24 maio 2010

O meu filho

Começo por escrever que o meu filho tem 10 anos e frequenta o 4º ano do 1º Ciclo do EB.
Há já algum tempo que, por força de um repetido menosprezo pela feitura dos trabalhos-de-casa (quase) diários que acabavam por ser feitos sempre tarde e a más horas, combinei com ele o seguinte:
- Chegando a casa depois da escola e depois de lanchar e trocar de roupa, a primeiríssima coisa a fazer passariam a ser os deveres (como se dizia nos idos de 60). Nada de TV, DVD, PSP, Nintendo nem o diabo-a-quatro.
Foi um compromisso assumido com base na confiança mútua porque eu não estou lá para controlar. Limito-me a perguntar.
Ontem, estando com ele e convencido de que seria um mero pró-forma, perguntei-lhe pelos trabalhos. Respondeu-me que ainda não estavam feitos mas que consistiam apenas em dois desenhos e numa biografia que deveria ser pesquisada na internet, recortada e colada juntamente com outros elementos de interesse numa folha de cartolina azul.
Azul... fiquei eu!!!
Ror de impropérios e de chamadas de atenção de toda a espécie. Falámos de irresponsabilidade, de quebras de confiança e dos facilitismos que ele aproveita ao virar de cada esquina.
A mãe, que é quem o cria em permanência, ao ouvir falar de facilitismos veio logo a correr meter o bedelho. Não houve sequer conversa. A minha irritação estava no seu zénite.
Entrei em descompressão e fiquei a pensar no modo completamente desproporcionado como tinha acabado de me comportar, medindo a validade e a pertinência de tentar argumentar com uma criança de 10 anos com base em conceitos como irresponsabilidade, confiança e facilitismo, sabendo perfeitamente que o ser-se criança também é passar ao lado, senão por cima, destas coisas de adulto.
Passados alguns instantes o meu filho dirigiu-se a mim e disse:
- Pai... não tinhas necessidade nenhuma de falar assim com a mãe. A culpa é minha... não é dela!
As minhas dúvidas foram diluídas no modo e no conteúdo salomónicos da afirmação.
Ajudei-o a fazer as pesquisas, os recortes e as colagens.
Levantei-me e saí, envergonhado e com lágrimas nos olhos...

3 comentários:

Ponto de Interrogação disse...

Bolas! Que grande lição!

É uma pena que a vida nos tenha impingido a nós, seres humanos, a responsabilidade de sermos adultos. Talvez seja o maior preço que temos de pagar pela inteligência e racionalidade. Não sei.

Era bom que a Terra do Nunca fosse, de facto, uma realidade e que nos fosse concedida a capacidade de não 'crescer'. Talvez fossemos mais felizes.

Jitos!

Nós!! disse...

Sabes meu amigo , as vezes os putos acabam por nós chamar a atenção das mais variadas formas.

Unknown disse...

Podemos aprender grandes lições com os nossos filhos...Bjo

 

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