29 setembro 2005

Crónica Luso-Cinéfila

Prólogo: Acusado que fui, pela minha amiga Olímpia, de escrever um blog muito “casca-grossa” e dado a brejeirices sobre Política e Economia, sem dedicar qualquer linha à Cultura portuguesa, decidi iniciar hoje esta rubrica.
Trata-se de um modesto espaço de notícias sobre cinema feito em Portugal. A periodicidade será… completamente irrelevante, porque eu tenho mais que fazer do que estar aqui a ganhar calos nos dedos só para vos manter actualizados.
Querem informação? Comprem o jornal!!!

ACÇÃO
Encontra-se em fase bastante adiantada, a rodagem do filme Os Canastrões de Navarone.
Segundo foi possível apurar, o argumento do filme versará o assalto a três Câmaras Municipais e não a qualquer porcaria de canhão incluso num penhasco.
Em declarações exclusivas a este blog, o realizador Marques Mendes, referiu que, os principais intérpretes, Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Avelino Ferreira Torres, têm apresentado desempenhos que fariam corar de inveja David Niven, Anthony Quinn e Gregory Peck, respectivamente, pelo que se aguarda um enorme sucesso de bilheteira.
Acção em português, ao seu melhor estilo.

DRAMA
Cavaco Silva será cabeça de cartaz da mega produção E Tudo o Vento Levou. A produção descartou já a hipótese de Clark Gable por “ser demasiadamente apaneleirado”. Vivien Leigh recusou-se a contracenar com Cavaco Silva, pelo que decorrem negociações com outras divas do Drama, falando-se, insistentemente, na possibilidade de a eleita para o papel vir a ser Manuela Ferreira Leite.

Titanic II encontra-se em sérias dificuldades financeiras. Segundo a produção “sabíamos que apesar de ter dispensado Leonardo di Caprio e Kate Winslet, optando, em sua substituição, por Mário Soares e Maria Barroso, o orçamento era muito curto. Depois, como se já não chegasse de desgraças, verificámos que o set de filmagens é completamente inapropriado. Portugal está tão no fundo que não foi possível descobrir um local com profundidade suficiente para afundar o raio do navio”.

DESTAQUE
A rodagem de O Pátio das Cantigas encontra-se bem adiantada.
O Ala dos Namorados deslocou-se ao local das filmagens e assistiu a algumas das gravações.
Aqui ficam, em primeiríssima mão, alguns dos registos captados pelo nosso repórter Órson Velas:

Excerto de diálogo entre o actor Francisco Assis e uma figurante:

Alô Dona Rosa… Alô Dona Rosa… A sua filha chegou do Brasil!



(A actriz Fátima Felgueiras... na cena da chegada)



Soubemos entretanto que a banda sonora do filme incluirá uma versão adulterada do velhinho clássico de Maria da Graça. A letra da canção sofrerá alterações num dos versos. Assim, em vez de Ai quem me dera ter uma leitaria, o novo verso será Ai quem me dera ter um município.
Prometemos manter-vos ao corrente deste êxito seguro.

CURTAS
O Ala dos Namorados soube de fonte pouco credível que o advogado de “Bibi” e candidato às próximas eleições presidenciais, José Maria Martins, será a estrela principal do remake de O Chacal.

Em virtude do acidente sofrido recentemente pelo actor Mel Gibson, a sequela de Mad Max será liderada por Jerónimo Martins. O papel desempenhado por Tina Turner em episódios anteriores desta epopeia de fricção centrífuga, passará desta vez para a actriz Odete Santos, a qual se encontra já a banhos intensivos em Tróia, de modo a obter a necessária pigmentação de pele.

Francisco Louçã desempenhará o papel de Robert Redford no filme O Encantador de Cavalos.

Manuel Alegre herda o papel anteriormente desempenhado por Robin Williams na próxima versão de O Clube dos Poetas Mortos.

O Instituto de Cinema desistiu definitivamente do projecto Ali Babá e os 40 Ladrões. Depois de seis meses de intenso trabalho na Assembleia da República, o casting para os papéis de 40 ladrões foi inconclusivo. Um alto responsável declarou que os candidatos eram tantos e com tanta qualidade, que seria uma injustiça levar o projecto por diante deixando muitos deles de fora.

