Por entre o luar e as sombras, procuraram-se.
Rosmaninho, alecrim e alfazema reclamavam os odores da noite.
Ao longe alguém levantou o volume de um rádio e o silêncio do momento encheu-se de uma das mais belas canções alguma vez escritas: It's all over now, Baby Blue.
O estertor provocado pelo tom ameaçadoramente premonitório das palavras urgiu o enlace entre ambos.
Deram-se as mãos, deram-se os lábios... deram-se os corpos. Não se trocaram garantias de presente nem promessas de futuro.
Junto ao ouvido dela, ele não abriu a boca para uma única das muitas palavras de amor que ela ouviu naquele instante. Assim era sem necessário ser. Assim se falava sem dizer.
Um corrupio de carícias percorreu ambos os corpos, prazeres e sevícias aplicados reciprocamente até onde a latitude de cada um o permitiu.
Encurralados entre o instante fugaz e a possibilidade de serem observados, amaram-se em silêncio.
Suspiro sobre suspiro, arrepio sobre arrepio, construiram um momento de êxtase comum. Dedos cravados na alma entre-puxaram os corpos, a cadência aumentou e cabeças penderam para trás.
Tudo parou: o movimento aparente das estrelas cessou e o céu, cumprindo a canção, dobrou-se sobre ambos, naquilo que foi, tanto e tão pouco, um princípio e um fim.
It's all over now, baby blue
Bella Wagner
(Original de Bob Dylan)
21 junho 2010
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4 comentários:
Palavras para que. Muito bom.
bjs
Só me ocorre dizer...nham, nham...:D
nham, nham???!!!!
por amor da santa!!!
Caro anónimo ou anónima:
Amor á santa, não é mesmo algo que me suscitasse um comentário do tipo "nham, nham", ainda se fosse ao santo...
Já o texto escrito, levou-me a pensamentos menos santos e mais libidinosos, comestiveis mesmo, mas claro que para isso a nossa imaginação tem que funcionar, e temos que ter a capacidade de sentir e de interpretar o que lemos.
Mas, isto é a minha opinião claro,já que nem todos temos a capacidade de interpretar as coisas da mesma maneira.
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