Auto-retrato |
31 dezembro 2010
Barcelona - Apontamentos de viagem X
22.12.10
Mas que aventura!
Regresso adiado de Domingo 19 para Quarta-Feira 22.
Agora adiado novamente para amanhã...
Ainda passo o Natal aqui.
Já não é a primeira vez que me acontece disto.
Mas que magna chatice andar com a mochila às costas, para trás e para a frente.
Hoje a coisa tornou-se ainda mais aborrecida em virtude de estar aqui pregado no aeroporto à espera que haja um número mínimo de "adiados" para encher o autocarro que nos levará ao hotel. Mas pensando melhor, talvez não venha a ser grande espera. O monitor mostra dezassete vôos cancelados pela EasyJet. Bem podem mandar vir autocarros...
À margem da brincadeira: espero muito, muito, muito conseguir passar o Natal em Portugal. Gostava de dar uma grande beija nos meus filhos.
É aguardar...
Mas que aventura!
Regresso adiado de Domingo 19 para Quarta-Feira 22.
Agora adiado novamente para amanhã...
Ainda passo o Natal aqui.
Já não é a primeira vez que me acontece disto.
Mas que magna chatice andar com a mochila às costas, para trás e para a frente.
Hoje a coisa tornou-se ainda mais aborrecida em virtude de estar aqui pregado no aeroporto à espera que haja um número mínimo de "adiados" para encher o autocarro que nos levará ao hotel. Mas pensando melhor, talvez não venha a ser grande espera. O monitor mostra dezassete vôos cancelados pela EasyJet. Bem podem mandar vir autocarros...
À margem da brincadeira: espero muito, muito, muito conseguir passar o Natal em Portugal. Gostava de dar uma grande beija nos meus filhos.
É aguardar...
30 dezembro 2010
Barcelona - Apontamentos de viagem VIII
20.12.2010
Museu Picasso também encerrado.
Resolvi percorrer o Bairro Gótico pelos meandros que ainda não conhecia. De seguida, e para poupar os pés, decidi voltar em direcção às Ramblas por zonas mais familiares. O local onde fiquei hospedado durante a primeira vez que cá estive mantém-se inalterado. Zona do porto, de marujada... les bas-fonds.
Escala obrigatória Bosc de les Fades (espécie de bar do Museu de Cera).
O ambiente recria isso mesmo: um bosque de fadas.
É uma coisa surreal, um misto de A Irmandade do Anel com As Crónicas de Nárnia. Vale sempre a pena revisitar.
A aventura, desta feita, consistiu em ter conseguido escrever estas linhas quase às escuras sem que o caderno tenha ficado qual baixo-relevo do Alto-Egipto.
Uma caña para retemperar energias e arrefecer as botas e os seus inquilinos.
Museu Picasso também encerrado.
Resolvi percorrer o Bairro Gótico pelos meandros que ainda não conhecia. De seguida, e para poupar os pés, decidi voltar em direcção às Ramblas por zonas mais familiares. O local onde fiquei hospedado durante a primeira vez que cá estive mantém-se inalterado. Zona do porto, de marujada... les bas-fonds.
Escala obrigatória Bosc de les Fades (espécie de bar do Museu de Cera).
O ambiente recria isso mesmo: um bosque de fadas.
É uma coisa surreal, um misto de A Irmandade do Anel com As Crónicas de Nárnia. Vale sempre a pena revisitar.
A aventura, desta feita, consistiu em ter conseguido escrever estas linhas quase às escuras sem que o caderno tenha ficado qual baixo-relevo do Alto-Egipto.
Uma caña para retemperar energias e arrefecer as botas e os seus inquilinos.
29 dezembro 2010
Barcelona - Apontamentos de viagem VI
20.12.2010
Bairro Gótico e Catedral.
Exposições e passeios pelas ruas.
O Museu da Cidade está fechado por ser Segunda-Feira. Parece não querer ser visto. Volto amanhã!?
Duas da tarde. Já?
Supermercado: uma embalagem de presunto, uma lata de cerveja e uma garrafa de água.
Padaria: Una barra (cacete).
Sim... porque a Easyjet não paga verdadeiramente tudo. ;-)
Esta zona não tem um banco que seja onde nos possamos sentar. Também assim se mede a acessibilidade de uma cidade.
Decidi vir comer para a escadaria da Catedral. Não dá muito bom aspecto, mesmo para um espiritualista profano como eu, estar a bebericar cerveja nos degraus de uma igreja. Mas prontos! Um Português enrascado é coisa que ainda está para ser inventada. E prova de que assim é, atente-se no que se passou de seguida.
Toca o telefone. A minha rica mãe. Queria saber o que era feito de mim, se tinha regressado a Portugal sem dar notícias. Enquanto lhe explicava o sucedido - que me tinham cancelado o vôo no Domingo, remarcado para Quarta-Feira, etc., etc. - não pude deixar de pensar: "Qualquer dia morro algures por esse mundo e só quando a minha mãe se lembrar é que os restantes darão também pela minha falta."
Terminei o telefonema e surgiu-me pela frente um jovem:
- "Desculpe. Percebi que é Português. Tira-me uma foto para recordação?"
Era Madeirense; Português; desenrascado.
A caminho de onde estou, ao percorrer lateralmente a Catedral, entrei na Capela de Santa Lúcia (padroeira da feira de artesanato natalício que tem lugar em frente ao templo durante esta quadra). Dá-me sempre muita paz.
É um local onde o turista apenas mete a cabeça para espreitar.
Capela modesta, atrás de grades, três ou quatro filas de bancos.
Aborrecem-me as velas eléctricas. Coisas que não entendo: vela é vela; fogo é fogo; luz é luz. Lâmpada não é vela; electricidade não é fogo; a luz é artificial.
Enfim!...
É hora de arrumar o caderno. Vou ver se me presenteio com um café (coisa que, por aqui, é quase sempre horrível).
Bairro Gótico e Catedral.
Exposições e passeios pelas ruas.
O Museu da Cidade está fechado por ser Segunda-Feira. Parece não querer ser visto. Volto amanhã!?
Duas da tarde. Já?
Supermercado: uma embalagem de presunto, uma lata de cerveja e uma garrafa de água.
