O bobo não gostava do seu país. Achava a tranquilidade do povo uma espécie de sonífero que anestesiava pela calada as suas potencialidades. Para sublinhar a sua reprovação, costumava passear à hora de ponta atrás de Heloísa, a sua tartaruga. Dirigia-se para o maior cruzamento da cidade e, assim que lá chegava, demorava por vezes mais de vinte minutos a atravessá-lo, no meio de um concerto de buzinas. "Estão sempre em movimento", gritava o bobo, "mas ninguém muda! Partem em todas as direcções, mas ninguém sabe para onde vai. Circulam cada vez mais depressa, mas nenhum avança. Comparada convosco, a minha Heloísa é o Carl Lewis em pessoa!". Apesar dos gritos de indignação e de raiva dos condutores, o bobo seguia lentamente Heloísa até ao outro lado da rua. E, tranquilamente, meditava sobre o valor da calma num mundo demasiado agitado.
O Rei, o Sábio e o Bobo
Shafique Keshavjee
31 maio 2010
27 maio 2010
A rúbrica "Sons"
Mas porquê a rúbrica Sons entremeada entre os posts (vulgo) normais?
A razão é simples: para que possam ir ouvindo alguma música enquanto vasculham o blog, tornando (espero eu) a navegação mais agradável.
A razão é simples: para que possam ir ouvindo alguma música enquanto vasculham o blog, tornando (espero eu) a navegação mais agradável.
Agora a sério
Ontem à noite, a convite de uma das actrizes, fui assistir a este espectáculo que se encontra em cena na sala azul do Teatro Aberto.
Henry, um dramaturgo dividido entre duas actrizes, Charlotte e Annie, é o protagonista desta tragicomédia que usa o teatro dentro do teatro e põe em causa as ideias feitas de fidelidade, realidade e talento. Quando é que podemos dizer que «agora é a sério»?O texto de Tom Stoppard não é fácil mas colocou-me uma boa meia-dúzia de vezes em perfeita sintonia/identificação com alguns dos estados de alma e interpretações (se tal é possível) do que é o amor. Em suma: dei por mim a rever-me em determinados momentos da acção e a pensar "que pena não ter sido capaz de me expressar de modo tão eloquente quando a situação o pediu"...
Ajudou a compreender-me melhor e a concluir que, no final do dia, não sou nenhuma excentricidade.
Parece-me não ser coisa pouca que se possa dizer de uma peça de teatro.
Aconselho vivamente!
Em cena até dia 13 de Junho.
Mais info aqui.
26 maio 2010
Santana
Foto DN
"Nunca toco sozinho", disse Carlos Santana, a propósito do concerto de hoje à noite no Pavilhão Atlântico (Lisboa). O guitarrista não se referia, no entanto, aos dez músicos que o vão acompanhar em palco, se bem que esses também serão parte integrante do espectáculo, que começará às 21.00 e terá a duração de cerca de duas horas e meia.
"Há muitas presenças do outro lado (sim, do além) que nos acompanham em palco. Vai haver muitos intangíveis esta noite."
Se é algo desconcertante a naturalidade com que Santana fala do "mundo dos espíritos", então é preciso não esquecer que, durante quase 30 anos (entre 1972, quando gravou Love Devotion Surrender ,e o lançamento de Supernatural, em 1999), o mexicano absteve-se de quaisquer aproximações ao sucesso comercial em termos "convencionais", aproximando-se do free jazz influenciado pelo misticismo indiano.
Nesta digressão, Santana regressa, depois da excursão pop de Supernatural, Shaman (2002) e All That I Am (2005), ao seu terreno clássico de expressão artística, com uma digressão que baptizou Universal Tone.
"Durante toda a vida me perguntaram se acreditava no 'tom universal'. Claro que acredito, toda gente o tem, mas nem todos o encontram", declara, referindo-se a si próprio em particular. "O Bob Marley encontrou-o", diz, apontando para a camisa, "O [John] Coltrane também. Eu também o encontrei. Quando se reconhece um músico à primeira nota, é isso o tom universal."
"O som, a ressonância e a vibração são as minhas ferramentas", diz, acerca do seu ethos musical: "Quando se toca um solo, há três coisas que têm de ser tidas em conta: onde estou, para onde vou e o que quero dizer. E depois sair dali para fora. [Tocar guitarra] não é sobre mostrar que se é bom, não é sobre dizer 'vejam quantas notas toco', isso é exibicionismo."
