Ontem à noite calhou ter assistido a um conjunto fragmentado de momentos televisivos de (dita) informação, em que os temas dominantes diziam respeito ao centenário da implantação da República e à actual situação de crise generalizada que o nosso país atravessa.
Depois de tudo bem digerido; depois do exercício destinado a subir o nível de vibração; depois de alguma preparação para voltar a pensar no assunto, cheguei à conclusão de que tenho ainda um longo - senão interminável - caminho a percorrer no sentido do amor e perdão incondicionais.
Sinto-me incapaz de compreender e/ou desculpar este escol de cães raivosos que se servem do serviço público como plataforma e/ou trampolim para poisos principescamente remunerados de onde delapidam o erário público a seu bel-prazer.
Não consigo admitir que uma corja de indivíduos que se renova numa estafada e incompreensivelmente mantida alternância democrática, continue a vomitar demagogia e retórica, criando e alimentando de forma tácita um monstro autofágico que sangra a favor desta escumalha, deixando a populaça anémica... cada vez mais anémica, pobre, em muitos casos miserável.
Até já os mais liberais arautos (vd. artigos recentes do jornal Expresso) clamam contra a insustentável promiscuidade entre o poder político, o poder económico e a banca.
Os últimos tempos têm sido férteis em cenas de favorecimento, desfalque, despautério financeiro e de cândida pouca-vergonhice, que não percebo como não são passíveis de procedimento criminal.
É o fartar-vilanagem próprio destes momentos de pânico que antecedem o naufrágio.
O problema é que este malfadado navio encalha, encalha de novo e volta a encalhar, não havendo meio de afundar.
Os ratos sobrevivem sempre, equilibrando-se reciprocamente, quais contorcionistas de circo coreano, no topo dos mastros de um salvado marítimo que terá de ser, uma e outra vez, reconstruído a partir da quilha, sempre pelo mesmo triste e patético conjunto de carpinteiros e calafates.
Ao jantar ouvi colegas meus de Faculdade, do tempo de Mestrado, gente da geração posterior à minha, com qualificações académicas e experiência profissional mais do que suficientes para poder aspirar a um posto de trabalho digno, confessar que estes políticos, mais do que sugar-lhes a vida e a bolsa, conseguiram a triste e indigna proeza de lhes subtrair os sonhos. Todos ponderam ir para o estrangeiro a muito curto prazo.
Eu não tenho idade nem condições para emigrar. Os meus sonhos são poucos mas bons, quiçá refinados pelo crivo desta realidade que nos é imposta e que não controlamos individualmente.
A este panteão de gatunos e oportunistas ideologicamente analfabetos que apenas se servem do serviço público para se engordarem a si próprios e às suas clientelas, urge relembrar uma panaceia ainda não há muitos anos prescrita por um nosso trovador:
A gente ajuda, havemos de ser mais, eu bem sei
Mas há quem queira, deitar abaixo o que eu levantei
(...)
Bem me diziam, bem me avisavam, como era a lei
Na minha terra quem trepa no coqueiro é o rei
A bucha é dura, mais dura é a razão que a sustém
Só nesta rusga, não há lugar para os filhos da mãe
Não me obriguem a vir para a rua, gritar
Que é já tempo de embalar a trouxa e zarpar...
Será que somos cegos? E eu por cá vou vendo muito bem... E vocês?
05 outubro 2010
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1 comentário:
Exprimiste na perfeição a realidade que estamos a viver!
Tenho o olhos bem abertos , de cega não tenho nada e penso que salvo a excepção dos que estão muito bem instalados no poleiro(que devem estar a treinar o "Ensaio sobre a Cegueira"), todos nós vemos o mesmo. O que falta é mesmo quem tenha força para dizer BASTA!
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