03 abril 2010

A malta fala

As pessoas falam dos outros por dois motivos - por tudo e por nada - e de duas maneiras - a torto e a direito.
A mim sempre me fez alguma confusão falar de outrem na sua ausência. A maioria das vezes não há sequer qualquer razão para que tal aconteça. Mas isso é bom até porque nos mantém alerta para a necessidade de guardar uma atenção constante ao que dizemos sobre os outros.
Tenho por regra não proferir o que quer que seja sobre outra pessoa, que não fosse capaz de lhe dizer pessoalmente.
Embora nem sempre com o mesmo sucesso, tento colocar a mesma reserva relativamente ao que me é dado a ouvir. A minha avó gostava muito de se referir a estas situações como conversa de emprenhar pelos ouvidos.
Nesta época de Quaresmas, dietas e o Diabo a quatro, que tal se nos abstivéssemos de falar (nem precisa de ser mal) gratuitamente sobre os outros? Que tal se refreássemos o nosso hábito, useiro e vezeiro, de falar só por falar, como se não houvesse nada mais importante no mundo sobre o que conversar ou se não tivéssemos nada de verdadeiramente significativo para dizer aos outros.
Recuso-me a acreditar que o problema seja esse. É impossível que as pessoas sejam assim tão limitadas.
Haverá concerteza muita gente a quem não temos dito vezes suficientes o quanto gostamos delas, familiares e amigos, tantas vezes distantes, a quem poderiamos telefonar para dizer "estou aqui e não me esqueço de ti".
As palavras são demasiado preciosas para serem desperdiçadas. E pior do que o serem em vão é o serem-no com consequências negativas e desnecessárias.
Vamos todos fazer um pequeno exercício de contenção: no cabrito, no folar, nas amêndoas, mas, e sobretudo, no uso que fazemos das palavras.
Eu vou tentar!

5 comentários:

Isabel disse...

Também tenho direito à indignação.
É, a malta fala. E à malta pertencemos todos, até tu. Não há ninguém que não tenha telhados de vidro. Depois do interesse, ou até do fascínio, que possas provocar, cais à velocidade da luz. Fica o físico e a ‘veia lírica'. Que te interessa que as pessoas telefonem ou manifestem ‘estou aqui para ti’, se respondes com rudeza ou com o silêncio? Cuidado com as lições de moral – normalmente vêm de quem não vale a pena. Dos logros.

Sandra disse...

Por acaso é algo que eu considero depreciativo num ser-humano: falar dos outros com determinadas intenções. Aliás, o facto de dizermos que os outros falam, já nos faz estar a falar dos outros. Ah! Mas não creio estar a falar da mesma coisa.
Na verdade, até acho importante falarmos uns dos outros. Por um lado, aprendemos a conhecer os que ouvimos e, por outro, por vezes é a única forma de conhecermos quem não se dá a conhecer. Sobretudo quando a informação nos chega de onde e como menos esperamos e vem corroborar o que já nos tinha sido dado a conhecer pelo principal protagonista.
Aliás, se não falássemos uns dos outros - bem ou mal - de que é que a história seria feita?
Tenho, até, uma característica de que gosto (muito) menos: apesar do que os outros me dizem e tentam impingir, e apesar de tudo o que determinada pessoa demonstra ser, continuo a ser o mais crédula possível até ao dia em que levo um murro no estômago que me abala penosamente.
Quando gosto de uma pessoa e ela é importante para mim, não há absolutamente nada que me faça abster de a dar a conhecer através dos meus olhos. Verdade seja dita que só o transmito a quem também me diz alguma coisa. Se não falarmos dos outros, que importância têm eles para nós, afinal? Para mim, os afectos não se reflectem nem se constroem de silêncios. Tenho o hábito infantil e salutar de gritar aos sete ventos sobre o quanto gosto de uma pessoa. É como o processo de polinização. As abelhas que transportam o pólen de flor em flor, ajudando à fecundação das plantas.
Esta coisa de 'emprenhar pelos ouvidos' também me chateia. Mas quando a informação é tão similar vinda das mais diversas fontes, e sem qualquer tipo de intenção, não há preservativo que aguente!
Tenho, por outro lado, o hábito de dizer: 'estou aqui, e não me esqueço de ti. Se precisares de alguma coisa, já sabes.' São poucas as pessoas de quem obtenho resposta. A pretensão não é essa, mas às vezes questiono-me se Vale a pena apenas e só porque sinto que a mensagem, ou não chega ao destinatário, ou é-lhe completamente indiferente. Mas continuo a fazê-lo - por mim! - até ao dia, claro!
Concordo: 'as palavras são demasiado preciosas para serem desperdiçadas.' Determinadas pessoas também. A minha contenção não será nas palavras mas sim nos gestos. Se há pessoas que merecem a sua devida importância, outras há que nem merecem ser lembradas e, por isso mesmo, relativamente a essas me silencio, só para não dizer que desisti!