Para o seu quarto concerto em terras lusas, Santana promete, para além de uma recomendável dose de subtileza, um espectáculo de "música para amantes".
"Deus também está na atracção entre um homem e uma mulher. Ele não estava na sala ao lado a aquecer o jantar enquanto Adão e Eva se divertiam com a cobra."
Texto (horrivelmente) escrito por Alexandre Elias
DN Artes
25.05.10
Pois fiquem sabendo que o concerto foi tudo isto e muito mais.
Carlos Santana é, de facto, um arauto da luz, do amor e da liberdade.
E podem ter a certeza: pela vibração de harmonia que se instalou... o homem não toca sozinho!...
Namastê meu irmão.
24 maio 2010
O meu filho
Começo por escrever que o meu filho tem 10 anos e frequenta o 4º ano do 1º Ciclo do EB.
Há já algum tempo que, por força de um repetido menosprezo pela feitura dos trabalhos-de-casa (quase) diários que acabavam por ser feitos sempre tarde e a más horas, combinei com ele o seguinte:
- Chegando a casa depois da escola e depois de lanchar e trocar de roupa, a primeiríssima coisa a fazer passariam a ser os deveres (como se dizia nos idos de 60). Nada de TV, DVD, PSP, Nintendo nem o diabo-a-quatro.
Foi um compromisso assumido com base na confiança mútua porque eu não estou lá para controlar. Limito-me a perguntar.
Ontem, estando com ele e convencido de que seria um mero pró-forma, perguntei-lhe pelos trabalhos. Respondeu-me que ainda não estavam feitos mas que consistiam apenas em dois desenhos e numa biografia que deveria ser pesquisada na internet, recortada e colada juntamente com outros elementos de interesse numa folha de cartolina azul.
Azul... fiquei eu!!!
Ror de impropérios e de chamadas de atenção de toda a espécie. Falámos de irresponsabilidade, de quebras de confiança e dos facilitismos que ele aproveita ao virar de cada esquina.
A mãe, que é quem o cria em permanência, ao ouvir falar de facilitismos veio logo a correr meter o bedelho. Não houve sequer conversa. A minha irritação estava no seu zénite.
Entrei em descompressão e fiquei a pensar no modo completamente desproporcionado como tinha acabado de me comportar, medindo a validade e a pertinência de tentar argumentar com uma criança de 10 anos com base em conceitos como irresponsabilidade, confiança e facilitismo, sabendo perfeitamente que o ser-se criança também é passar ao lado, senão por cima, destas coisas de adulto.
Passados alguns instantes o meu filho dirigiu-se a mim e disse:
- Pai... não tinhas necessidade nenhuma de falar assim com a mãe. A culpa é minha... não é dela!
As minhas dúvidas foram diluídas no modo e no conteúdo salomónicos da afirmação.
Ajudei-o a fazer as pesquisas, os recortes e as colagens.
Levantei-me e saí, envergonhado e com lágrimas nos olhos...
Há já algum tempo que, por força de um repetido menosprezo pela feitura dos trabalhos-de-casa (quase) diários que acabavam por ser feitos sempre tarde e a más horas, combinei com ele o seguinte:
- Chegando a casa depois da escola e depois de lanchar e trocar de roupa, a primeiríssima coisa a fazer passariam a ser os deveres (como se dizia nos idos de 60). Nada de TV, DVD, PSP, Nintendo nem o diabo-a-quatro.
Foi um compromisso assumido com base na confiança mútua porque eu não estou lá para controlar. Limito-me a perguntar.
Ontem, estando com ele e convencido de que seria um mero pró-forma, perguntei-lhe pelos trabalhos. Respondeu-me que ainda não estavam feitos mas que consistiam apenas em dois desenhos e numa biografia que deveria ser pesquisada na internet, recortada e colada juntamente com outros elementos de interesse numa folha de cartolina azul.
Azul... fiquei eu!!!
Ror de impropérios e de chamadas de atenção de toda a espécie. Falámos de irresponsabilidade, de quebras de confiança e dos facilitismos que ele aproveita ao virar de cada esquina.
A mãe, que é quem o cria em permanência, ao ouvir falar de facilitismos veio logo a correr meter o bedelho. Não houve sequer conversa. A minha irritação estava no seu zénite.