Padaria: Una barra (cacete).
Sim... porque a Easyjet não paga verdadeiramente tudo. ;-)
Esta zona não tem um banco que seja onde nos possamos sentar. Também assim se mede a acessibilidade de uma cidade.
Decidi vir comer para a escadaria da Catedral. Não dá muito bom aspecto, mesmo para um espiritualista profano como eu, estar a bebericar cerveja nos degraus de uma igreja. Mas prontos! Um Português enrascado é coisa que ainda está para ser inventada. E prova de que assim é, atente-se no que se passou de seguida.
Toca o telefone. A minha rica mãe. Queria saber o que era feito de mim, se tinha regressado a Portugal sem dar notícias. Enquanto lhe explicava o sucedido - que me tinham cancelado o vôo no Domingo, remarcado para Quarta-Feira, etc., etc. - não pude deixar de pensar: "Qualquer dia morro algures por esse mundo e só quando a minha mãe se lembrar é que os restantes darão também pela minha falta."
Terminei o telefonema e surgiu-me pela frente um jovem:
- "Desculpe. Percebi que é Português. Tira-me uma foto para recordação?"
Era Madeirense; Português; desenrascado.
A caminho de onde estou, ao percorrer lateralmente a Catedral, entrei na Capela de Santa Lúcia (padroeira da feira de artesanato natalício que tem lugar em frente ao templo durante esta quadra). Dá-me sempre muita paz.
É um local onde o turista apenas mete a cabeça para espreitar.
Capela modesta, atrás de grades, três ou quatro filas de bancos.
Aborrecem-me as velas eléctricas. Coisas que não entendo: vela é vela; fogo é fogo; luz é luz. Lâmpada não é vela; electricidade não é fogo; a luz é artificial.
Enfim!...
É hora de arrumar o caderno. Vou ver se me presenteio com um café (coisa que, por aqui, é quase sempre horrível).
28 dezembro 2010
Barcelona - Apontamentos de viagem V
20.12.10
Saio do quarto, ensonado.
Phones nos ouvidos, aperto o blusão e percorro o corredor que me conduz ao ascensor. A carpete azul, pontilhada de pequenos quadrados brancos, e a sucessão de surrealismo encartonado que pende das paredes, dão à mancha uma sensação de vertigem que não apetece.
As portas do hotel abrem-se para um sol que me faz vacilar. Sorvo a luz e o calor, agradeço, rumo à estação de combóios.
Três paragens apenas até à Plaça de Catalunya, bem no coração da cidade.
A hora de ponta ficou para trás e as carruagens vão vazias. Sorrio ao lembrar a tradição segundo a qual, para nuestros hermanos, entre a Segunda-Feira e o Domingo há pouca diferença.
Pensei para comigo: "tenho que registar estes momentos."
Há muito tempo me apercebi não existir melhor forma de recordar um momento, uma imagem, um sentimento, o que for, do que fazê-lo através da escrita.
Como escreveu Gabriel García Márquez "Escrever é melhor do que viver!".
Como sou avesso a escrever em movimento, abandonei, no momento, a ideia.
Olhei para o exterior e vi a cidade aproximar-se rapidamente. Fachadas suburbanas; linhas de alta-tensão; barreiras de betão; graffitis, muitos, coloridos, quentes, frios; tudo entrecortando o céu azul, manchado por uma difusa névoa branca, como restos de um sonho.
Subitamente fez-se escuro. O combóio penetrou as entranhas da urbe e tudo ganhou um novo espectro.
Surge a estação. O tempo e o espaço abrandam.
No exterior uma jovem está de cócoras sorvendo as últimas páginas de um livro.
É difícil esperar pelo fim de um livro! Esperamos pelo combóio, esperamos por muitas coisas na vida. Os combóios chegam sempre, ainda que, por vezes, atrasados. O que esperamos da vida nem sempre chega. Talvez porque seja isso o que há a fazer: dela nada esperar.
Abrem-se as portas. Levanto-me. Mochila às costas...
Barcelona, aqui vou eu!...
Saio do quarto, ensonado.
Phones nos ouvidos, aperto o blusão e percorro o corredor que me conduz ao ascensor. A carpete azul, pontilhada de pequenos quadrados brancos, e a sucessão de surrealismo encartonado que pende das paredes, dão à mancha uma sensação de vertigem que não apetece.
As portas do hotel abrem-se para um sol que me faz vacilar. Sorvo a luz e o calor, agradeço, rumo à estação de combóios.
Três paragens apenas até à Plaça de Catalunya, bem no coração da cidade.
A hora de ponta ficou para trás e as carruagens vão vazias. Sorrio ao lembrar a tradição segundo a qual, para nuestros hermanos, entre a Segunda-Feira e o Domingo há pouca diferença.
Pensei para comigo: "tenho que registar estes momentos."
Há muito tempo me apercebi não existir melhor forma de recordar um momento, uma imagem, um sentimento, o que for, do que fazê-lo através da escrita.
Como escreveu Gabriel García Márquez "Escrever é melhor do que viver!".
Como sou avesso a escrever em movimento, abandonei, no momento, a ideia.
Olhei para o exterior e vi a cidade aproximar-se rapidamente. Fachadas suburbanas; linhas de alta-tensão; barreiras de betão; graffitis, muitos, coloridos, quentes, frios; tudo entrecortando o céu azul, manchado por uma difusa névoa branca, como restos de um sonho.
Subitamente fez-se escuro. O combóio penetrou as entranhas da urbe e tudo ganhou um novo espectro.
Surge a estação. O tempo e o espaço abrandam.
No exterior uma jovem está de cócoras sorvendo as últimas páginas de um livro.
É difícil esperar pelo fim de um livro! Esperamos pelo combóio, esperamos por muitas coisas na vida. Os combóios chegam sempre, ainda que, por vezes, atrasados. O que esperamos da vida nem sempre chega. Talvez porque seja isso o que há a fazer: dela nada esperar.
Abrem-se as portas. Levanto-me. Mochila às costas...
Barcelona, aqui vou eu!...
26 dezembro 2010
Barcelona - Apontamentos de viagem III
19.12.2010
Despedidas
Um último olhar por sobre o ombro para a Rambla.
