12 fevereiro 2011

Na 1ª pessoa – o singular na sua dialéctica com o plural.

Hoje apetece-me escrever na primeira pessoa do singular.
De quando em vez paro para fazer um apanhado da minha vida ou, pelo menos, do meu passado recente. Há quem faça o exercício regular de uma retrospectiva diária. Não chego a tanto (mas apenas e só porque não tenho o empenho necessário para o fazer).
Pensei em tamanha façanha há já alguns dias mas só agora ganhei coragem para tanto. Cortei umas limas, pisei folhas de hortelã, umas pedras de gelo, rum e duas colheres de um açúcar tão amarelo quanto o meu sorriso deste final de tarde.
Estou sentado em frente ao portátil. Mais um trago… e outro. Arrepio-me. Estou pronto!
Ultimamente tive por tendência natural julgar a minha vida como algo de absolutamente improdutivo ou, no mínimo, inconsequente.
Formações e mais formações, cursos e mais cursos, simpósios, congressos, encontros… para acabar dando por mim a perguntar “para quê?”.
Esta semana algo de novo ganhou espaço no meu espírito. Comecei a interrogar-me mais sobre as pequenas coisas do dia-a-dia, as quais, habitualmente, adicionava ao rol das futilidades, percebendo agora que, uma vez ponderadas numa perspectiva mais abrangente, passam a fazer todo um novel sentido.
Lamento esta situação de desemprego prolongado, de instabilidade relacional no que ao às matérias do coração diz respeito. Continuarei a fazê-lo. Mas pergunto-me agora: ser-me-ia possível assumir em exclusivo as múltiplas deslocações do meu filho de e para a escola, idas quase diárias da mãe ao hospital, tratar diária e religiosamente dos meus cães, se estivesse a trabalhar ou numa relação emocional com cabeça, tronco e membros?
Mais: a partir da próxima terça-feira a minha filhota passará a ír duas vezes por semana ao Hip-Hop. Irei eu buscá-la à escola. Não sei como irei conseguir articular tudo mas tenho a certeza absoluta de que o vou fazer.
Na passada 2ª feira morreu-me o Chaka. De quatro amigos caninos resta-me apenas a Luka. A vida vai polvilhando o caminho com estas sacanices repletas de fel.
Num destes finais de tarde solarengos, desloquei-me ao miradouro dos Capuchos para ver o pôr-do-sol. Entre muita gente que afluíra ao local com o mesmo intuito, encontrava-se um casal com dois filhos. O mais velho deles, talvez com uns sete/oito anos, estava sentado na muralha do miradouro, pernas e braços traçados, aguardando o momento em que o horizonte engoliria o sol. Aproximando-se o ocaso, o pai desata num esbracejar histérico, bradando:
- Filho. Estão a roubar o sol! E agora? O que fazemos?
O filho, sem tirar os olhos de um horizonte mesclado de azuis e vermelhos, respondeu:
- Não, pai. O sol vai até ao fim do mundo e depois desaparece na terra do nunca. Amanhã nasce um novo.

Tenho recordado muitas vezes tal momento. A poesia tudo vence. Quem me dera ser capaz de fazer como o sol daquele menino. Mas poesia é apenas isso: poesia. A vida é a vida e, como experiência de aprendizagem que é, apresenta-se-nos muitas vezes cruel, dura, implacável.
Se é (também mas não só) por isso que tenho que passar… seja!
Ajudo os outros em tudo o que posso, de múltiplas formas. Quem me conhece sabe desta atitude voluntariosa. Se ando por cá com essa missão… óptimo.
Se são estes o meu karma e o meu dharma… perfeito!
Em última instância tenho por saldo que o universo me tem retribuído generosamente. Graças ao apoio incondicional da família e dos amigos não me tem faltado nada de verdadeiramente essencial nem, diga-se de passagem, muitas outras coisas supérfluas.
Sinto-me amado, gostado, apreciado, admirado, valorizado.
Exigir mais da vida, embora legítimo, não será exagero ou devaneio? Receio pensar na resposta.
No que a 1ª pessoa do singular puder ajudar a 1ª pessoa do plural, cá estarei, sempre e incondicionalmente, para todos.
Obrigado!

4 comentários:

Anónimo disse...

És uma pessoa GRANDE e MUITO BONITA!Não consigo deixar mais linhas...fiquei muito emocionada, pois conheço todos esses passos, todas essas caminhadas... Apenas deixo um abraço de ternura e um desejo de te ver lá, onde mereces e onde quiseres estar!Saúde, sorte, luz e estrada, são desejos neste momento!

Beijos Pirolito!Muitos!

Anónimo disse...

A peculiaridade do teu ser é infinita, nem sempre compreendida, mas é verdadeira e pura.
Obrigada por fazeres parte da minha caminhada. Bem hajas.
Beijinhos

Unknown disse...

E quando dizes tudo, que resta para dizer?
Que és um ser lindo.Que a luz te ilumina.Que hoje mais uma vez o teu amor pelo próximo fez alguém mais feliz.Que és uma pedra preciosa para quem tem o previlégio de ter um bocadinho de ti.Que estás presente mesmo ausente. Que te admiro e respeito muito. Que ... só te "tem" quem te merece! Um beijo e um mimo não de Luar mas da Marília !

Anónimo disse...

Querido Mano,
- Dizia alguém que: "A grandeza de uma pessoa não se mede pelo espaço que ela ocupa no nosso coração, mas sim pelo vazio que deixa quando está distante!" É por isso importante sabermos que mesmo que lá não estejamos - estamos lá! Que caminharemos sempre lado a lado!
Um grande XI-Coração da Mana que te acompanhará sempre! Irene

 

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