28 setembro 2005

Leituras I


É sem dúvida, a servidão o mais insuportável dos males e o mais abominável dos flagícios: como nascidos que somos para a liberdade, a nossa própria natureza, a ela repugna: a existência se nos torna indiferentes, e a morte que a termina lhe deve ser preferível. Sentença foi esta de outro grande orador da liberdade, Cícero.
E este sentimento, era tão profundamente gravado no coração dos romanos, que ainda depois de extinta a república se professavam tais princípios: os quais se a corrupção lhes quebrava toda a eficácia, e valor, todavia existiam, e eram quando menos, veneráveis relíquias do antigo carácter nacional.
Dessa fatal corrupção das sociedades nasce o maior inimigo da liberdade, o indiferentismo. Quando uma nação pervertida e podre chega a cair neste estado paralítico, nem, há que esperar para a liberdade nem que recear para o despotismo… Mas a Providência que rege este universo, e que para sua eterna ordem equilibrou em todas as partes dele os males com os bens, para que, sendo diversas suas relações, resultassem o bem geral da divisão e repartição de uns e outros, a Providência permite, que, quando nesse apático estado lentamente agoniza um povo apareça, para dele o tirar um agente poderoso que lhe sirva de castigo e de remédio, um tirano cruel e sanguinário, que é para essa enfermidade moral como os estimulantes fortes para a moléstia do físico abatimento.
(…) Em dois grandes escolhos se perde a liberdade; na tibieza com que se defende ou na demasia com que dela se goza: evitemos um e outro.

Almeida Garrett, Portugal na Balança da Europa, 1830, prólogo.

27 setembro 2005

Oinc, oinc!...


Posted by Picasa

Hoje sinto-me particularmente gráfico...

Viram ontem o "Prós e Contras" na RTP1?

No rescaldo, eis uma imagem que descreve bem anos e anos de relacionamento entre o Estado e a Associação Nacional de Farmácias...

Para descrever as consequências deste enrolanço relativamente ao Zé Povinho, teria que recorrer a imagens de sodomia, o que, convenhamos, para um blog que pretende manter um certo nível de decoro, não seria muito apropriado.

Acredito, no entanto, que todos vós já tenham sentido esse efeito... isto é... só no bolso... claro!

Do Continente... com amor


Posted by Picasa

Como não obtive resposta ao meu último post, calculo que a charada fosse muito complicada de resolver...
Assim, cá vão mais umas pistas...

Zurra zurra fortemente
Como quem zurra sem fim.
Será mula, será burro?
Mula não é certamente
Porque mula não zurra assim.

Grunhe grunhe fortemente
Como quem grunhe sem fim.
Será leitão será porco?
Leitão não é certamente
Porque leitão não grunhe assim.

Bale bale fortemente
Como quem bale sem fim.
Será cabra, será chibo?
Cabra não é certamente
Porque cabra não bale assim.

Grasna grasna fortemente
Como quem grasna sem fim.
Será açor, será abutre?
Açor não é certamente
Porque açor não grasna assim.

26 setembro 2005

A culpa é da elefanta

É esta a nossa sina!

Portugal é um país de oportunidades perdidas.

Vamos lá escrever isto à laia de desafio à vossa cultura tropical...

Quem foi, quem foi?... que advertiu as populações que não sairá dinheiro do orçamento regional para apoiar projectos municipais propostos por qualquer Câmara que pertença à oposição?

Quem foi, quem foi?... que ameaçou o Diário de Notícias da Madeira de expropriação, após publicação de algumas notícias que lhe eram desfavoráveis?

Quem foi, quem foi?... que sugeriu a Durão Barroso que tivesse a coragem de “desmantelar o aparelho político-ideológico do Estado, que está nas mãos do Partido Comunista”?

Quem foi, quem foi?... que se virou para uma jornalista e disse: "Está-me a fazer um sinal porquê? Estão aí uns chineses? É mesmo bom para eles ouvirem porque eu não os quero aqui".

Quem foi, quem foi?... que, em pleno festival 48 horas a bailar, se referiu a Pacheco Pereira como fazendo parte de um grupo “de diletantes sem qualquer utilidade [que] se pavoneiam a atacar publicamente quem trabalha e tem razão”?

Quem foi, quem foi?... que em Outubro do ano passado, em plena campanha eleitoral, entrou de rompante e a toda a brida na arena do Circo Cardinalli, montado numa elefanta e aos gritos de “Cuidado!... Cuidado!”?

Ó famigerado mamífero...

Compreendo que a esperança de libertação depositada em ti por todo um país, te tenha feito vacilar. Mas porra!... faltou apenas um pequeno trejeito de anca, um “diz que vai mas não vai”, à Cristiano Ronaldo, para prostrares esse asno, abusador de vinho licoroso e fumador de charros de bananabis, no chão. E depois era só levantar a manita e fazer... squash... deixá-lo estrebuchar um bocadinho e... squash, squash.