"Adeus Barcelona!" exclamei mentalmente enquanto me encaminhava para a paragem do autocarro que me conduziria ao aeroporto.
No local, dois casais. Cedo deu para perceber que se estavam a despedir. Relembrei um episódio recente na estação da Fertagus no Pragal.
Se eu mandasse alguma coisa acabava com as despedidas.
Saí da bicha e dirigi-me para o mercado de antiguidades que se faz nos passeios da Plaça de Catalunya.
Renovei uma busca que me acompanha há quase dois anos. Procuro um terço que me chame e me diga: "Leva-me! Estou aqui por insondáveis mistérios. Cheguei cá não importa por que caminhos. O que necessitas saber é apenas que aqui estou por ti e para ti, para te aconchegar, para te afagar o peito, para suster o bater descompassado desse teu coração sem paz, para te ancorar na luz que a tantos ofereces mas à qual não te permites."
Já enverguei um terço com uma história própria, uma história de Veneza, uma história linda mas que não era a minha. Talvez por essa razão nunca o tenha sentido como "meu". Dele me despedi com o coração destroçado, mas não por ele.
Ainda não foi hoje que a demanda conheceu o seu final.
Lembrei as palavras do poeta Senegalês Amadou Sall, apostas numa foto da exposição que visitei hoje pela manhã:
- Tant qu'il y a le ciel, il y a toujours l'espoir qu'un oiseau y passe.
Virei costas. Acelerei um passo que mais não pretendeu senão fugir às lágrimas dos que se continuavam a despedir.
Disse novamente adeus a Barcelona.
O autocarro arrancou. Sentei-me abraçado à mochila. Enquanto a Melody Gardot me sussurava ao ouvido Deep within the corners of my heart, a cidade de Gaudi foi ficando para trás, sob um céu acobreado pelos últimos estertores do sol que, também ele, fazia as despedidas de mais um dia, um dos últimos deste Outono Catalão.
Deep within the corners of my heart
Melody Gardot
Despedidas
Um último olhar por sobre o ombro para a Rambla.
"Adeus Barcelona!" exclamei mentalmente enquanto me encaminhava para a paragem do autocarro que me conduziria ao aeroporto.
No local, dois casais. Cedo deu para perceber que se estavam a despedir. Relembrei um episódio recente na estação da Fertagus no Pragal.
Se eu mandasse alguma coisa acabava com as despedidas.
Saí da bicha e dirigi-me para o mercado de antiguidades que se faz nos passeios da Plaça de Catalunya.
Renovei uma busca que me acompanha há quase dois anos. Procuro um terço que me chame e me diga: "Leva-me! Estou aqui por insondáveis mistérios. Cheguei cá não importa por que caminhos. O que necessitas saber é apenas que aqui estou por ti e para ti, para te aconchegar, para te afagar o peito, para suster o bater descompassado desse teu coração sem paz, para te ancorar na luz que a tantos ofereces mas à qual não te permites."
Já enverguei um terço com uma história própria, uma história de Veneza, uma história linda mas que não era a minha. Talvez por essa razão nunca o tenha sentido como "meu". Dele me despedi com o coração destroçado, mas não por ele.
Ainda não foi hoje que a demanda conheceu o seu final.
Lembrei as palavras do poeta Senegalês Amadou Sall, apostas numa foto da exposição que visitei hoje pela manhã:
- Tant qu'il y a le ciel, il y a toujours l'espoir qu'un oiseau y passe.
Virei costas. Acelerei um passo que mais não pretendeu senão fugir às lágrimas dos que se continuavam a despedir.
Disse novamente adeus a Barcelona.
O autocarro arrancou. Sentei-me abraçado à mochila. Enquanto a Melody Gardot me sussurava ao ouvido Deep within the corners of my heart, a cidade de Gaudi foi ficando para trás, sob um céu acobreado pelos últimos estertores do sol que, também ele, fazia as despedidas de mais um dia, um dos últimos deste Outono Catalão.
Deep within the corners of my heart
Melody Gardot
25 dezembro 2010
Barcelona - Apontamentos de viagem I
19.12.2010
A Rambla continua imparável. Uma catadupa de gente pelo passeio central, subindo ou descendo, tornando quase impossível ao mais afoito dos mortais tentar atravessá-la lateralmente.
Esqueci-me de reservar mesa para o almoço no Can Culleretes. Fiquei para a mesa das 15,30 horas. Entretanto, na esquina da mesma rua (Carrer Quintana) fica a Mikel-Etxea, uma taberna basca que apresenta uns pinchos fora-de-série e que preencheram a espera.
Ontem à noite andei por Montjuïc. Vale muito a pena visitar. Os jardins, os equipamentos... tudo, tudo muito bonito. E a vida que por ali se leva... Aqueles arbustos devem ter muito que contar. É uma vertente de Barcelona a não menosprezar e a revisitar quando possível.
Não deixa de ser curioso como Barcelona parece ter sempre um pedaço mais para ver.
Não consigo evitar ser assolado por uma estranha sensação: a de que esta cidade - como provavelmente qualquer outra no mundo - não é algo de que se disfrute sózinho.
Tempos houve em que me dava um particular prazer palmilhar tudo no meu próprio passo. Já não é assim!
Estarei a ficar velho?
Estarei a ficar só?
A Rambla continua imparável. Uma catadupa de gente pelo passeio central, subindo ou descendo, tornando quase impossível ao mais afoito dos mortais tentar atravessá-la lateralmente.
Esqueci-me de reservar mesa para o almoço no Can Culleretes. Fiquei para a mesa das 15,30 horas. Entretanto, na esquina da mesma rua (Carrer Quintana) fica a Mikel-Etxea, uma taberna basca que apresenta uns pinchos fora-de-série e que preencheram a espera.
Torre das Comunicações (Arq. Santiago Calatrava) Montjuïc |
Não deixa de ser curioso como Barcelona parece ter sempre um pedaço mais para ver.
Não consigo evitar ser assolado por uma estranha sensação: a de que esta cidade - como provavelmente qualquer outra no mundo - não é algo de que se disfrute sózinho.