Entrei em descompressão e fiquei a pensar no modo completamente desproporcionado como tinha acabado de me comportar, medindo a validade e a pertinência de tentar argumentar com uma criança de 10 anos com base em conceitos como irresponsabilidade, confiança e facilitismo, sabendo perfeitamente que o ser-se criança também é passar ao lado, senão por cima, destas coisas de adulto.
Passados alguns instantes o meu filho dirigiu-se a mim e disse:
- Pai... não tinhas necessidade nenhuma de falar assim com a mãe. A culpa é minha... não é dela!
As minhas dúvidas foram diluídas no modo e no conteúdo salomónicos da afirmação.
Ajudei-o a fazer as pesquisas, os recortes e as colagens.
Levantei-me e saí, envergonhado e com lágrimas nos olhos...
19 maio 2010
(Re)Leituras
O longo beijo mergulhou-os numa calma imensa. Fusako não se esquecia da separação do dia seguinte. Mordendo o queixo de Ryuji, tocando as superfícies escaldantes, polidas, onde ele tinha feito a barba, respirando-lhe o cheiro da carne que subia do peito agitado, sentia todos os nervos do corpo dele dizerem-lhe adeus. O abraço forte, furioso, de Ryuji dizia-lhe com quanto desespero ele queria afirmar que ela era real e estava realmente com ele. Para Ryuji este beijo era a morte, a morte por amor com que sempre sonhara. A macieza do lábios dela, a sua boca tão carmesim, ele podia vê-la no escuro, com os olhos fechados, tão infinitamente húmida, um mar tépido de coral, a língua que se agitava como uma alga marinha... neste êxtase negro havia algo directamente ligado à morte. Estava perfeitamente consciente que a deixaria dentro de um dia, mas no entanto estava pronto a morrer por ela, feliz.
(...) Então a chama alumiou-lhe a face e ele viu o fio das lágrims. Fusako apagou o isqueiro ao ver que ele tinha reparado. Ryuji voltou a abraçá-la e, aliviado pela certeza daquelas lágrimas, chorou também.
O marinheiro que perdeu as graças do mar
Yukio Mishima
(...) Então a chama alumiou-lhe a face e ele viu o fio das lágrims. Fusako apagou o isqueiro ao ver que ele tinha reparado. Ryuji voltou a abraçá-la e, aliviado pela certeza daquelas lágrimas, chorou também.
O marinheiro que perdeu as graças do mar
Yukio Mishima
Janelas Verdes
Hoje; 07,30; Janelas Verdes; Museu Nacional de Arte Antiga.
Quem me conhece sabe que quando necessito estar em Lisboa às 9 horas da manhã saio de casa, no máximo, às 06,30. Chamem-me louco se quiserem (e estarão na mouche). Uma coisa é certa: nos engarrafamentos matinais da via rápida da Costa de Caparica é que ninguém me apanha. Já não tenho saúde mental para tamanha odisseia.
Mas ele há males...
Cheguei às 07,30 onde só tinha que chegar às 09,30.
Decidi sentar-me a ler no Jardim 9 de Abril,também conhecido por Albertas ou Jardim da Rocha do Conde de Óbidos (situa-se na antiga Cerca do Convento das Albertas - Freiras Carmelitas - de onde advém o primeiro nome, estando assente sobre a Rocha do Conde de Óbidos, de onde deriva a segunda designação).
Escolhi um dos três bancos de primeira linha no miradouro que integra o jardim. O que me impressionou, mais do que a soberba vista que se estende até à margem sul, foi o festival de sons que, do local, nos é dado fruir: A campainha da passagem pedestre da linha de combóio, pintassilgos, o sopro metálico dos eléctricos da Carris, melros, carros, motas, autocarros, toutinegras, a sirene de um paquete que anuncia o acto de zarpar...
O fervilhar das pessoas na Avª 24 de Julho correndo para os transportes; turistas, num ritmo mais pausado,tentando localizar-se num mapa a que dão voltas e mais voltas...
O pulsar da cidade em toda a sua plenitude.
Lá permaneci embrenhado intermitentemente, ora nisto, ora n'O marinheiro que perdeu as graças do mar, de Yukio Mishima.
Já vou, seguramente, na 4ª ou 5ª leitura desta novela. Mas esta será, por força da beleza que me tem inspirado, seguramente a última. Não a quero lembrar de outro modo!
