24 julho 2006

Gerir a raiva

Por vezes, quando se tem um mau dia e precisamos de o descarregar em alguém, não o faça em alguém seu conhecido. Descarregue em alguém que NÃO conheça.
Estava sentado à minha secretária, quando me lembrei de um telefonema que tinha de fazer. Encontrei o número e marquei-o. Respondeu um homem que disse: "Está?". Educadamente respondi-lhe: "Estou! Sou o Luís Alves. Posso falar com a Sra. Ana Marques, por favor?". Ficou com uma voz transtornada e gritou-me aos ouvidos: "Vê lá se arranjas a m**** do número certo, ó filho da p***!" e desligou o telefone.
Nem queria acreditar que alguém pudesse ser tão mal educado por causa de uma coisa destas.
Quando consegui ligar à Ana, reparei que tinha acidentalmente transposto os dois últimos dígitos. Decidi voltar a ligar para o número "errado" e, quando o mesmo tipo atendeu, gritei-lhe: "És um grande parvalhão!" e desliguei.
Escrevi o número dele juntamente com a palavra "parvalhão" e guardei-o.
De vez em quando, sempre que tinha umas contas chatas para pagar ou um dia mesmo mau, telefonava-lhe e gritava-lhe: "És um parvalhão!". Isso animava-me.
Quando surgiu a identificação de chamadas, pensei que o meu terapêutico telefonema do "parvalhão" iria acabar. Por isso liguei-lhe e disse: "Boa tarde. Daqui fala da PT. Estamos a ligar-lhe para saber se conhece o nosso serviço de identificação de chamadas!" Ele disse "NÃO!" e bateu o telefone. De seguida liguei-lhe, e disse: "É porque és um parvalhão!"
Uma vez, estava no parque do Centro Comercial e, quando me preparava para estacionar num lugar livre, um tipo num BMW cortou-me o caminho e estacionou no lugar que eu tinha estado à espera que vagasse. Buzinei-lhe e disse-lhe que estava ali primeiro à espera daquele lugar, mas ele ignorou-me. Reparei que tinha um letreiro "Vende-se" no vidro de trás do carro e tomei nota do número de telefone que lá estava. Uns dias mais tarde, depois de ligar ao primeiro parvalhão, pensei que era melhor telefonar também para o parvalhão do BMW. Perguntei-lhe: "É o senhor que tem um BMW preto à venda?" "Sim", disse ele."E onde é que o posso ver?", perguntei, "Pode vir vê-lo a minha casa, aqui na Rua da Descobertas, Nº 36. É uma casa amarela e o carro está estacionado mesmo à frente". "E o senhor chama-se?..." perguntei. "O meu nome é Alberto Palma", disse ele. "E a que horas está disponível para mostrar o carro?", "Estou em casa todos os dias depois das cinco". "Ouça, Alberto, posso dizer-lhe uma coisa?", "Diga!", "És um grande parvalhão!", e desliguei o telefone.
Agora, sempre que tinha um problema, tinha dois "parvalhões" a quem telefonar.
Tive então uma ideia: Telefonei ao parvalhão Nº 1. "Está?... És um parvalhão!" (mas não desliguei), "Ainda aí estás?" perguntou ele, "Sim", disse-lhe, "Deixa de me telefonar!" gritou. "Impede-me", respondi eu. "Quem és tu?", perguntou. "Chamo-me Alberto Palma", respondi. "Ah sim? E onde é que moras?", "Moro na Rua da Descobertas, Nº 36, e tenho o meu BM preto mesmo em frente, ó parvalhão. Porquê?", "Vou já aí, Alberto. É melhor começares a rezar", disse ele. "Estou mesmo cheio de medo de ti, ó parvalhão!" e desliguei.
A seguir liguei ao parvalhão Nº 2: "Está? Olá, parvalhão!", disse eu. Ele gritou-me: "Se descubro quem tu és...", "Fazes o quê?" perguntei-lhe, "Parto-te a tromba!", disse ele. E eu disse-lhe: "Olha, parvalhão, vais ter essa oportunidade. Vou agora aí a tua casa e já vais ver como elas mordem".
Desliguei e telefonei à Polícia, dizendo que morava na Rua da Descobertas, nº 36, e que ia agora para casa matar o meu namorado gay. Depois liguei para as cadeias de TV e falei-lhes sobre a guerra de gangs que se estava a desenrolar nesse momento na Rua da Descobertas. Peguei no meu carro e fui para a Rua das Descobertas.
Cheguei a tempo de ver dois parvalhões a matarem-se à pancada em frente de seis viaturas da polícia e uma série de repórteres de TV.
Já me sinto muito melhor.
Gerir a raiva sempre funciona.

Enviado por uma padeira de Aljubarrota.

4 comentários:

desculpeqqc disse...

LINDO ! ! ! !
Hoje vou dormir descansado.
Não importa se é ficção, é calmante imaginar os parvalhões aos estalos uns aos outros.
p.s. até a palavra de verificação do meu comentário foi simples (ooobo)

Anónimo disse...

Fico feliz por saber que o teu blog tem, para além de tudo o resto, um efeito pedagógico e terapêutico!

:o)

ldr disse...

Fenomenal :)

Teresa disse...

Loooool!
Vou pôr um anúncio no jornal "Nova terapêutica anti-rugas. Procuram-se galdérias que atendam o telemóvel com o dedo mindinho esticado, ouçam umas verdades e me ajudem a descontrair. Quanto mais parvalhonas melhor." =)

 

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