Pirolito disse...

Pois muito bem.
Vamos lá então responder, embora muito a contra-gosto. Sim, a contragosto. Isto é apenas um blog e se, porventura, os leitores ou as leitoras acharem que devem e/ou podem pessoalizar os assuntos que trago a este blog podem fazê-lo mas através de email.
Notem bem que eu não tenho qualquer pejo em abrir polémicas aqui na Ala. Acredito, no entanto, que uma coisa é o exercício da livre expressão de cada um de nós sobre determinado assunto, outra coisa é a pessoalização das questões.
Como devem calcular, um blog é um fórum público e, como tal, a pessoalização implica forçosamente a inexistência de privacidade.
Provavelmente, haverá quem julgue que isto não passa de um clube de conhecidos. MAS NÃO É!
E como não é, e o administrador do blog sou eu, lamento informar que as regras sou também eu quem as estipula. Défice democratico? Pois é! Por vezes não há outra alternativa.
Posto isto e antes de vos responder, tenho a avisar antecipadamente que, para vos provar que não existe por aqui nenhum "lápis azul blogótico", depois desta minha resposta irei permitir que comentem o que quiserem, como quiserem e as vezes que entenderem. De uma coisa podem ter a certeza: ninguém irá obter qualquer resposta que perpetue este "trend".

Isabel: Erros crassos... muitos!
1º Eu sei que pertenço à malta. Em lado nenhum escrevi que era santo e daí ter terminado o post com a expressão "Eu vou tentar!";
2º Telhados de vidro? Eu sou apenas quatro paredes em ruínas e a céu aberto. Se calhar é por isso é que já vou vendo as estrelas...
3º O interesse e fascínio não são forçosamente projecções unilaterais e deliberadas. São, também, afinidades que se estabelecem ou que se induzem involuntariamente em outrem. A minha queda só pode ser considerada vertiginosa na medida das ilusões que possas ter criado a meu respeito. Olha que também já me aconteceu e sei que é algo com que é difícil de lidar. Mas quem mandou? A culpa é minha?
3º Interessa-me e muito (MAS MUITO MESMO) que as pessoas manifestem preocupação para comigo. É bom; é um aconchego sentir a amizade decorrente do acto; é um bater renovado de coração. Mas dito isto, fico bem comigo próprio ao responder com um mero - mas significativo - obrigado!.
Nem a ti nem a ninguém alguma vez respondi a tal gesto de modo rude. Seria um absoluto contra-senso.
Não posso deixar de achar curioso que tamanha preocupação demonstrada com o "estou aqui para ti", não seja sequer capaz de respeitar o meu "obrigado por estares aí para mim, mas não quero conversar".
Por muito que - ACREDITA - agradeça essa disponibilidade, eu NÃO QUERO NEM SOU OBRIGADO a falar sobre a minha vida. Será tão difícil aceitar isso?
4º Lições de moral? Eu? "por quem sois, senhora?".
Afinal de contas sou apenas um logro...

Pirolito disse...

Sandra: Querida prima,

1º Quando jogamos com as palavras convém que o façamos com algum bom-senso. Das duas, uma: Ou tens que me perdoar pela falta de léxico ou, em alternativa, reescreves-me o post de maneira a falar da mesma coisa sem fazer alusão aos sujeitos da acção. Será que me fiz entender?
Se me conseguires demonstrar que é possível falar de "quadrilhice" sem falar nos "quadrilheiros", serei o primeiro a dar o meu tísico braço a torcer.
2º Farás de mim a ideia que muito bem entenderes, com ou sem recurso à opinião de terceiros. Eu até sou uma pessoa que, como já escrevi algures, sou mais de espalhanços do que de hesitações, constituindo, por isso mesmo, um manancial de conversa para quem não tem nada mais interessante para fazer.
3º Para mim, ao contrário do que acontece contigo, a importância que outras pessoas me possam merecer consubstancia-se na necessidade de falar com elas. Dou muito pouca importância ao acto de falar SOBRE ELAS, pois isso em nada inflaciona a minha consideração.
4º "Para mim, os afectos não se reflectem nem se constroem de silêncios". Pois!... Para mim também não. Mas há som e há ruído...
5º O teu último parágrafo... não irei sequer comentar.

Beijos sinceros a ambas.

Sandra disse...

Ó cum caraças que, desculpa lá, mas tens a cabeça dura! Não fiz alusão a ninguém. E, depois, ninguém falou em quadrilhice. Aquilo de que falei é completamente diferente.
Pelo que escreveste, uma vez mais, fico com a sensação de que só olhas para ti.
Estamos em registos diferentes. E, por isso mesmo, falei em desistir. Não vale a pena para ambos. É a eterna discussão do sexo dos anjos e de andar à volta do rabo...

Beijos sinceros também para ti.

 

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