Lá fora, motores censurados pela espessura da vidraça,
um avião passa e repassa,
aguardando que a maré ouse devolver aquilo que o mar reclamou:
- O corpo de um pescador; a sobra de uma última faina.
Os nossos olhares cruzam-se, receosos, evitando-se, estranhos.
Não pelo que possam dizer mas por dizerem coisa nenhuma.
Na aritmética do momento, adicionámos um cigarro,
multiplicámos silêncios, dividimos a despesa e os rumos.
A prova dos nove deu resto de zero.
Não foi um almoço.
Foi a constatação final de um naufrágio, a consagração de uma morte.
Foi, porventura, a sobra de uma última faina.
12 fevereiro 2010
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2 comentários:
Maravilhoso. Queremos mais!
Abraço!
Fantástico, Campeão!!!
Quando começo a pensar que já te conheço mais ou menos bem, tu... pimba!Tiras mais um coelho da cartola.
Que escreves muito bem, há muito que o sei (deverias publicar mais coisas tuas). Mas mesmo assim consegues sempre surpreender-me com coisas tão belas quanto esta.
Obrigado pela partilha.
Jorge F.
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