28 setembro 2005

Leituras I


É sem dúvida, a servidão o mais insuportável dos males e o mais abominável dos flagícios: como nascidos que somos para a liberdade, a nossa própria natureza, a ela repugna: a existência se nos torna indiferentes, e a morte que a termina lhe deve ser preferível. Sentença foi esta de outro grande orador da liberdade, Cícero.
E este sentimento, era tão profundamente gravado no coração dos romanos, que ainda depois de extinta a república se professavam tais princípios: os quais se a corrupção lhes quebrava toda a eficácia, e valor, todavia existiam, e eram quando menos, veneráveis relíquias do antigo carácter nacional.
Dessa fatal corrupção das sociedades nasce o maior inimigo da liberdade, o indiferentismo. Quando uma nação pervertida e podre chega a cair neste estado paralítico, nem, há que esperar para a liberdade nem que recear para o despotismo… Mas a Providência que rege este universo, e que para sua eterna ordem equilibrou em todas as partes dele os males com os bens, para que, sendo diversas suas relações, resultassem o bem geral da divisão e repartição de uns e outros, a Providência permite, que, quando nesse apático estado lentamente agoniza um povo apareça, para dele o tirar um agente poderoso que lhe sirva de castigo e de remédio, um tirano cruel e sanguinário, que é para essa enfermidade moral como os estimulantes fortes para a moléstia do físico abatimento.
(…) Em dois grandes escolhos se perde a liberdade; na tibieza com que se defende ou na demasia com que dela se goza: evitemos um e outro.

Almeida Garrett, Portugal na Balança da Europa, 1830, prólogo.

2 comentários:

Anónimo disse...

E vão dois.Venham mais cinco ou mais.Muitos mais.

JHCosta

Pirolito disse...

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