15 junho 2010

O dia em que S. Lourenço chorou.

Como não sabia sobre o que escrever  fui aconselhado ao telefone (bj grande, Ré) a escrever sobre essa mesma ausência de vontade. Achei que este meu repositório de memórias merecia algo menos estéril. Mas onde procurar inspiração quando as musas não nos acodem?
Em processo retrospectivo fui rebobinando estas minhas últimas horas e não é que?...
Estive ao fogão a fazer a janta. Um bife do acém, modesto - desemprego oblige - e um panelão cheio de legumes cozidos. Cenoura, feijão verde, bróculos e uma courgete.
Enquanto fui depositando os legumes no tacho consoante os diversos tempos de cozedura, (gosto de tudo al dente), mantive uma acesa conversa com o meu São Lourenço que reside sobre a aba do extractor de fumos.
São Lourenço era Espanhol (das poucas coisas boas oriundas de Espanha - entre o presunto, as espanholas e... não me consigo lembrar de mais nada). Viveu no século III e foi um dos primeiros diáconos da Igreja Católica. Era o responsável pelo tesouro e pela distribuição das esmolas. Em 257 o Imperador Valeriano, com Roma tão tesa quanto o Portugal de hoje, decretou a apreensão dos bens da Igreja. O Papa Sisto II recusou e, em consequência, foi decapitado. A caminho do cadafalso, Lourenço ter-se-á aproximado do Papa e dito:
- Onde vai meu pai sem seu diácono?
Ao que Sisto II terá respondido:
- Não penses que te abandono, meu filho. Dentro de três dias voltarei a estar na tua presença!
Valeriano ordenou a Lourenço que, no prazo de três dias, procedesse à entrega de todas riquezas da Igreja. Durante esse período Lourenço distribuiu todo o dinheiro existente pelos pobres de Roma. No dia indicado compareceu perante o Imperador e, acompanhado por todos estes pobres, proferiu a seguinte a frase:
- Eis Senhor, a riqueza da Igreja!
Valeriano condenou-o a ser morto pelo fogo, mais exactamente sobre uma grelha. Consta que, durante o suplício, Lourenço terá dito aos seus carrascos:
- Podem virar-me para o outro lado porque deste já estou bem passado!
E por que carga de água tenho eu um São Lourenço sobre o fogão?
Porque devido ao episódio da grelha, São Lourenço foi, desde então, adoptado como Santo padroeiro dos cozinheiros.
Pensavam o quê? Que a conversa não ia dar em nada? Que era só um devaneio motivado pelo rum? Hein?
Trocávamos nós alegres impressões sobre o facto de a carne já não ser o que era, de os legumes terem perdido grande parte do seu sabor característico, quando lhe perguntei;
- Lourenço... sabes do que é que eu não gosto mesmo? É de fazer comer só para mim.
Tenho saudades de fazer comer para muitos, de tentar satisfazer todos os gostos, de me zangar quando os desafios culinários dão mal resultado...
Gostaste de repartir as riquezas pelos indigentes? Gostaste de servir aqueles que amavas? Também eu gostava de poder fazer o mesmo.
Não sei se foi do rum mas juro-vos que São Lourenço chorou... E eu chorei com ele...

4 comentários:

Ré disse...

"Nossa vida é o que os nossos pensamentos fazem dela". (Marco Aurélio)

Todo o Santo dia repito isto para mim, além de outras coisas. (porque será?)
A vida não é facil, é dura, severa e muitas das vezes injusta. Mas será que é mesmo assim, ou não seremos nós que a tornamos assim? que nos acomodamos ao que temos por termos medo do novo?
Todos nós temos provações diárias, mas temos de reagir e NUNCA cruzar os braços, e TU CONSEGUES, basta QUERES...talvez nao seja da forma como gostarias, mas CONSEGUES.
Pensa positivo, imagina diariamente como sendo algo que já existe...pois eu sei que vais conseguir. ACREDITA.

PS: tens de arranjar um companheiro para o S.Lourenço

Beijo

Ré disse...

Apaga o ultimo comentario, esta repetido ahahaha e nao bebi Mojito ahahah

Pirolito disse...

Como o teu comentário apareceu duplicado, apaguei um deles, ok?
Bj

Unknown disse...

Não conhecia a historia do S.Lourenço e deliciei-me a lê-la...
Como diz a "Ré" tens que arranjar uma "Santa" para fazer companhia ao S.Lourenço, nem que seja para te ajudar a beber o Rum. :)

 

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