Seriam honras de Estado, em cima de honras de Estado. A malta até referendava o regresso aos Descobrimentos.

Já imaginaste o Rossio iluminado por parangonas néon: Elefanta Margarida – Capitã-Donatária da Ilha da Madeira. Homenagem de uma Nação eternamente agradecida?

Assim, vil quadrúpede proboscídeo, ainda tiveste que o ouvir zurrar “a gaja não está bem” e “esta mexia muito e não estava habituada a ser montada”.

Mais uma oportunidade perdida!

Rai’s parta a elefanta!

23 setembro 2005

O Conquistador

Enquanto lavava os dentes, o menino mirava-se no espelho e pensava: “És lindo!”

Pegou no pente e iniciou a sua faina diária de 45 minutos a ajeitar a poupa.

Conterrâneo de D. Afonso Henriques – O Conquistador, tinha neste o seu ídolo, ou melhor, a sua referência. Sim, porque haveria de chegar ainda mais longe. Afinal de contas, D. Afonso fora filho de Conde mas ele era filho de Governador Civil.

Não chegaria a rei, certamente… Mas de uma “Pasta” ninguém o privaria. A da Cultura… talvez; ou a da Ciência… Vacilava ainda sobre a qual delas fazer ponto de mira.

Depois de uma experiência fracassada numa aula de química, em que havia provocado a explosão de um laboratório e o incêndio de parte significativa do liceu, o menino havia sido chamado ao Conselho Directivo. Instado a justificar-se, iniciou uma verborreia de hora e meia de considerações sobre os problemas filosóficos colocados pela ciência, particularmente o do valor do conhecimento científico, até que uma das professoras, já em agonia, o interrompeu dizendo-lhe: “O menino há-de ter muito futuro mas é no domínio da Epistemologia. Entretanto, não se chegue ao fogão lá de casa nem toque nos electrodomésticos!”

Este comentário, que lhe cheirara a premonição, fazia com que o seu coração pendesse mais para a Cultura. Era isso!... Haveria de ser Ministro da Cultura.

Tal como o Conquistador se havia livrado do jugo galego em Guimarães, também ele aproveitaria para libertar todo um povo, agrilhoado que estava à cultura popular, enfiando-lhe pela goela dentro uma cultura de elite, cosmopolita, de apologia da estética na inversa proporção do interesse suscitado. A sua máxima seria: “O que é incompreensível é bom!”

Ohhhhh!... Quão orgásmica seria a sua vingança. O Conquistador vingara-se da subserviência de sua mãe; ele vingar-se-ia do sacrifício ritual, imposto por anos de autoridade matriarcal: O de ter que ouvir diariamente a rádionovela “Simplesmente Maria”.

Não olharia a meios para atingir tão glorioso fim. Tal como D. Afonso enganara o Papa, desprezando obediências anteriormente juradas, também ele enganaria este mundo e o outro… Primeiro, eu; segundo, a minha pessoa; terceiro, moi même!

Esbanjaria ao desvario. Assim como o Conquistador desbaratara os Mouros, ele desbarataria o erário público.

Investiria em propaganda. A Comunicação Social haveria de ser o seu Geraldo Sem Pavor.

Haveria de persistir até ao limite das suas forças.

E se o atavismo do povo, a ignorância das massas ou miséria do país o derrubassem, logo se haveria de arranjar uma outra solução de empenhamento. Uma coisita mais modesta… mais dentro da exaurida capacidade de compreensão deste povo energúmeno… talvez uma presidência de Câmara, ou coisita do género…

“É isso!” pensou, compondo a poupa.

“E vou fazê-lo sem ter nunca que apertar a mão seja de quem for!” prometeu a si mesmo enquanto arrumava o último pentelho.

22 setembro 2005

A Tertúlia do Ginjal

Boa tarde Manel!
Então? Aqui arrepimpadinho na esplanada?

É verdade amigo Armando! Aqui a remoer nos tempos do antigamente…
Atão e tu?

Olha pá, venho agora lá de cima, da Fonte Luminosa. Fui aviar os medicamentos. Porra pá! Até venho de perna aberta! Isto cada vez tá pior!

Assenta aí um bocado pá!
Ó Pé Curto… traz aí duas ginjinhas!

Com que então a remoer nos idos de outrora, hein?

