28 dezembro 2010

Barcelona - Apontamentos de viagem V

20.12.10
Saio do quarto, ensonado.
Phones  nos ouvidos, aperto o blusão e percorro o corredor que me conduz ao ascensor. A carpete azul, pontilhada de pequenos quadrados brancos, e a sucessão de surrealismo encartonado que pende das paredes, dão à mancha uma sensação de vertigem que não apetece.
As portas do hotel abrem-se para um sol que me faz vacilar. Sorvo a luz e o calor, agradeço, rumo à estação de combóios.
Três paragens apenas até à Plaça de Catalunya, bem no coração da cidade.
A hora de ponta ficou para trás e as carruagens vão vazias. Sorrio ao lembrar a tradição segundo a qual, para nuestros hermanos, entre a Segunda-Feira e o Domingo há pouca diferença.
Pensei para comigo: "tenho que registar estes momentos."
Há muito tempo me apercebi não existir melhor forma de recordar um momento, uma imagem, um sentimento, o que for, do que fazê-lo através da escrita.
Como escreveu Gabriel García Márquez "Escrever é melhor do que viver!".
Como sou avesso a escrever em movimento, abandonei, no momento, a ideia.
Olhei para o exterior e vi a cidade aproximar-se rapidamente. Fachadas suburbanas; linhas de alta-tensão; barreiras de betão; graffitis, muitos, coloridos, quentes, frios; tudo entrecortando o céu azul, manchado por uma difusa névoa branca, como restos de um sonho.
Subitamente fez-se escuro. O combóio penetrou as entranhas da urbe e tudo ganhou um novo espectro.
Surge a estação. O tempo e o espaço abrandam.
No exterior uma jovem está de cócoras sorvendo as últimas páginas de um livro.
É difícil esperar pelo fim de um livro! Esperamos pelo combóio, esperamos por muitas coisas na vida. Os combóios chegam sempre, ainda que, por vezes, atrasados. O que esperamos da vida nem sempre chega. Talvez porque seja isso o que há a fazer: dela nada esperar.
Abrem-se as portas. Levanto-me. Mochila às costas...
Barcelona, aqui vou eu!...

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