Tempos houve em que me dava um particular prazer palmilhar tudo no meu próprio passo. Já não é assim!
Estarei a ficar velho?
Estarei a ficar só?
Estádio Olímpico Montjuïc |
Entretém
Como o Natal é (por opção) sózinho, pelo segundo ano consecutivo, achei boa ideia vir aqui partilhar convosco os apontamentos de viagem feitos durante esta semana em Barcelona.
É um entretém como outro qualquer.
Vou dividir os textos em posts separados para não se tornarem maçadores. Ou publico-os durante vários dias. Ainda não sei.
Para já vou tratar dos meus cães.
Beijos e abraços.
Já agora (que sou um desprendido nestas coisas) Boas-Festas e Feliz Natal para todos.
Have yourself a merry little Christmas
Celtic Woman
É um entretém como outro qualquer.
Vou dividir os textos em posts separados para não se tornarem maçadores. Ou publico-os durante vários dias. Ainda não sei.
Para já vou tratar dos meus cães.
Beijos e abraços.
Já agora (que sou um desprendido nestas coisas) Boas-Festas e Feliz Natal para todos.
Have yourself a merry little Christmas
Celtic Woman
14 dezembro 2010
Pausa para uma lufada de ar
Não!...
Não me aconteceu nada de mau. Estou atrapalhado com o meu tempo, com a minha vontade, com a minha inspiração, enfim... com a minha vidoca.
Tenho saudades do blog.
Tenho saudades de muitos de vós que não vejo há demasiado tempo.
Voltarei!...
Não me aconteceu nada de mau. Estou atrapalhado com o meu tempo, com a minha vontade, com a minha inspiração, enfim... com a minha vidoca.
Tenho saudades do blog.
Tenho saudades de muitos de vós que não vejo há demasiado tempo.
Voltarei!...
09 dezembro 2010
04 dezembro 2010
BSO XIII
Set the fire to the third bar
Snow Patrol ft Martha Wainwright
Juntos ao Luar / Dear John (2010)
02 dezembro 2010
E para não parecer que estou demasiado cáustico...
Who's gonna save my soul
Gnarls Barkley
O que eu gosto desta canção...
Fáxavor de não mecher...
Com que então pensavam que só os construtores patos-bravos é que davam calinadas no belo Português?
Enganam-se!
Esta foto foi tirada num dos vários quartos da enfermaria do Serviço de Neurocirurgia de um hospital público da nossa praça.
(Não digo qual com receio que façam uma lobotomia a uma pessoa de família que lá tenho internada)
Como dizia o outro: E andou esta gente na universidade...
Sim... porque mecher no comando não é proeza ao alcance de qualquer um...
E assim se minimizam os números do desemprego em Portugal.
Considero-me um indivíduo particularmente atento às coisas que me dizem respeito, sobretudo se, ainda que muito remotamente, essas coisas envolverem o nosso Estado.
Inscrito que estava no Centro de Emprego do Seixal desde que fiquei desempregado há cerca de dois anos, fiz sempre questão de devolver todos os postais, postalinhos e postalões que me enviavam periodicamente a perguntar se continuava interessado na inscrição. Fui até, pasme-se, convocado para algumas acções de informação onde, sem qualquer vergonha pelo inequívoco desprezo manifestado pelos curriculos individuais, me quiseram ensinar a elaborar um Curriculum Vitae. Fui a todas... apesar da agonia.
Tendo mudado de domicílio (do Concelho do Seixal para o Concelho de Almada), desloquei-me hoje ao Centro de Emprego de Almada onde solicitei a alteração de morada. Responderam-me que o processo passaria por uma inscrição completamente nova uma vez que, por não ter devolvido um postal (O QUE É MENTIRA - MENTIRA - MENTIRA) em Dezembro de 2009, eu não me encontrava inscrito em qualquer centro de emprego. E tudo isto sem sequer ter ganho um Euro que fosse em subsídios de desemprego pois, por ter sido trabalhador liberal a emitir recibos verdes, nunca a tal mimo tive direito.
Fica um conselho a todos vós, extensível a todas as pessoas que conheçam na mesma situação:
- Confirmem periodicamente se a vossa inscrição continua em vigor. Estes marmanjos são capazes de tudo e mais alguma coisa, ainda que, para benefício das estatísticas, não hesitem em retirar das bases de dados o nome de uma pessoa perfeitamente qualificada e desesperadamente à procura de emprego.
Este ESTADO é uma vergonha e, infelizmente, alguns funcionários públicos, feitos lacaios, afinam pelo mesmo diapasão.
Inscrito que estava no Centro de Emprego do Seixal desde que fiquei desempregado há cerca de dois anos, fiz sempre questão de devolver todos os postais, postalinhos e postalões que me enviavam periodicamente a perguntar se continuava interessado na inscrição. Fui até, pasme-se, convocado para algumas acções de informação onde, sem qualquer vergonha pelo inequívoco desprezo manifestado pelos curriculos individuais, me quiseram ensinar a elaborar um Curriculum Vitae. Fui a todas... apesar da agonia.
Tendo mudado de domicílio (do Concelho do Seixal para o Concelho de Almada), desloquei-me hoje ao Centro de Emprego de Almada onde solicitei a alteração de morada. Responderam-me que o processo passaria por uma inscrição completamente nova uma vez que, por não ter devolvido um postal (O QUE É MENTIRA - MENTIRA - MENTIRA) em Dezembro de 2009, eu não me encontrava inscrito em qualquer centro de emprego. E tudo isto sem sequer ter ganho um Euro que fosse em subsídios de desemprego pois, por ter sido trabalhador liberal a emitir recibos verdes, nunca a tal mimo tive direito.
Fica um conselho a todos vós, extensível a todas as pessoas que conheçam na mesma situação:
- Confirmem periodicamente se a vossa inscrição continua em vigor. Estes marmanjos são capazes de tudo e mais alguma coisa, ainda que, para benefício das estatísticas, não hesitem em retirar das bases de dados o nome de uma pessoa perfeitamente qualificada e desesperadamente à procura de emprego.
Este ESTADO é uma vergonha e, infelizmente, alguns funcionários públicos, feitos lacaios, afinam pelo mesmo diapasão.