É verdade pá… mas isto Cacilhas já não é o que era. Tu alembras-te da nossa tertúlia?

Ó pá!... penso tantas vezes nisso… nós ambos os dois, o Xico “Canudo”, o “Espanta Cães” e o “Zé da Pipa”!

G’anda seita pá!
Não havia bicho que metesse medo à malta nem maleita qu’entrasse no cabedal… Olha… por exemplo… em vez de ginjinhas mamávamos absintos!

É pá, não me fales de absinto que m’alembras das cruzes!

Cruzes? Quais cruzes?

As minhas, pá! O meu médico de família diz que o meu fígado tá aqui que parece um boletim do Euromilhões… cheio de apostas múltiplas! Eheheh
A filha da Amália peixeira, sabes quem é, não sabes? Aquela que morava nas escadinhas do castelo…

Sim já me lembro…

Pois! Essa mesmo… a miúda é farmacêutica. Disse-me no outro dia pa eu ter cuidado com a alimentação… pa fazer uma dieta regrada…

E qu’é que tu lhe respondeste?

É pá, eu disse-lhe que, devido à reforma que tenho por mês, aplicava sempre às minhas refeições a regra dos noves… noves fora nada! Eheheheh
Partiu-se toda a rir!... muita simpática a moça… e jeitosa… herdou aquelas ancas da mãe.
Tu alembras-te das ancas da mãe?

Ó pá! Se m’alembro!...
Quando ela passava p’la malta, a gente fazia de conta que não ligava… mas depois era tudo a olhar pa trás, a tirar o molde ós quadris qu’eram da largura da canastra qu’ela levava à cabeça! Eheheh

Ai que secura!

Por falar nisso… Ó Pé Curto… traz aí mais duas ginjas!

E as noitadas de fado n’”O Farol” e n’”O Grande Elias”?
É pá… ainda te lembras como o Xico “Canudo” cantava o fado? G’anda malha!...

Se m’alembro!... O Xico… g’anda Xico… Ainda te lembras como é qu’ele ganhou a alcunha do “Canudo”?

Lembro pá! Foi porque o gajo ateimava qu’era Doutor… que tinha tirado o curso na tropa.

E lembras-te d’ele andar sempre c’aqueles livros muita esquisitos debaixo do braço?

Lembro!... ainda tenho um em casa qu’ele m’ofereceu… A Arte de Galanteria, dum gajo qualquer do tempo dos Filipes… D. Francisco de Portugal.
De vez em quando pego naquilo pa ler… não admira qu’o Xico fosse esperto pá! Aquilo tem lá umas gandas verdades.
O gajo era Português mas andou lá fora à porrada por conta dos Espanhóis… é pá foi naquela altura qu’os Espanhóis mandaram em nós… tu sabes, não sabes?... Quando regressou, vinha à espera de uma recompensa do D. Filipe – ou lá com’é que se chamava o maricas do rei. Mas como o gajo era Português, e ainda por cima andava a comer as damas todas lá na Corte, em Espanha, o outro fez-lhe um manguito!... Mas o nosso não se ficou – o gajo era teso! Vai daí e escreveu a seguinte quadra… e em espanhol… pa não haver dúvidas:

(‘pera aí… deixa-me dar aqui mais uma quinada que já ‘tou a ficar co’a goela seca!)

Los mejores valen menos;
Mirad que gobernacion:
Ser gobernados los Buenos
Por los que tales no son!

Á g’anda Xico “Canudo”!... ou melhor… neste caso é mais Á g’anda Xico de Portugal! Eheheheh
Mas olha qu’isso bem s’aplicava hoje a nós… estes políticos qu’a gente tem não valem um chavelho e andam aí atrás da cheta que nem cães atrás dum osso!...

Pois é pá! Olha… fazia cá falta o nosso “Espanta Cães”!

Nem mais! Mas que raio seria qu’o homem tinha qu’os cães fugiam dele com’ó Diabo da cruz?

E pá… eu isso não sei! Mas lá qu’agora dava um granda jeitão… lá isso dava! Tu ‘tás a ver a gente a largar o gajo dentro dum Conselho de Ministros? Aquilo é qu’havia de ser… Ministros, Secretários de Estado, Adjuntos, Consultores dos Adjuntos, Manicuras, Pedicuras… tudo a saltar p’las janelas?… e a gente sentados cá fora, a beber umas bjecas e a rir às gargalhadas, como fazíamos quando o Zé da Pipa ía roubar maçãs reinetas à mercearia do coxo.