Já repararam como múltiplas leituras de um mesmo livro são capazes de nos proporcionar estados de alma tão diferentes a cada uma das vezes?
Aproximando-se a hora em que tinha que me apresentar no Museu Nacional de Arte Antiga, desloquei-me para a sua entrada.
No topo do Largo Dr. José de Figueiredo existem dois prédios esguios, a lembrar os edifícios da Isle-de-France, em Paris, ou da Grand Place, em Bruxelas, não fosse a parca arquitectura dos mesmos e os azulejos azuis que forram as suas fachadas.
Num deles, à janela, no terceiro andar, uma senhora idosa envergando nada mais do que o soutien e um chapéu de palha, estendia um rol de cuecas à moda antiga, intervalando a rotina com breves pausas para expor, por instantes, as suas costas ao sol.
No piso térreo a fachada avisa e direcciona: Cerâmica Constância.
Lisboa ao seu melhor estilo, no muito que ainda tem para nos oferecer.
Abençoadas horas que fiquei a dever à cama!
Quem me conhece sabe que quando necessito estar em Lisboa às 9 horas da manhã saio de casa, no máximo, às 06,30. Chamem-me louco se quiserem (e estarão na mouche). Uma coisa é certa: nos engarrafamentos matinais da via rápida da Costa de Caparica é que ninguém me apanha. Já não tenho saúde mental para tamanha odisseia.
Mas ele há males...
Cheguei às 07,30 onde só tinha que chegar às 09,30.
Decidi sentar-me a ler no Jardim 9 de Abril,também conhecido por Albertas ou Jardim da Rocha do Conde de Óbidos (situa-se na antiga Cerca do Convento das Albertas - Freiras Carmelitas - de onde advém o primeiro nome, estando assente sobre a Rocha do Conde de Óbidos, de onde deriva a segunda designação).
Escolhi um dos três bancos de primeira linha no miradouro que integra o jardim. O que me impressionou, mais do que a soberba vista que se estende até à margem sul, foi o festival de sons que, do local, nos é dado fruir: A campainha da passagem pedestre da linha de combóio, pintassilgos, o sopro metálico dos eléctricos da Carris, melros, carros, motas, autocarros, toutinegras, a sirene de um paquete que anuncia o acto de zarpar...
O fervilhar das pessoas na Avª 24 de Julho correndo para os transportes; turistas, num ritmo mais pausado,tentando localizar-se num mapa a que dão voltas e mais voltas...
O pulsar da cidade em toda a sua plenitude.
Lá permaneci embrenhado intermitentemente, ora nisto, ora n'O marinheiro que perdeu as graças do mar, de Yukio Mishima.
Já vou, seguramente, na 4ª ou 5ª leitura desta novela. Mas esta será, por força da beleza que me tem inspirado, seguramente a última. Não a quero lembrar de outro modo!
Já repararam como múltiplas leituras de um mesmo livro são capazes de nos proporcionar estados de alma tão diferentes a cada uma das vezes?
Aproximando-se a hora em que tinha que me apresentar no Museu Nacional de Arte Antiga, desloquei-me para a sua entrada.
No topo do Largo Dr. José de Figueiredo existem dois prédios esguios, a lembrar os edifícios da Isle-de-France, em Paris, ou da Grand Place, em Bruxelas, não fosse a parca arquitectura dos mesmos e os azulejos azuis que forram as suas fachadas.
Num deles, à janela, no terceiro andar, uma senhora idosa envergando nada mais do que o soutien e um chapéu de palha, estendia um rol de cuecas à moda antiga, intervalando a rotina com breves pausas para expor, por instantes, as suas costas ao sol.
No piso térreo a fachada avisa e direcciona: Cerâmica Constância.
Lisboa ao seu melhor estilo, no muito que ainda tem para nos oferecer.
Abençoadas horas que fiquei a dever à cama!
18 maio 2010
O saber não ocupa lugar
Ontem entreguei o trabalho final de mais uma pós-graduação, desta feita em Direito (para fugir à História e à Museologia).
E assim poderei continuar a dizer aos amigos, com toda a propriedade: As coisas que eu sei e que não me servem para nada!
(Brincadeira!...)
Parabéns a mim!
E assim poderei continuar a dizer aos amigos, com toda a propriedade: As coisas que eu sei e que não me servem para nada!
(Brincadeira!...)