30 novembro 2010
Velha em paragem de autocarro
Sentada, de olhar perdido no vazio, aconchega no colo a carteira e o chapéu de chuva castanhos.
Leva uma mão à boca e corre todos os dedos em demanda de uma unha para roer. Desiste, exalando um suspiro de frustração que sai enrolado ao pescoço de uma baforada de ar quente.
Consulta o relógio.
Franzindo a tez, apura dois olhos míopes e procura, no fundo da rua, o autocarro que não chega.
Levanta a cabeça. Sorri...
Diverte-se com as nuvens que trabalham o azul do céu como uma renda de bilros. A lua, em quarto minguante, espreita lá de longe como que a dizer "gosto muito de ti!".
Pousando o queixo na palma de uma mão, cotovelo apoiado no joelho, pensa nos filhos que não lhe telefonam nem a visitam senão em ocasiões festivas. Procura um raciocínio que a console... Não estar perto de determinadas pessoas não significa que não as amemos. Por vezes, essa distância, esse estar apartado, faz com que as amemos ainda mais.
É isso!... Só pode ser isso!... O contrário seria impensável.
Interrompida pelo som familiar do transporte que chega, levanta-se do banco da paragem esboçando um esgar de dor. É só mais um pouco. Daqui a nada estará sentada no banco do autocarro, à janela, de olhar uma vez mais perdido no vazio.
Leva uma mão à boca e corre todos os dedos em demanda de uma unha para roer. Desiste, exalando um suspiro de frustração que sai enrolado ao pescoço de uma baforada de ar quente.
Consulta o relógio.
Franzindo a tez, apura dois olhos míopes e procura, no fundo da rua, o autocarro que não chega.
Levanta a cabeça. Sorri...
Diverte-se com as nuvens que trabalham o azul do céu como uma renda de bilros. A lua, em quarto minguante, espreita lá de longe como que a dizer "gosto muito de ti!".
Pousando o queixo na palma de uma mão, cotovelo apoiado no joelho, pensa nos filhos que não lhe telefonam nem a visitam senão em ocasiões festivas. Procura um raciocínio que a console... Não estar perto de determinadas pessoas não significa que não as amemos. Por vezes, essa distância, esse estar apartado, faz com que as amemos ainda mais.
É isso!... Só pode ser isso!... O contrário seria impensável.
Interrompida pelo som familiar do transporte que chega, levanta-se do banco da paragem esboçando um esgar de dor. É só mais um pouco. Daqui a nada estará sentada no banco do autocarro, à janela, de olhar uma vez mais perdido no vazio.
Tenho saudades deste homem
Fernando Assis Pacheco
01.02.1937/30.11.1995
Variações sobre um fado
Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
- tanto pó sobre os móveis tua ausência.
Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.
Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
"Que me importa que batam à porta...
"Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.
Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
se lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.
Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?
in Cuidar dos Vivos
29 novembro 2010
Sons (de segunda-feira)
Speaking of Happiness
Gloria Lynne
[hoje apeteceu-me um oldie mais dengoso... Quero ir p'á (minha) ilha!!!!!!!!!!!!!!]
26 novembro 2010
Os "ers" e os "res" do nosso (des)contentamento.
Hoje fui deixar o meu xotas à escola e depois fui até ao Meco para matar o vício da pesca. Foi daquelas coisas que se faz em desespero de causa: o mar não estava minimamente em condições e a água era lusa, de um verde esmeralda cristalino.
Depois de um "para trás e para a frente" de cerca de três horas, achei por bem dar a campanha por terminada, até porque já contava com dois braços molhados e enregelados até aos cotovelos.
De regresso a casa e a um duche de água a escaldar, fiz-me à estrada.
Parei num stop no cruzamento da Aldeia do Meco para o Cabo Espichel e Alfarim. Como manda o código, abri bem a pestana em todas as direcções. Acto contínuo, dou de trombas com este magnífico cartaz que achei merecedor de uma foto.
Não foi bem o "assoalhdas" que me ficou na retina. O que me traumatizou verdadeiramente foi o "premuta-se".
Ora "pre"+"muta-se", seria um "antes" de "mutar"?
Se "mutar" significa mudar, será que o construtor pertendeu afirmar que está perparado e disponível para alterar a moradia de modo a encaixar prefeitamente nas perferências do cliente?
Estas mensagens subliminares não são preceptíveis assim a modos que logo à primeira. Para dizer a verdade, só me aprecebi da coisa enquanto esperava pelo almoço de entercosto guerlhado, entertido que estava na persença duma carzberg e duns termoços.
Esta ideia martelou-me o encéfalo de modo presistente até que precebi:
- Tenho que me matricular e ferquentar as novas oportunidades de modo a aprefeiçoar-me.
Se assim não for, estarei percocemente condenado.
Depois de um "para trás e para a frente" de cerca de três horas, achei por bem dar a campanha por terminada, até porque já contava com dois braços molhados e enregelados até aos cotovelos.
De regresso a casa e a um duche de água a escaldar, fiz-me à estrada.
Parei num stop no cruzamento da Aldeia do Meco para o Cabo Espichel e Alfarim. Como manda o código, abri bem a pestana em todas as direcções. Acto contínuo, dou de trombas com este magnífico cartaz que achei merecedor de uma foto.
Não foi bem o "assoalhdas" que me ficou na retina. O que me traumatizou verdadeiramente foi o "premuta-se".
Ora "pre"+"muta-se", seria um "antes" de "mutar"?
Se "mutar" significa mudar, será que o construtor pertendeu afirmar que está perparado e disponível para alterar a moradia de modo a encaixar prefeitamente nas perferências do cliente?
Estas mensagens subliminares não são preceptíveis assim a modos que logo à primeira. Para dizer a verdade, só me aprecebi da coisa enquanto esperava pelo almoço de entercosto guerlhado, entertido que estava na persença duma carzberg e duns termoços.
Esta ideia martelou-me o encéfalo de modo presistente até que precebi:
- Tenho que me matricular e ferquentar as novas oportunidades de modo a aprefeiçoar-me.
Se assim não for, estarei percocemente condenado.
25 novembro 2010
O jardim das emoções suspensas
Manhã.