Eheheheh… Ena pá… o Zé da Pipa… O gajo tinha a mania da pesca... Tu alembras-te, aí por alturas do 25 d’Abril, qu’o gajo ‘tava à pesca no Olho de Boi e a malta chegou lá, ao pé dele, e nacionalizámos-lhe um safio muita grande qu’ele tinha apanhado?

Ehehehe… atão não m’alembro? Foi nesse dia pó jantar, com 3 kgs de batatas. Eheheheh… Ganda caldeirada acompanhada c’o palhinhas de 5 lts que tu trouxeste lá de cima, da taberna do Pancão…

Ai… que tempos bem passados… Ó Pé Curto!...

Já sei! Já sei!... mais duas ginjinhas…

21 setembro 2005

Batalha Jurássica






Como o autor deste modesto blog não quer que os seus leitores (quais leitores?) fiquem privados das notícias mais recentes, enquanto perdem tempo aqui, com os meus disparates, é da mais elementar justiça trazer ao vosso conhecimento um episódio verificado esta manhã em Foz Coa.

Cá vai!

Local: Pastelaria “A Mimosa de Vale do Côa”

Repórter: Sáuricus Paparazzi

Intervenientes: Pterodactilus Cavacus Boliqueimensis e Tiranossaurus Marius Collegius Modernus


Olha o Cavacus!

Olha o Marius!

Venham de lá essas peles escamosas!

Catrapum... Estrondoso abraço jurássico...

Então pá? Por aqui a dar à asa? – pergunta Marius;

É verdade! – responde Cavacus. E tu? Por aqui a rabear?

Mau! Rabear é que não! Vê lá essa conversa de galináceo porque eu ando traumatizado com isso já desde os tempos em que fugi para a Argélia por causa da glaciação.
Ando, isso sim, a preparar-me para um acto eleitoral que se avizinha.

O quê? Também tu? Então foram acordar-me a meio da hibernação, a dizer que era para vir aqui limpar isto, que era de caras, e coiso... e coiso... e afinal dou de bico contigo?

É pá! Já te avisei! Vê lá essa conversa do “bico”, porque eu ainda ando atormentado.

Bolas pá! Isso também já é mania da perseguição!

Não te aviso mais vez nenhuma!!! Pára lá com as “bolas” que isso alembra-me do que me quero esquecer!

Tá bem!... não se fala mais nisso! Mas afinal de contas... ó Marius... não achas que já estás um bocado caduco para te meteres nestes caldos?

Olha este!... Então e tu? Eu, ao menos, ainda ando aqui bem composto de matérias adiposas. Vê lá tu que a Maria ainda me diz todas as manhãs, ao levantar: “Marius, meu amor... ‘tás um naco!”. Depois de lavar os dentes põe os óculos e não me volta a falar nisso... vá-se lá saber porquê? Sáurias!... (leia-se: Mulheres!...). Agora tu, Cavacus, tens-te visto ao quartzo (espelho) todos os dias? Vê lá mas é se te enxergas!...

Não sejas injusto, meu projecto de réptil! Enquanto alguns que para aí pastam, andavam a criar Fundações, a minha pobre figura frequentou sessões intensivas de terapia da fala e fez-se sócio da Corporación Paleolítico-Estética. Deram-me lá umas injecções de botox, que foram um mimo. Como vês, tenho o bico tão dilatado que se me acabaram o fungar compulsivamente e os tiques nos olhos.

Ó Cavacus... pelo menos agora já a malta aí na selva não vai poder continuar a dizer que andas a dar “nela”! Eheheheheh!

É! Isso fica-te muito bem! Eu ainda não sou candidato e já estás a abrir as hostilidades... Vai-te preparando para uma desilusão!... Ouvi para aí bichanar que o ministro Socratensis, não vá o Diabo tecê-las e tu ganhares as eleições, já mandou cancelar a avença com os Transportes Alados Portucalensis. Se quiseres ir dar mais duas voltas ao mundo durante o mandato, com massagens de avestruz tailandesa e passeios de mamute indiano, vais ter que abrir os cordões à bolsa, o que no teu caso tem ainda mais propriedade... minha enorme carteira de pele!

Tá bem ó gaguinhas! Põe-te mas é a andar, isto é, a voar para longe, antes que haja aqui uma zaragata das antigas!

