14 agosto 2006

Recordar é viver...

A Tertúlia do Ginjal

Boa tarde Manel!
Então? Aqui arrepimpadinho na esplanada?

É verdade amigo Armando! Aqui a remoer nos tempos do antigamente…
Atão e tu?

Olha pá, venho agora lá de cima, da Fonte Luminosa. Fui aviar os medicamentos. Porra pá! Até venho de perna aberta! Isto cada vez tá pior!

Assenta aí um bocado pá!
Ó Pé Curto… traz aí duas ginjinhas!

Com que então a remoer nos idos de outrora, hein?

É verdade pá… mas isto Cacilhas já não é o que era. Tu alembras-te da nossa tertúlia?

Ó pá!... penso tantas vezes nisso… nós ambos os dois, o Xico “Canudo”, o “Espanta Cães” e o “Zé da Pipa”!

G’anda seita pá!Não havia bicho que metesse medo à malta nem maleita qu’entrasse no cabedal… Olha… por exemplo… em vez de ginjinhas mamávamos absintos!

É pá, não me fales de absinto que m’alembras das cruzes!

Cruzes? Quais cruzes?

As minhas, pá! O meu médico de família diz que o meu fígado tá aqui que parece um boletim do Euromilhões… cheio de apostas múltiplas! Eheheh
A filha da Amália peixeira, sabes quem é, não sabes? Aquela que morava nas escadinhas do castelo…

Sim já me lembro…

Pois! Essa mesmo… a miúda é farmacêutica. Disse-me no outro dia pa eu ter cuidado com a alimentação… pa fazer uma dieta regrada…

E qu’é que tu lhe respondeste?

É pá, eu disse-lhe que, devido à reforma que tenho por mês, aplicava sempre às minhas refeições a regra dos noves… noves fora nada! EhehehehPartiu-se toda a rir!... muita simpática a moça… e jeitosa… herdou aquelas ancas da mãe.
Tu alembras-te das ancas da mãe?

Ó pá! Se m’alembro!...
Quando ela passava p’la malta, a gente fazia de conta que não ligava… mas depois era tudo a olhar pa trás, a tirar o molde ós quadris qu’eram da largura da canastra qu’ela levava à cabeça! Eheheh

Ai que secura!

Por falar nisso… Ó Pé Curto… traz aí mais duas ginjas!

E as noitadas de fado n’”O Farol” e n’”O Grande Elias”?

É pá… ainda te lembras como o Xico “Canudo” cantava o fado? G’anda malha!...

Se m’alembro!... O Xico… g’anda Xico… Ainda te lembras como é qu’ele ganhou a alcunha do “Canudo”?

Lembro pá! Foi porque o gajo ateimava qu’era Doutor… que tinha tirado o curso na tropa.

E lembras-te d’ele andar sempre c’aqueles livros muita esquisitos debaixo do braço?

Lembro!... ainda tenho um em casa qu’ele m’ofereceu… A Arte de Galanteria, dum gajo qualquer do tempo dos Filipes… D. Francisco de Portugal.
De vez em quando pego naquilo pa ler… não admira qu’o Xico fosse esperto pá! Aquilo tem lá umas gandas verdades.
O gajo era Português mas andou lá fora à porrada por conta dos Espanhóis… é pá foi naquela altura qu’os Espanhóis mandaram em nós… tu sabes, não sabes?... Quando regressou, vinha à espera de uma recompensa do D. Filipe – ou lá com’é que se chamava o maricas do rei. Mas como o gajo era Português, e ainda por cima andava a comer as damas todas lá na Corte, em Espanha, o outro fez-lhe um manguito!... Mas o nosso não se ficou – o gajo era teso! Vai daí e escreveu a seguinte quadra… e em espanhol… pa não haver dúvidas:
(‘pera aí… deixa-me dar aqui mais uma quinada que já ‘tou a ficar co’a goela seca!)
Los mejores valen menos;
Mirad que gobernacion:
Ser gobernados los Buenos
Por los que tales no son!

Á g’anda Xico “Canudo”!... ou melhor… neste caso é mais Á g’anda Xico de Portugal! Eheheheh
Mas olha qu’isso bem s’aplicava hoje a nós… estes políticos qu’a gente tem não valem um chavelho e andam aí atrás da cheta que nem cães atrás dum osso!...

Pois é pá! Olha… fazia cá falta o nosso “Espanta Cães”!

Nem mais! Mas que raio seria qu’o homem tinha qu’os cães fugiam dele com’ó Diabo da cruz?

É pá… eu isso não sei! Mas lá qu’agora dava um granda jeitão… lá isso dava! Tu ‘tás a ver a gente a largar o gajo dentro dum Conselho de Ministros? Aquilo é qu’havia de ser… Ministros, Secretários de Estado, Adjuntos, Consultores dos Adjuntos, Manicuras, Pedicuras… tudo a saltar p’las janelas?… e a gente sentados cá fora, a beber umas bjecas e a rir às gargalhadas, como fazíamos quando o Zé da Pipa ía roubar maçãs reinetas à mercearia do coxo.

Eheheheh… Ena pá… o Zé da Pipa… O gajo tinha a mania da pesca... Tu alembras-te, aí por alturas do 25 d’Abril, qu’o gajo ‘tava à pesca no Olho de Boi e a malta chegou lá, ao pé dele, e nacionalizámos-lhe um safio muita grande qu’ele tinha apanhado?

Ehehehe… atão não m’alembro? Foi nesse dia pó jantar, com 3 kgs de batatas. Eheheheh… Ganda caldeirada acompanhada c’o palhinhas de 5 lts que tu trouxeste lá de cima, da taberna do Pancão…

Ai… que tempos bem passados… Ó Pé Curto!...

Já sei! Já sei!... mais duas ginjinhas…

Sem comentários:

 

is where my documents live!