A semana passada estava às compras num supermercado quando de repente se ouve no sistema áudio: "Sr. Silva à recepção... Sr. Silva à recepção com urgência".
No entretanto passaram por mim a correr vários funcionários em direcção às caixas. Aquilo só podia ser mensagem codificada e algo de anormal se estava a passar.
Certinho, direitinho: junto às portas da saída lá estava, com expressão de animal encurralado, um cidadão brasileiro, com as mãos cheias de sacos e os olhos marejados de lágrimas.
Tanto quanto pude observar, os sacos continham fruta, hortaliças, pão e alguns enlatados. Não sei o que foi que o homem tinha roubado.
Enquanto aguardava a minha vez na fila para o pagamento, dei comigo a pensar. O que seria que ele tinha surripiado? Quem vai a uma loja para roubar só por maldade não compra três ou quatro sacos de outras coisas. O homem deve ter sido apanhado através do sistema de video-vigilância.
Pergunto-me: não seria melhor, nestas circunstâncias, confrontar calmamente o indivíduo com o facto de ter sido "caçado", dando-lhe a oportunidade de se redimir pagando o artigo ou, pura e simplesmente, devolvendo-o? Aliás, seria um modo de lhe dar a entender que não valia sequer a pena tentar roubar porque seria sempre apanhado.
Se calhar é ingenuidade da minha parte mas eu sou daqueles que acredita que o ser humano é, no seu íntimo, um ser bom.
São as contingências da vida em Sociedade, com toda a cegueira que isso acarreta.
Mais ou menos como disse o cineasta italiano Rosselini a propósito da sua obra Europa 51, as pessoas hoje apenas sabem viver em Sociedade, não em Comunidade. Para viver em Sociedade basta-nos a existência de lei. Para viver em Comunidade é preciso amor.
04 setembro 2006
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