17 julho 2006

O combate de uma vida

Sim ao aborto no referendo é "combate da vida da JS".
Não há dúvida de que o PS é um partido de grandes paixões, de grandes choques, de grandes combates da vida...
Esta história das grandes "quaisquer coisas", vem, se a memória ainda me serve, dos tempos de António Guterres. E, tendo vindo, fez escola.
Escola, desde logo e que mais não seja, porque a primeira grande paixão foi a da Educação - com os resultados que todos conhecemos. Mas adiante.
A segunda foi a Saúde. Ó vil demência!...
Em curso - ainda que em marcha-atrás - temos o choque tecnológico e o Simplex. Este merecerá post em separado pelo muito que se me afigura apropriado discorrer sobre tamanha gonorreia.
Agora surge este combate da vida que, na opinião dos opositores, certamente melhor seria designado por combate contra a vida.
Já agora, e sem querer sugerir o que quer que seja, este projecto bem que podia ser designado por Durex. Porque... enfim... o objectivo é... adiante novamente.
Eu não quero ser profeta da desgraça mas gostaria, tão somente, de relembrar alguns recortes de imprensa de há precisamente oito anos atrás, depois do anterior referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez.

Manuel Alegre considerou “o resultado do referendo como «uma humilhação para o grupo parlamentar» e «uma derrota cultural da esquerda» (...).
Nesta altura não se sabe muito bem se o PS «é um partido liberal, social-democrata ou socialista»”.
Alberto Martins rebelou-se “contra a ingerência do chamado «núcleo duro» nas decisões que dizem respeito aos deputados: «afinal quem manda no PS?». (...) Disse ainda à RTP “lamentar a falta de democraticidade interna e a ausência de coordenação entre as estruturas partidárias”.
(A Capital, 2/7/98)

“O PS ainda não se apercebeu da miséria em que ficou na noite do referendo sobre o aborto. Treze dias passados sobre a derrota brutal de 28 de Junho, continua a assobiar para o ar e a fingir que tudo não passou de um mau momento. É patético que a Comissão Política dos socialistas reunida esta semana não tenha dedicado qualquer relevo à análise do que aconteceu”.
“Uma das provas de que o PS acabou foi a maneira como os ínclitos dirigentes da agremiação socialista ultrapassaram o incómodo de terem de pensar um bocadinho: vão, um dia destes, encomendar um estudo a uma universidade”.
“Guterres não saiu, nem em algum caso poderia sair, vencedor do referendo sobre o aborto. A sua posição pessoal seria compatível com a vitória do «sim», mas a paralisação e subsequente autofagia de um partido, em nome de um secretário-geral que passou a ser contra a despenalização do aborto depois de 1982, não é honra para nenhum líder.”
“Entre Manuel Alegre e alguns seus «compagnons de route» de um lado, e o chamado «núcleo duro» do outro, há um deserto - uma mole de cidadãos anestesiados, mais ou menos bem instalados no aparelho de Estado, atentos, veneradores e desobrigados de pensar, temendo que uma sua palavra ou acção vá contra o inconstante pensamento do líder quotidianamente legitimado pela única coisa que verdadeiramente o preocupa - os números, não os de Cavaco, mas os das sondagens” .
(Ana Sá Lopes, Requiem pelo Partido Socialista, Público, 11/7/98)

“(...) acho que o PS está a ficar cada vez mais parecido com uma confederação de interesses, grupos de pressão, «lobbies», cavalheiros de indústria, caciques locais e senhores feudais - um pouco à imagem e semelhança do PSD”.
“(...) de facto, quer a Igreja Católica quer os grupos económicos parece terem uma influência muito grande em certo tipo de decisões que o PS e o Governo tomam”.
“Neste caso concreto do referendo sobre a despenalização do aborto, penso que a Igreja Católica teve indirectamente um peso fundamental, para mim lamentável, na atitude que o PS acabou por assumir”.
(Entrevista a O Independente, de Alfredo Barrroso, fundador do PS, 24/7/98)

Vai uma apostinha em como tudo isto ainda hoje é válido e que mais um monumental espalhanço se avizinha?

PS (de Post Scriptum, não de Partido Socialista - Ahrrrrggghhhh! Arrenego-te Satanás!): Este post merecia uma foto do pai de todas as paixões mas, como não foi possível encontrar uma que me agradasse, optei pela de um outro (embora menos) iluste emplastro que sei, perdõe-se-me a imodéstia, reunir um maior consenso no agrado de todos vós.

1 comentário:

Francis disse...

a imagem é linda.

 

is where my documents live!