Mais antiga que tu? Impossível! Eheheh



Lia eu isto em voz alta quando, de repente, oiço o meu filho comentar: “Ó pai... mas que confusão vai para aí entre Tiranossaurus, Pterodactilus, Jurássico, Paleolítico... Isso está tudo misturado!...”
Para não ter que constatar os anacronismos e reconhecer a minha ignorância, respondi:
“Deixa lá filho. Isto é só para o pai beber uma mini e comer uns tremoços!”

20 setembro 2005

Abrenúncio!

Oito horas da manhã.

Com aquele sorriso que arma um homem precavido, observei desinteressadamente os demais cidadãos que, por preguiça ou distracção, haviam chegado depois de mim à porta da Repartição de Finanças.

Nove e dez (que é o mesmo que dizer, 9 horas, no horário fiscal).

As portas abrem-se e… romaria, escada acima… ora bem!... vejamos… balcão… IMI… IVA… é este! IRS

Mais 10 minutos de espera (que é o mesmo que dizer, atendimento imediato), e eis que surge, possante, a funcionária encarregue da matéria em apreço.

“Faxavor!”

“Bom dia para si também!” retorqui, tentando dar à expressão um tom ligeiramente irónico, de forma a não hostilizar a senhora.

“Bom dia!”, anuiu finalmente, já de sobrolho carregado.

“Venho mostrar-lhe os documentos referentes à minha Declaração de IRS. Recebi em casa um postal para vir a uma fiscalização e é melhor tratar disto o quanto antes, para poder receber o reembolso…”

“Sim Senhor… traz os papelinhos separados e as contas feitas à parte?”

“Olhe… eu trago, realmente, os papéis separados, mas não fiz contas nenhumas! Não é suposto ser aqui o Serviço a verificar isso mesmo?”

Já não bastava as Finanças servirem-se deste expediente para protelar o reembolso daquilo que é meu, ainda tinha que estar a aturar a molenga da senhora…

O que eu fui dizer…

A Sra. cravou em mim um olhar gélido e respondeu:

“Não! Nós não temos tempo para fazer isso… senão não fazemos mais nada… não conseguimos atender as pessoas”.

“Mas como?” respondi… “Não é isso que a Sra. está a fazer? A atender-me?”

Neste entretanto, um outro funcionário aproximara-se do balcão, colocando-se de atalaia. Mãos atrás das costas, bigode suástico, fato escuro, mangas coçadas (a falta que ainda faz um bom par de mangas de alpaca!), enfim, a materialização do Diabo na Terra!

Enquanto a minha Declaração era objecto de escrutínio sob a lente de contacto da funcionária (que é o mesmo que dizer, microscópio electrónico, em linguagem fiscal), mirei novamente o “Diabo” em casaca negra, e não pude deixar de me rir interiormente ao pensar no quão parecido era com um pinguim que a minha avó tinha em cima do frigorífico.

Marinava eu nestas recordações de infância quando de repente…

“AH, AH!!!”

Voltando-me para a funcionária encontrei dois olhos revirando-se nas órbitas, exultantes de alegria.

Os joelhos falharam-me e formou-se-me na boca uma película de medo.

Adivinhava já a desonra de toda a minha estirpe, a desaprovação por parte da família, a mulher vociferando por lá se ter ido o dinheiro para a nova máquina de lavar e para as férias na Fonte da Telha. O filho calando um arrazoado de impropérios em linguagem infantil, por ter que continuar mais um ano com o mesmo triciclo, já com os pneus carecas.

“Enganei-me em alguma coisa, minha Senhora?” perguntei eu com um ar estúpido, farto de saber qual seria a resposta.

“O Senhor colocou aqui no campo das despesas médicas o recibo referente a um aparelho de aerossóis, que tem 19% de IVA!”

“Eu sei minha Senhora… o meu filho, infelizmente, é asmático. O Alergologista prescreveu-lhe alguns medicamentos que carecem do aparelho. Aliás, como vê, a receita está agrafada ao recibo de farmácia em causa. Será que não podia pôr esta despesa?”

“Poder… podia! Mas não era neste campo da Declaração. Era neste… aqui mais em cima… ‘tá a ver?”

Entra então o “Diabo” em cena:

“O Senhor preencheu mal a Declaração e ponto final!”

Eu, um pouco a medo mas muito a esforço para não me “saltar o berço”, retorqui:

“Mas meu caro Senhor! Ainda se alguém pudesse alegar que eu agi de má fé, que tentei ludibriar o Estado ou que o montante a reembolsar é diferente em consequência do meu erro… eu até compreendia. Apelo ao seu bom senso!...”

