Uma estória
Tenho minhas mãos vazias
se só Deus mas pode encher
de flores selvagens, estrelas
e de um bafo de mulher.
Foram tempos de folia
abaixo do meu querer.
Tão disperso, nele havia
imagens de estarrecer.
Eram cavalos alados
de cascos de sal e espuma
e um dedo desenhando
fugas de incerta fortuna.
Era o amor de três laranjas
e uma corda ao pescoço.
O sorriso de Maria
fulgurante nos meus cílios.
Eram, repito, fantasmas
- minha estranha condição
-Mas uma estrela apontava
Rumos ao meu coração.
O que o futuro me tece
não o sei, mas adivinho
a noite que me amanhece
sem que me encontre sozinho.
- Um melro surpreendido
voando montanha acima.
A semente, menos viva,
rompendo floridas brácteas.
Ruy Cinatti, 09.04.83
12 outubro 2006
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