19 setembro 2005

J’accuse* et je refuse!

- Acuso o Estado de falta de moralidade;
- Acuso o Estado de cumplicidade activa para com situações de “aposentação” escandalosa concedida a algumas mentes iluminadas (normalmente apenas pelo clarão que antecede o curto-circuito), permitindo-lhes rendimentos vitalícios em montantes que, mais não sendo, constituem uma ofensa ao comum dos cidadãos;
- Acuso o Estado da mais completa ineficácia em matéria de auto-fiscalização, no que concerne à existência/persistência de vínculos laborais a “recibo-verde”;
- Acuso o Estado de apatia voluntária na fiscalização de Empresas em permanente situação de ilegalidade relativamente à precariedade de emprego dos seus funcionários, muitos deles, igualmente a recibo-verde;
- Acuso o Estado de ser mau pagador e de subverter as regras do jogo a seu bel-prazer, fazendo batota a torto e a direito, numa fobia raivosa destinada a arrecadar mais uns tostões;
- Acuso o Estado de patologia do foro oftalmológico: Vê (e depaupera) o porta-moedas do ardina mas é completamente cego a malas Louis Vuitton e a carteiras de pele de crocodilo;
- Acuso o Estado de hemorroidal aristocrática (a única variante da doença que exige automóveis de alta cilindrada com estofos em pele, para minimizar as vibrações nos glúteos de Ss. Exas.);
- Acuso o Estado de roubar escandalosamente a maioria dos “trabalhadores liberais” em sede de Segurança Social, na inversa proporção da fiscalização sobre os outros “liberais” que o roubam (ao Estado, bem entendido) descaradamente;
- Acuso o Estado de fechar os olhos à proliferação das mais gritantes violações dos requisitos inerentes à concessão do Rendimento Mínimo Garantido (ou, como lhe chamam agora, Rendimento Social de Inserção), fazendo com que o otário do contribuinte cumpridor tenha que levar pelas ventas com inúmeros agregados familiares a viver em casas do Estado, com renda de € 6 (sim, seis Euros) mensais, com BMW estacionado à porta, para se poderem deslocar à Assistente Social mais próxima, e aí carpir por mais uns medicamentos de borla ou pela colocação dos filhos na escola (do Estado, claro está!), a custo zero;

E enquanto assim for...

- Recuso-me a descontar o que quer que seja que dependa de mim!
- Recuso-me a sustentar um Estado parasita e os parasitas do Estado!
- Recuso-me, d’hora em diante, a dedicar todo o meu tempo livre a outra actividade que não seja a de me especializar na cátedra de Indigência!

Eu, que sou completamente inocente; eu, que em momento algum deleguei a esta corja o poder de me extorquir a possibilidade de uma vida sem sobressaltos... tenho que comer e calar?
Não o filho de meus pais!...
S. Francisco de Assis chorará do céu ao ver o quão miserável me vou tornar!...



* Expressão/mote da carta dirigida por Émile Zola a Félix Faure, Presidente de França, a 13 de Janeiro de 1898, relativamente ao Caso Dreyfus, infame atentado aos direitos, à honra e à dignidade de um homem inocente – Alfred Dreyfus.

1 comentário:

Anónimo disse...

Post brilhante! Que forma tão elegante de exprimir revolta.
Também não contribui para a eleição deste governo, mas como tenho veia popular, digo-lhe que são todos uma cambada de rotos e de fdp.

 

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