Parabéns a mim!
Onde vou?
Vou caminhar na praia.
Para onde vou?
Não sei!
Vou sorver o sol sofregamente, regenerar a minha energia, mergulhar na água salgada, expurgar más-vibrações.
Vou mergulhar uma vez... e outra... e outra. Vou deixar que a espuma branca me envolva, me enrole, me possua. E nadar, sem fim... ao sabor da corrente, sulcando o azul profundo.
Exausto, náufrago desta vida de derivas muitas, irei espreguiçar-me na areia húmida, encher as mãos com milhões de grãos dourados e deixá-los escorrer entre os dedos, lembrando o carácter éfemero da nossa existência e remendando, ainda que por um breve instante, o erro tantas vezes repetido de não gozar cada momento como sendo único, irrepetível.
Por vezes, poucas, muito poucas, dou por mim a apreciar quão maravilhosa é a vida. Se levar comigo estes fotogramas, estes momentos cristalizados, já não terei perdido tudo e a vida terá feito, a custo, algum sentido.
Para onde vou?
Não sei!
Vou sorver o sol sofregamente, regenerar a minha energia, mergulhar na água salgada, expurgar más-vibrações.
Vou mergulhar uma vez... e outra... e outra. Vou deixar que a espuma branca me envolva, me enrole, me possua. E nadar, sem fim... ao sabor da corrente, sulcando o azul profundo.
Exausto, náufrago desta vida de derivas muitas, irei espreguiçar-me na areia húmida, encher as mãos com milhões de grãos dourados e deixá-los escorrer entre os dedos, lembrando o carácter éfemero da nossa existência e remendando, ainda que por um breve instante, o erro tantas vezes repetido de não gozar cada momento como sendo único, irrepetível.
Por vezes, poucas, muito poucas, dou por mim a apreciar quão maravilhosa é a vida. Se levar comigo estes fotogramas, estes momentos cristalizados, já não terei perdido tudo e a vida terá feito, a custo, algum sentido.
14 maio 2010
09 maio 2010
Tal como o ar que respiro...
Há já algum tempo que tenho saudades tuas
Mais exactamente desde o dia em que seguimos rumos diferentes
Lembro o que não devia lembrar
Lembro quando não devia sequer lembrar
A vida segue caminhos sinuosos
A dúvida persiste
As interrogações perseguem-me e acumulam-se
Tenazes, ácidas, corroem-me a alma e a esperança.
A nossa história acabou no dia em que começou
Vil o destino que nos condena apenas depois de conhecer a felicidade
Quero ser lagarta, casulo, borboleta
Mas não ter que morrer para o ser
Crueldade tamanha
Tristeza sem fim
Uma promessa de eternidade
Arrastando-se sequiosa para um final que não o foi
Amo-te existencialmente
porque assim tem que ser
não porque o queira
mas porque me é vital fazê-lo
Tal como o ar que respiro...
Far away
Nickelback
Mais exactamente desde o dia em que seguimos rumos diferentes
Lembro o que não devia lembrar
Lembro quando não devia sequer lembrar
A vida segue caminhos sinuosos
A dúvida persiste
As interrogações perseguem-me e acumulam-se
Tenazes, ácidas, corroem-me a alma e a esperança.
A nossa história acabou no dia em que começou
Vil o destino que nos condena apenas depois de conhecer a felicidade
Quero ser lagarta, casulo, borboleta
Mas não ter que morrer para o ser
Crueldade tamanha
Tristeza sem fim
Uma promessa de eternidade
Arrastando-se sequiosa para um final que não o foi
Amo-te existencialmente
porque assim tem que ser
não porque o queira
mas porque me é vital fazê-lo
Tal como o ar que respiro...
Far away
Nickelback
08 maio 2010
Crepes e gatas.
Quase meia-noite. Um daqueles serões em que - vá-se lá descobrir os engenhosos mecanismos da gula - damos por nós sobressaltados a julgar-nos capazes de comer este mundo e o outro.
- Queres mais um crepe?
- Sim... mas este com com mel e canela. Estou atulhado com tanto gelado e chocolate derretido.
- Eu vou comer outro com geleia de frutos silvestres.
- Fazes bem!