A neblina envolve o ápice dos castanheiros.
Tudo é difuso e misterioso.
A natureza tem sempre o seu quê de indecifrável. Uma linguagem própria, inacessível, admiravelmente impenetrável.
Um salgueiro dispara em múltiplas direcções, como um jorro de lágrimas fotografado a baixa velocidade.
Bunganvílias pendem indiscretas, contorcendo-se no ar. O que não terão já presenciado?
As heras trepam os troncos, envolvendo-os como amantes enlaçados.
Bancos de jardim; canteiros de amores-perfeitos e imperfeitos. Afinal de contas, o que são estes? O que são aqueles? Ambos selvagens como as aroeiras que espreitam.
Um raio de sol desponta por entre o cinzento carregado das nuvens e, de repente, do chão germina uma imensa e labiríntica sombra. Sombra de encontros e desencontros, de caminhos e descaminhos.
O azul e o rosa das hortênsias ganham outra profundidade, um novo fôlego.
Somos muito pouco - se é que somos alguma coisa - aqui, esta manhã, neste jardim.
A neblina envolve o ápice dos castanheiros.
Tudo é difuso e misterioso.
A natureza tem sempre o seu quê de indecifrável. Uma linguagem própria, inacessível, admiravelmente impenetrável.
Um salgueiro dispara em múltiplas direcções, como um jorro de lágrimas fotografado a baixa velocidade.
Bunganvílias pendem indiscretas, contorcendo-se no ar. O que não terão já presenciado?
As heras trepam os troncos, envolvendo-os como amantes enlaçados.
Bancos de jardim; canteiros de amores-perfeitos e imperfeitos. Afinal de contas, o que são estes? O que são aqueles? Ambos selvagens como as aroeiras que espreitam.
Um raio de sol desponta por entre o cinzento carregado das nuvens e, de repente, do chão germina uma imensa e labiríntica sombra. Sombra de encontros e desencontros, de caminhos e descaminhos.
O azul e o rosa das hortênsias ganham outra profundidade, um novo fôlego.
Somos muito pouco - se é que somos alguma coisa - aqui, esta manhã, neste jardim.
20 novembro 2010
19 novembro 2010
Uma conversa banal
- Ó estafermóide... o que tás a fazer assentado na cadeira?
- Então não me mandastes assentar?
- Ráis'partam a nha vida! Era assentar no papel a lista das compras que dssestes qu'ias fazer...
- Atão vê lá se tesplicas p'kassim num pssebo.
- Alevanta-te mediatamente e faz-t'à vidoca.
- Fónix!
- Que foi agora?
- Entropecei no gaspacho?
- No quê?
- No gaspacho aqui da porta.
- No é gaspacho meu bronco. É capacho.
- É assim: já me tou quaise a passar cuntigo. Baixa lá a bola qu'o garda-redes é anão. P'qué que não vais tu ao spemercado? Tomá lá cem êros e destroca.
- Mas tu falastes qu'ias tu... há-des cá vir dzer paír lá abaixo à Ti Gracinda cumprar mines qu'eu conto-te uma estória...
- Ó môr!... Tu é qu'és uma vdadeira persunal pessas coisas: és mais grande qu'eu e chegas às parteleiras mais altas onde tão os pitaxios e os mindoins. Inclusiver tás sempe mais à coca com a fractura, pa ver s'as gajas num s'inganam...
- Tu num podes cmer pitaxios. É uma faca de dois legumes. Tanto pode cair bem como mal. Depois é só dores de estôgamo e toca a mamar aspergics. Olha qu'eu mando-te mediatamente p'hospital e ficas lá cum a sanha numaro treuze mil, no meio dos toxicoindependentes e daquela gente cheia de orticárias, patites B, rabeulas, tromboclubites e outras doenças avenéreas.
- Ó pá. Num sejas inxorbitante. E outa coisa: cando chegares c'as compras, num poises o saco das mines em cima do capom do mcedes p'qu'aquece as garrafas e mancha a pintura. Depois lá tem aqui o moiro qu'ir outa vez c'o carro po stander.
- Vai-te catar!
- Só se te sentares nos artelhos e pdires cum munto amor.
- Então não me mandastes assentar?
- Ráis'partam a nha vida! Era assentar no papel a lista das compras que dssestes qu'ias fazer...
- Atão vê lá se tesplicas p'kassim num pssebo.
- Alevanta-te mediatamente e faz-t'à vidoca.
- Fónix!
- Que foi agora?
- Entropecei no gaspacho?
- No quê?
- No gaspacho aqui da porta.
- No é gaspacho meu bronco. É capacho.
- É assim: já me tou quaise a passar cuntigo. Baixa lá a bola qu'o garda-redes é anão. P'qué que não vais tu ao spemercado? Tomá lá cem êros e destroca.
- Mas tu falastes qu'ias tu... há-des cá vir dzer paír lá abaixo à Ti Gracinda cumprar mines qu'eu conto-te uma estória...
- Ó môr!... Tu é qu'és uma vdadeira persunal pessas coisas: és mais grande qu'eu e chegas às parteleiras mais altas onde tão os pitaxios e os mindoins. Inclusiver tás sempe mais à coca com a fractura, pa ver s'as gajas num s'inganam...
- Tu num podes cmer pitaxios. É uma faca de dois legumes. Tanto pode cair bem como mal. Depois é só dores de estôgamo e toca a mamar aspergics. Olha qu'eu mando-te mediatamente p'hospital e ficas lá cum a sanha numaro treuze mil, no meio dos toxicoindependentes e daquela gente cheia de orticárias, patites B, rabeulas, tromboclubites e outras doenças avenéreas.
- Ó pá. Num sejas inxorbitante. E outa coisa: cando chegares c'as compras, num poises o saco das mines em cima do capom do mcedes p'qu'aquece as garrafas e mancha a pintura. Depois lá tem aqui o moiro qu'ir outa vez c'o carro po stander.
- Vai-te catar!
- Só se te sentares nos artelhos e pdires cum munto amor.
Auto-censura
Não me apeteceu guardar o "Valha-nos Jesus" e, vai daí, apaguei-o.
