19.12.2010
Despedidas
Um último olhar por sobre o ombro para a Rambla.
"Adeus Barcelona!" exclamei mentalmente enquanto me encaminhava para a paragem do autocarro que me conduziria ao aeroporto.
No local, dois casais. Cedo deu para perceber que se estavam a despedir. Relembrei um episódio recente na estação da Fertagus no Pragal.
Se eu mandasse alguma coisa acabava com as despedidas.
Saí da bicha e dirigi-me para o mercado de antiguidades que se faz nos passeios da Plaça de Catalunya.
Renovei uma busca que me acompanha há quase dois anos. Procuro um terço que me chame e me diga: "Leva-me! Estou aqui por insondáveis mistérios. Cheguei cá não importa por que caminhos. O que necessitas saber é apenas que aqui estou por ti e para ti, para te aconchegar, para te afagar o peito, para suster o bater descompassado desse teu coração sem paz, para te ancorar na luz que a tantos ofereces mas à qual não te permites."
Já enverguei um terço com uma história própria, uma história de Veneza, uma história linda mas que não era a minha. Talvez por essa razão nunca o tenha sentido como "meu". Dele me despedi com o coração destroçado, mas não por ele.
Ainda não foi hoje que a demanda conheceu o seu final.
Lembrei as palavras do poeta Senegalês Amadou Sall, apostas numa foto da exposição que visitei hoje pela manhã:
- Tant qu'il y a le ciel, il y a toujours l'espoir qu'un oiseau y passe.
Virei costas. Acelerei um passo que mais não pretendeu senão fugir às lágrimas dos que se continuavam a despedir.
Disse novamente adeus a Barcelona.
O autocarro arrancou. Sentei-me abraçado à mochila. Enquanto a Melody Gardot me sussurava ao ouvido Deep within the corners of my heart, a cidade de Gaudi foi ficando para trás, sob um céu acobreado pelos últimos estertores do sol que, também ele, fazia as despedidas de mais um dia, um dos últimos deste Outono Catalão.
Deep within the corners of my heart
Melody Gardot
26 dezembro 2010
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