No dia 11 de Maio todos os monumentos e sítios dependentes do IGESPAR terão acesso gratuito por ocasião da visita do Papa Bento XVI a Portugal.
Os palácios nacionais, museus e sítios tutelados pelo Ministério da Cultura terão também acesso gratuito.
O despacho de S. Exa. o Secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, justifica tal decisão com a importância política, cultural e religiosa da visita do Papa Bento XVI e, ainda, a perspectiva de a ocasião poder propiciar à população nacional e aos visitantes estrangeiros tempos de maior disponibilidade para o lazer espiritual e enriquecimento cultural (...). (Vd. Despacho aqui)
Esta abébia terá que ser conciliada com a tolerância de ponto dada aos funcionários públicos em Lisboa, para a tarde de dia 11 de Maio. (Dia 13 há tolerância de ponto a nível nacional e no dia 14 de manhã, apenas para os funcionários públicos do Porto).
Posto isto, apetece-me tecer os seguintes comentários:
- Os funcionários públicos que trabalham nos monumentos, sítios, palácios nacionais e museus vão ter o previlégio de, uma vez mais, serem entalados (para não utilizar o vernáculo) em relação aos seus congéneres;
- O Papa é um sujeito pouco solidário. Sim... é verdade. Se fosse um gajo pachola, e considerando que só há tolerância de ponto no sítio por onde sua Eminência passa, faria um périplo tipo Volta a Portugal em Papamóvel, para que todo o miserável funcionário público pudesse usufruir de maior disponibilidade para o lazer espiritual e enriquecimento cultural, indo, por exemplo, à praia, fazer um piquenique com a família, ou até - porque não? -, passar a tarde no tasco lá do bairro a beber mines e a comer torresmos à desgarrada durante uns riscos de bisca dos nove.
- Sendo dia 11 de Maio uma 3ª feira e dia 13, forçosamente, uma 4ª feira, está-se mesmo a ver a malta a meter uns dias e a ir de vacances para os algarves, com ou sem fim-de-semana incluído. Mas tudo bem! haja tempo para o lazer espiritual.
- A única coisa de verdadeiramente positivo que me parece ser possível retirar de tudo isto é a abertura gratuita dos museus, palácios, monumentos, etc e tal. Tenho a certeza que, em sequência do maior afluxo de fiéis às igrejas de de Lisboa durante a tarde de dia 11 de Maio, o Patriarcado de Lisboa não deixará escapar a oportunidade de fazer passar a cestinha das esmolas para reunir uma verba solidária que permita (pelo menos) aos museus adquirir um mísero tonner para a impressora que é comum a todos os serviços, ou, o que já não é novidade, poder adquirir papel higiénico para as suas instalações sanitárias.
Perguntar-me-ão: Mas como é que nada disto ainda veio a lume? E como é possível a Senhora Ministra da Cultura afirmar em recente entrevista que os museus em Portugal nunca viveram uma situação financeira tão desafogada?
À primeira pergunta respondo-vos que tais situações não foram ainda tornadas públicas porque os Directores dos nossos museus são (quase todos) verdadeiros milagreiros. (Podiam aproveitar a presença do Papa para os canonizar!). Ainda se argumenta que os nossos museus precisam de gestores? Numa discussão mais aprofundada diria que sim. Mas olhem que os actuais titulares, muitos deles sem qualquer competência técnica nessa área, não são nada maus...
À segunda pergunta... não sei responder. A menos que a Senhora Ministra viva no 5º anel de Saturno e venha à Terra só para assinar o Despacho.
Milagres... precisam-se!
Pode ser que com a vinda do Papa...
O Papa Bento XVI quando participava nas vindimas.
Douro - 2009
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