O lápis azul atacou pela primeira vez neste blogue. Hmmmm... curioso precedente. Espero que seja uma vez sem exemplo.
O lápis azul atacou pela primeira vez neste blogue. Hmmmm... curioso precedente. Espero que seja uma vez sem exemplo.
16 novembro 2010
Eu e a Cidade: AO MAIS ALTO NÍVEL
Eu e a Cidade: AO MAIS ALTO NÍVEL: "Hoje a minha amiga Paula, que está sempre muito atenta, mandou-me um email acerca da “febre do mestrado” que tem assolado o nosso país nos ..."
15 novembro 2010
O que será que será?...
Não se passa nada de extraordinário a não ser o facto de me encontrar muito cansado. Mas nem por isso tenho descurado o meu caderno de notas.
Voltarei!
Voltarei!
10 novembro 2010
Desafio-vos a não rir.
Peço desculpa por algumas calinadas mas a legendagem não é da minha responsabilidade.
Heil Hitler!
09 novembro 2010
Enganou-se no comprimido.
Será que o miúdo se enganou no comprimido e foi ao frasco do amobarbital sódico? De repente deu-lhe para este chorrilho de verdades...
Só pode!...
08 novembro 2010
Praia da Fonte da Telha - fotos.
Há cerca de um mês (re)descobri a minha velhinha Nikon analógica encostada a um canto. Vasculhei o estojo e dei com dois rolos de fotografia fora de prazo. Um cor e um pb.
A máquina estava sem pilhas...
A tarde estava sorridente e decidi fazer mais uma das minhas caminhadas no baixa-mar.
Fotografei, mandei revelar as películas e passar para DVD. Nunca mais me lembrei de as ir levantar... até hoje.
Cá vão algumas.
A máquina estava sem pilhas...
A tarde estava sorridente e decidi fazer mais uma das minhas caminhadas no baixa-mar.
Fotografei, mandei revelar as películas e passar para DVD. Nunca mais me lembrei de as ir levantar... até hoje.
Cá vão algumas.
É o fim do mundo
Acabo de ouvir (em ante-estreia radiofónica) o Carlos do Carmo a cantar You make me feel so young.
Por amor da santa. Se eu chegar a velho e cair em tamanha falta de bom senso, chamem o INEM, metam-me num espartilho de varetas e internem-me no Júlio de Matos.
Ó homem: deixe-se estar sossegado a cantar fado pois o seu estilo, goste-se ou não (eu gosto), é inconfundível.
Fado da saudade
Carlos do Carmo
Por amor da santa. Se eu chegar a velho e cair em tamanha falta de bom senso, chamem o INEM, metam-me num espartilho de varetas e internem-me no Júlio de Matos.
Ó homem: deixe-se estar sossegado a cantar fado pois o seu estilo, goste-se ou não (eu gosto), é inconfundível.
Fado da saudade
Carlos do Carmo
07 novembro 2010
Exposição ao Ministro da Agricultura.
Na passada sexta-feira ao final da tarde tive que me deslocar ao Algarve.
Ia com pressa.
Sem combustível para realizar os 600 kms da viagem, parei para abastecer. Introduzi mal a mangueira no bocal do depósito e um jorro de gasóleo ensopou-me a perna esquerda das calças. Diz que isto de introduzir incorrectamente e de molhar as calças é coisa normal quando se vai para velho.
Roguei umas pragas mas lá segui viagem.
Algum tempo depois o cheiro do gasóleo tornou-se insuportável. A solução da janela aberta ajudou a minimizar o pivete mas o frio era igualmente proibitivo. Resolvi voltar a parar noutra estação de serviço e esfregar as calças com água para ver se o problema se resolvia. Sem sucesso.
Entre Alcácer do Sal e Grândola voltei a abrir a janela e a coisa resolveu-se mas não da forma esperada. É que um bafo de cheiro a estrume de vaca invadiu-me o carro de um modo tão triunfal quanto a entrada dos nazis em Paris durante a II Guerra Mundial.
Em desespero, lembrei-me que trazia a mochila da pesca na mala do carro. Dentro dela anda sempre um par de calças impermeáveis.
Nova paragem em Almodôvar para trocar de indumentária. As calças impermeáveis azuis ficaram-me a matar com a camisa de xadrez que levava vestida.
Pelo acima exposto pergunto-lhe, Senhor Ministro:
- Um moçoilo assim a modos como eu, vestido de calças impermeáveis e camisa de xadrez, com as botas a cheirar a gasóleo e o carro a bosta de vaca, é elegível para obtenção de um subsídio de jovem agricultor?
Se for esse o caso, agradecia um contacto por parte dos serviços competentes.
De V. Exa., atentamente.
Ia com pressa.
Sem combustível para realizar os 600 kms da viagem, parei para abastecer. Introduzi mal a mangueira no bocal do depósito e um jorro de gasóleo ensopou-me a perna esquerda das calças. Diz que isto de introduzir incorrectamente e de molhar as calças é coisa normal quando se vai para velho.
Roguei umas pragas mas lá segui viagem.
Algum tempo depois o cheiro do gasóleo tornou-se insuportável. A solução da janela aberta ajudou a minimizar o pivete mas o frio era igualmente proibitivo. Resolvi voltar a parar noutra estação de serviço e esfregar as calças com água para ver se o problema se resolvia. Sem sucesso.
Entre Alcácer do Sal e Grândola voltei a abrir a janela e a coisa resolveu-se mas não da forma esperada. É que um bafo de cheiro a estrume de vaca invadiu-me o carro de um modo tão triunfal quanto a entrada dos nazis em Paris durante a II Guerra Mundial.
Em desespero, lembrei-me que trazia a mochila da pesca na mala do carro. Dentro dela anda sempre um par de calças impermeáveis.
Nova paragem em Almodôvar para trocar de indumentária. As calças impermeáveis azuis ficaram-me a matar com a camisa de xadrez que levava vestida.
Pelo acima exposto pergunto-lhe, Senhor Ministro:
- Um moçoilo assim a modos como eu, vestido de calças impermeáveis e camisa de xadrez, com as botas a cheirar a gasóleo e o carro a bosta de vaca, é elegível para obtenção de um subsídio de jovem agricultor?