Estendi o olhar por sobre o tampo de vidro martelado da mesa da copa. Empenhada em manter o prestígio deste seu dote culinário, lá estava ela, ao fogão, porte altivo e empertigado. Uma mão na cintura, outra na asa da frigideira. O pé direito pousava sobre o esquerdo e as suas pernas ensaiavam, por isso mesmo, uma geometria curiosa. De quando em vez inspecionava mais detalhadamente o andamento daquela finíssima camada de massa, resultado de uma porção calculada ao infinésimo para evitar que o resultado passasse de crepe a panqueca em menos de nada.
- Tenho que me deixar disto!... fico gorda.
- Estás um naco, é o que é.
- Pois sim...
- Queres ajuda? Seguras na frigideira e eu seguro-te a ti...
- Não inventes!
Deitada numa das cadeiras, a gata castanha lambeu os bigodes, como se também ela tivesse provado um pedaço de crepe, ou, quiçá, adivinhasse os pensamentos libidinosos que me cruzavam a mente.
- Toma! Come e cala-te. Não me dês ideias...
- Eu? Seria lá capaz de tamanha maldade?
- Disso e de muito mais...
- Espero por ti...
- Olha que arrefece...
- O meu amor por ti? Nunca!
- Parvo! O crepe, homem... o crepe.
- Ah!... nesse caso... vem comer o teu crepe sentada no meu colo.
- Tá doido!
- Dá-me um beijo!
- Ó sarna!!!
Trocaram-se beijos... trocaram-se sabores de canela, mel e frutos silvestres.
Lá fora os cães ladraram. Cá dentro a gata castanha bocejou e enroscou-se para o lado contrário.
- Queres mais um crepe?
- Sim... mas este com com mel e canela. Estou atulhado com tanto gelado e chocolate derretido.
- Eu vou comer outro com geleia de frutos silvestres.
- Fazes bem!
Estendi o olhar por sobre o tampo de vidro martelado da mesa da copa. Empenhada em manter o prestígio deste seu dote culinário, lá estava ela, ao fogão, porte altivo e empertigado. Uma mão na cintura, outra na asa da frigideira. O pé direito pousava sobre o esquerdo e as suas pernas ensaiavam, por isso mesmo, uma geometria curiosa. De quando em vez inspecionava mais detalhadamente o andamento daquela finíssima camada de massa, resultado de uma porção calculada ao infinésimo para evitar que o resultado passasse de crepe a panqueca em menos de nada.
- Tenho que me deixar disto!... fico gorda.
- Estás um naco, é o que é.
- Pois sim...
- Queres ajuda? Seguras na frigideira e eu seguro-te a ti...
- Não inventes!
Deitada numa das cadeiras, a gata castanha lambeu os bigodes, como se também ela tivesse provado um pedaço de crepe, ou, quiçá, adivinhasse os pensamentos libidinosos que me cruzavam a mente.
- Toma! Come e cala-te. Não me dês ideias...
- Eu? Seria lá capaz de tamanha maldade?
- Disso e de muito mais...
- Espero por ti...
- Olha que arrefece...
- O meu amor por ti? Nunca!
- Parvo! O crepe, homem... o crepe.
- Ah!... nesse caso... vem comer o teu crepe sentada no meu colo.
- Tá doido!
- Dá-me um beijo!
- Ó sarna!!!
Trocaram-se beijos... trocaram-se sabores de canela, mel e frutos silvestres.
Lá fora os cães ladraram. Cá dentro a gata castanha bocejou e enroscou-se para o lado contrário.
Pedir não custa
Foto@EPA/Ettore Ferrari
Santo Padre, concedei-me duas graças:
1ª A de me conseguir reerguer desta vénia. Acho que o cóccix se me cristalizou algures entre a próstata e a cabeça do fémur esquerdo. Como se não bastasse fiquei com um testículo preso sob o calcanhar direito e não sei se me baixe se me levante;
2ª A de ter fôlego para realizar mais cento e vinte e quatro longas-metragens.
Já agora, deixe que lhe diga que Vª Eminência ostenta um lindíssimo par de sapatos.
07 maio 2010
Disseram-me hoje...
Disseram-me hoje:
- O vizinho deve ser fresco... deve ser sempre a aviar...
Já não é a primeira vez que ouço coisa parecida.
Lamento ter que dizer (ou, neste caso, escrever) que a realidade é bem menos interessante. Mas aplaudo a imaginação de quem profere tais afirmações.
Umas vezes dizem-no como se eu fosse capaz de grandes proezas quixotescas. Outras, fazem-no de semblante carregado e ar desaprovador.