“Tenho muita pena… O Senhor vai lá abaixo à Tesouraria, compra impressos novos, preenche outra vez, paga € 50 de multa por Declaração entregue fora de prazo e volta a trazer os papéis!”

“Mas eu vou ter que levar tudo para casa… a minha esposa vai ter que assinar outra vez este impresso!”

(Silêncio)

“Quando regressar amanhã tenho que ir para a fila?”

“Exactamente!”

“Bom dia e muito obrigado!”

E lá vim eu, com a pasta debaixo da axila, que é o mesmo que dizer, “com o rabo entre as pernas”, em linguagem fiscal.

Chegando a casa no final do dia encontrei a cara-metade na cozinha, em sessão de luta-livre com uns quantos alguidares de roupa lavada…

“A ver se vem o raio do dinheiro do IRS porque isto assim não é nada!”

Senti um calafrio na espinha… fui comer uma sandes de torresmos.

19 setembro 2005

J’accuse* et je refuse!

- Acuso o Estado de falta de moralidade;
- Acuso o Estado de cumplicidade activa para com situações de “aposentação” escandalosa concedida a algumas mentes iluminadas (normalmente apenas pelo clarão que antecede o curto-circuito), permitindo-lhes rendimentos vitalícios em montantes que, mais não sendo, constituem uma ofensa ao comum dos cidadãos;
- Acuso o Estado da mais completa ineficácia em matéria de auto-fiscalização, no que concerne à existência/persistência de vínculos laborais a “recibo-verde”;
- Acuso o Estado de apatia voluntária na fiscalização de Empresas em permanente situação de ilegalidade relativamente à precariedade de emprego dos seus funcionários, muitos deles, igualmente a recibo-verde;
- Acuso o Estado de ser mau pagador e de subverter as regras do jogo a seu bel-prazer, fazendo batota a torto e a direito, numa fobia raivosa destinada a arrecadar mais uns tostões;
- Acuso o Estado de patologia do foro oftalmológico: Vê (e depaupera) o porta-moedas do ardina mas é completamente cego a malas Louis Vuitton e a carteiras de pele de crocodilo;
- Acuso o Estado de hemorroidal aristocrática (a única variante da doença que exige automóveis de alta cilindrada com estofos em pele, para minimizar as vibrações nos glúteos de Ss. Exas.);
- Acuso o Estado de roubar escandalosamente a maioria dos “trabalhadores liberais” em sede de Segurança Social, na inversa proporção da fiscalização sobre os outros “liberais” que o roubam (ao Estado, bem entendido) descaradamente;
- Acuso o Estado de fechar os olhos à proliferação das mais gritantes violações dos requisitos inerentes à concessão do Rendimento Mínimo Garantido (ou, como lhe chamam agora, Rendimento Social de Inserção), fazendo com que o otário do contribuinte cumpridor tenha que levar pelas ventas com inúmeros agregados familiares a viver em casas do Estado, com renda de € 6 (sim, seis Euros) mensais, com BMW estacionado à porta, para se poderem deslocar à Assistente Social mais próxima, e aí carpir por mais uns medicamentos de borla ou pela colocação dos filhos na escola (do Estado, claro está!), a custo zero;

E enquanto assim for...

- Recuso-me a descontar o que quer que seja que dependa de mim!
- Recuso-me a sustentar um Estado parasita e os parasitas do Estado!
- Recuso-me, d’hora em diante, a dedicar todo o meu tempo livre a outra actividade que não seja a de me especializar na cátedra de Indigência!

Eu, que sou completamente inocente; eu, que em momento algum deleguei a esta corja o poder de me extorquir a possibilidade de uma vida sem sobressaltos... tenho que comer e calar?
Não o filho de meus pais!...
S. Francisco de Assis chorará do céu ao ver o quão miserável me vou tornar!...



* Expressão/mote da carta dirigida por Émile Zola a Félix Faure, Presidente de França, a 13 de Janeiro de 1898, relativamente ao Caso Dreyfus, infame atentado aos direitos, à honra e à dignidade de um homem inocente – Alfred Dreyfus.

