10 junho 2010

A mulher da geração Pandora

A minha amiga Estela afirma a pés juntos que existe uma mulher Pandora.
Segundo ela, esta criatura tem entre trinta e quarenta anos. Na infância e adolescência foi sendo formatada pela mãezinha para um determinado percurso optimizado de vida: estudar até rebentar e tirar um curso superior à força (nem que fosse uma coisa de difícil aplicação profissional, tipo Línguas e Literaturas ou Engenharia Alimentar); desencantar urgentemente um emprego (nem que não tivesse nada a ver com o curso superior recém-concluído); arranjar sem demora um namorado com futuro (nem que não fosse exactamente o príncipe encantado com que sempre sonhara); comprar casa e casar ao fim de um ano; engravidar imediatamente e ter um primeiro filho; ter um segundo filho, um ano depois do primeiro; entrar em velocidade de cruzeiro e aguentar sem tugir nem mugir as vicissitudes de ter que tratar da casa e dos filhos; aturar um patrão irascível; e estar sempre disponível para os apetites sexuais do marido que, entretanto, se tornou cada vez distante.
Almejando ultrapassar o arrepio que esta descrição me causou, fui tentando aplicar a fórmula a algumas mulheres que conheço e que, de algum modo, se poderiam encaixar no padrão.
Hmmmmmm!
Mas o que tem isso a ver com Pandora? perguntei.
Foi então que me explicou, tim-tim por tim-tim, o carácter etno-antropológico que subjaz à pulseira Pandora e a toda a panóplia de pequenas peças compradas separadamente, com as quais se vai compondo gradualmente a dita pulseira. Cada uma dessas peças, designadas charms, pretende simbolizar um momento marcante ou uma ocasião especial na vida da sua detentora. Assim, o sucesso de uma mulher Pandora mede-se pela quantidade e qualidade dos charms que a sua pulseira ostenta.
Tremi ao pensar que esta peça de joalharia feita vitrina de troféus é a versão feminina e contemporânea equivalente aos colares feitos com as orelhas de inimigos que os homens de algumas tribos da Nova-Guiné traziam orgulhosamente ao pescoço...
E de repente voltei a tremer. Lembrei-me de que algumas das mulheres minhas conhecidas nas quais tinha pensado anteriormente exibem, realmente, as famigeradas pulseiras.
Meu Deus... será possível?

2 comentários:

Unknown disse...

Eu nem uso pulseiras! :-)

Anónimo disse...

Uma das razões pelas quais temos tantos problemas nesta vida, é porque insistimos em esquecer coisas que deveriamos lembrar e porque,deliberadamente nos lembramos de coisas que deveriamos esquecer.
bjkas.....
estrela

 

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