Confesso que nunca prestei grande atenção ao assunto. Eu não ando cá para constituir exemplo. Ando cá, apenas e só, para ser fiel a mim próprio.
Por vezes - muitas - sigo o caminho certo. Outras há em que... não o consigo evitar.
Estarei perdido?
Diz-se que navio que navega sem destino navega sem rumo. Mas o que posso eu fazer? As minhas grandes expectativas de vida foram já alcançadas. Tenho dois filhos maravilhosos e já experimentei o que é sentir um grande amor.
Ando órfão de objectivos.
Neste momento a escolha mais difícil é o que comer ao almoço.E como diria o magnânime Denny Crane: Há uma coisa de que às vezes nos esquecemos. Por muito difícil que seja o nosso dia ou as nossas escolhas, por muito complexas que sejam as decisões éticas, podemos sempre escolher o que comer ao almoço.
- O vizinho deve ser fresco... deve ser sempre a aviar...
Já não é a primeira vez que ouço coisa parecida.
Lamento ter que dizer (ou, neste caso, escrever) que a realidade é bem menos interessante. Mas aplaudo a imaginação de quem profere tais afirmações.
Umas vezes dizem-no como se eu fosse capaz de grandes proezas quixotescas. Outras, fazem-no de semblante carregado e ar desaprovador.
Confesso que nunca prestei grande atenção ao assunto. Eu não ando cá para constituir exemplo. Ando cá, apenas e só, para ser fiel a mim próprio.
Por vezes - muitas - sigo o caminho certo. Outras há em que... não o consigo evitar.
Estarei perdido?
Diz-se que navio que navega sem destino navega sem rumo. Mas o que posso eu fazer? As minhas grandes expectativas de vida foram já alcançadas. Tenho dois filhos maravilhosos e já experimentei o que é sentir um grande amor.
Ando órfão de objectivos.
Neste momento a escolha mais difícil é o que comer ao almoço.E como diria o magnânime Denny Crane: Há uma coisa de que às vezes nos esquecemos. Por muito difícil que seja o nosso dia ou as nossas escolhas, por muito complexas que sejam as decisões éticas, podemos sempre escolher o que comer ao almoço.
Valha-nos Nossa Senhora!
Vejam bem a peça que a Atlantis decidiu criar para comemorar a vinda do Papa ao nosso país.
A Atlantis diz que esta peça de cristal é uma representação da Nossa Senhora de Fátima.
Tem tudo para ser um Susexo. Ou quase tudo... faltam as pilhas.
Enviado por uma leitora da Ala.
A Atlantis diz que esta peça de cristal é uma representação da Nossa Senhora de Fátima.
Tem tudo para ser um Susexo. Ou quase tudo... faltam as pilhas.
Enviado por uma leitora da Ala.
06 maio 2010
05 maio 2010
Estes animais...
Um elefante vê uma cobra pela primeira vez.
Muito intrigado pergunta:
- Como é que fazes para te deslocar? Não tens patas!
- É muito simples - responde a cobra - rastejo, o que me permite avançar.
- Ah... E como é que fazes para te reproduzires? Não tens tomates!
- É muito simples - responde a cobra já irritada - não preciso de tomates, ponho ovos.
- Ah... E como é que fazes para comer? Não tens mãos nem tromba para levar a comida à boca!
- Não preciso! Abro a boca assim, muito grande, e com esta enorme garganta engulo a minha presa directamente.
- Ah... Ok! Ok! Mas então, resumindo.... rastejas, não tens tomates, só tens é garganta... És Chefe de quem?????!!!!!!!!
Muito intrigado pergunta:
- Como é que fazes para te deslocar? Não tens patas!
- É muito simples - responde a cobra - rastejo, o que me permite avançar.
- Ah... E como é que fazes para te reproduzires? Não tens tomates!
- É muito simples - responde a cobra já irritada - não preciso de tomates, ponho ovos.
- Ah... E como é que fazes para comer? Não tens mãos nem tromba para levar a comida à boca!
- Não preciso! Abro a boca assim, muito grande, e com esta enorme garganta engulo a minha presa directamente.
- Ah... Ok! Ok! Mas então, resumindo.... rastejas, não tens tomates, só tens é garganta... És Chefe de quem?????!!!!!!!!
03 maio 2010
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