17 setembro 2005

O Desencanto ou O ídolo com pés de barro

Havia chegado a hora. Esperei, com invulgar impaciência, pelo directo televisivo do discurso de Manuel Alegre.
As palavras do poeta corriam de mãos dadas com o entusiasmo deste humilde escriba. “As exigências da República” e “os imperativos da Democracia”, a insubmissão perante subserviências partidárias…
Já se aplaudia efusivamente quando os “pés de barro” deste ídolo claudicaram, sucumbindo à mais elementar lógica do aparelho.
“Não serei responsável pelo fraccionamento do eleitorado socialista!”
Ah pobre e velho leão!...
Que presunção e engano os teus, pensares que o próximo presidente da República vai ser eleito exclusivamente pelo eleitorado “Socialista”.
O Presidente da República foi, é e será sempre o Presidente de todos os Portugueses. Pela parte que me toca, não quero um Presidente que perante o desiderato de liderar a nação, demonstre, ou tenha demonstrado, especial preocupação com este ou aquele eleitorado partidário.
Isto não é um feudo!
Eu sei que a lógica caciquista do Partido vai inculcando esses tiques. Mas sabes? Esse é o resultado de muitos anos de más companhias.
Poeta de peito aberto às balas… como foste tu capaz de gerar tamanha desilusão?
Como foste tu capaz, já em tão provecta idade, já no fim de um longo caminho feito de verticalidade, de te curvares perante os verdugos de tua casa, casa a que ainda vais mas na qual já há muito não moras?

15 setembro 2005

"Esta é a ditosa pátria minha amada?"

A propósito de um texto de opinião, da autoria de António J. Branco.
O texto está publicado online no "Diário Digital" - (http://diariodigital.sapo.pt) um site que, diga-se de passagem, visito em dias de auto-flagelação.
É verdade! Bastam-me cinco minutos de leitura de um qualquer texto do Sr. Luís Delgado para ver expiados todos os meus pecados de, pelo menos, uma semana. Dois dedos de leitura e... aí vão eles (os pecados, claro) quais bodes expulsos à ripada nos quartos traseiros, como manda a boa tradição judaica.
O texto de António Branco, (http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=2&id_news=192126) contudo, é muito bom e de uma oportunidade que, infelizmente, persiste há séculos: O desprezo - em alguns casos - e a indiferença - noutros - que sucessivas gerações vêm dispensando à sua Pátria, quer no que de mais material isso possa representar, quer no que respeita, tão somente, ao seu próprio conceito.
O autor adoptou como definição de Pátria, aquela de um seu antigo professor de História: Pátria, é Terra de Antepassados.
Há uns anos atrás - não me lembro sequer a que propósito - dei comigo a pensar sobre este mesmo assunto. Se tivesse que encontrar uma palavra que, para mim, melhor descrevesse o conceito de Pátria, qual seria?
Não digo que tivesse ficado inteiramente satisfeito com o resultado mas, aquela que melhor me soou, foi a palavra Herança.
Não vou alongar-me sobre o que são para mim as diversas vertentes desta nossa (ainda rica) herança... talvez noutra oportunidade em que para aí esteja virado. O que me vai na alma é a azia de ver a nossa herança continuar a ser vilipendiada por essa horda de hipócritas que são aqueles que, sucessivamente, nos (des)governam.
Todos nós sabemos que as heranças trazem consigo activos e passivos. Não obstante, parece-me que o mais básico dos raciocínios manda que se resolvam as dívidas e que se tente deixar aos nossos filhos um património maior/melhor do que o que nos deixaram os nossos antepassados.
Ainda hoje, em conversa de hora de almoço, dizia eu aos restantes convivas que, tal como reza o fado, o destino só destina quem já nasce conformado. Mas é obscena e muito frustrante a impotência com que somos obrigados a deglutir a chusma de disparates e verdadeiros atentados produzidos por estas hordas de bandidos com chancela popular. Para eles, não tenho qualquer espécie de dúvida, Pátria é... as suas próprias pessoas!
Por amor de Deus... Tragam-me Hunos e Vândalos! Ao lado destes espécimens, seriam pálidos meninos de catequesse.
E depois custa... custa muito ir observando a rapaziada que vai, cantando e rindo, como se nada fosse consigo.
Quando lhes é dada a possibilidade de mudança - aquela de que o mundo é composto, lembram-se? - aqui d'El Rei, venha de lá essa alternância democrática.
Pena é, e com esta me fico, que na ditosa Pátria nossa amada, a alternância democrática não seja mais do que uma mera variação entre o pontapé-no-cú e a joelhada-na-virilha.

Abertura das hostilidades

Nops!
Não é nada disso!
Lá estão vocês a antecipar precipitadamente o teor das coisas.
Não vou escrever mal de ninguém, pelo menos para já. Portanto... desiludam-se!

É só mesmo para inaugurar o blog.

adsum !!!
 

is where my documents live!