessidade de recolhimento e paz.

Lamento saber que o Nicolau está nesta fase comoplicada. Felizmente tem ao pé dele quem muito o ama. Ajuda muito a fazer a passagem.

Um abraço bem forte de amizade e solidariedade.

E uma grande lambidela para o Nicolau.

j.

 

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