Se for esse o caso, agradecia um contacto por parte dos serviços competentes.
De V. Exa., atentamente.
Sonhos amargos - doces realidades.
São múltiplas as realidades que povoam a minha existência. As velhas e as novas. Entre aquelas, as que carregam o deve e o haver do passado. Entre estas, as que habitam os meus sonhos desde que, recentemente, dei em deles me lembrar quando acolho cada um dos múltiplos despertares que me ocupam a noite.
Não sei - não quero saber- se os sonhos têm algum significado.
Sonhei contigo em Paris, sonhei contigo algures por cá. Sonhei que nem em sonhos demos certo.
Acordei exausto para mais um dia sem o sal da vida.
Regrido no tempo, em desespero, procurando um qualquer ponto de recomeço.
Esta semana, durante uma das minhas sessões de Filosofia para (ou com) Crianças, os meninos escolheram falar sobre o que é um amigo.
Durante o nosso diálogo, e perante alguma indisciplina repentina, achei que seria uma boa altura para fazer um ponto de ordem à sessão através de um resumo da linha de raciocínio que vinha resultando de múltiplas contribuições. Um menino havia dito:
- Os amigos são meninos e meninas como nós.
Ao que lhe perguntei:
- E os teus bonecos? São teus amigos?
Respondeu:
-Não! Os amigos têm que ser pessoas.
Voltei à carga:
- E os meninos que têm um cão? Acham que o cão não é amigo?
Responderam todos:
- Siiiiiiiiimmmm!
E eu:
- Então... mas o cão não é uma pessoa!...
Responderam-me:
- Mas o cão é a sério e os bonecos são a brincar.
Perguntei:
- E será que todos os amigos a sério têm sentimentos? Isto é (expliquei) o cão, por exemplo, mostra alegria ou tristeza?
A maioria respondeu:
- Siiiiiiiiim!
Voltei à carga:
- E os bonecos? Não riem nem choram?
Responderam alguns:
- Os que têm pilhas choram e falam. Mas não são a sério.
O meu resumo/pergunta - nesse momento - fazia-se do seguinte modo:
- Em vosso entender, um amigo tem que ser real, independentemente de ser pessoa ou animal. Certo?
Uma menina levantou o braço pedindo para responder. Dei-lhe a palavra.
- Eu acho que os bonecos são a brincar mas também são nossos amigos. E há outros amigos que não são a sério mas também não são a brincar, e que têm sentimentos.
E eu (atrapalhado):
- Achas que sim? Dá lá um exemplo.
E ela (muito expedita):
- Os amigos todos que eu tenho na minha cabeça! Também riem comigo e às vezes choram quando eu ralho com eles.
Julgo ser pertinente acrescentar que estava a trabalhar com crianças do 1º ano (1ª classe).
O meu pai ainda esta semana me havia perguntado se este meu trabalho de voluntariado junto de dez turmas (do pré-escolar ao 4º ano) de uma escola básica iria ser pago. Respondi-lhe negativamente. Estava enganado. Há coisas que não têm preço.
E foi este o meu ponto de recomeço desta noite.
Não estou completamente desprovido de esperança. Aqui e ali há sempre um centelha capaz de nos fazer levantar do chão. E esse "aqui e ali" pode muito bem ser o raciocínio inequívoco de uma criança.
Soul Provider
Grand Tourism
Não sei - não quero saber- se os sonhos têm algum significado.
Sonhei contigo em Paris, sonhei contigo algures por cá. Sonhei que nem em sonhos demos certo.
Acordei exausto para mais um dia sem o sal da vida.
Regrido no tempo, em desespero, procurando um qualquer ponto de recomeço.
Esta semana, durante uma das minhas sessões de Filosofia para (ou com) Crianças, os meninos escolheram falar sobre o que é um amigo.
Durante o nosso diálogo, e perante alguma indisciplina repentina, achei que seria uma boa altura para fazer um ponto de ordem à sessão através de um resumo da linha de raciocínio que vinha resultando de múltiplas contribuições. Um menino havia dito:
- Os amigos são meninos e meninas como nós.
Ao que lhe perguntei:
- E os teus bonecos? São teus amigos?
Respondeu:
-Não! Os amigos têm que ser pessoas.
Voltei à carga:
- E os meninos que têm um cão? Acham que o cão não é amigo?
Responderam todos:
- Siiiiiiiiimmmm!
E eu:
- Então... mas o cão não é uma pessoa!...
Responderam-me:
- Mas o cão é a sério e os bonecos são a brincar.
Perguntei:
- E será que todos os amigos a sério têm sentimentos? Isto é (expliquei) o cão, por exemplo, mostra alegria ou tristeza?
A maioria respondeu:
- Siiiiiiiiim!
Voltei à carga:
- E os bonecos? Não riem nem choram?
Responderam alguns:
- Os que têm pilhas choram e falam. Mas não são a sério.
O meu resumo/pergunta - nesse momento - fazia-se do seguinte modo:
- Em vosso entender, um amigo tem que ser real, independentemente de ser pessoa ou animal. Certo?
Uma menina levantou o braço pedindo para responder. Dei-lhe a palavra.
- Eu acho que os bonecos são a brincar mas também são nossos amigos. E há outros amigos que não são a sério mas também não são a brincar, e que têm sentimentos.
E eu (atrapalhado):
- Achas que sim? Dá lá um exemplo.
E ela (muito expedita):
- Os amigos todos que eu tenho na minha cabeça! Também riem comigo e às vezes choram quando eu ralho com eles.
Julgo ser pertinente acrescentar que estava a trabalhar com crianças do 1º ano (1ª classe).
O meu pai ainda esta semana me havia perguntado se este meu trabalho de voluntariado junto de dez turmas (do pré-escolar ao 4º ano) de uma escola básica iria ser pago. Respondi-lhe negativamente. Estava enganado. Há coisas que não têm preço.
E foi este o meu ponto de recomeço desta noite.
Não estou completamente desprovido de esperança. Aqui e ali há sempre um centelha capaz de nos fazer levantar do chão. E esse "aqui e ali" pode muito bem ser o raciocínio inequívoco de uma criança.
Soul Provider
Grand Tourism
04 novembro 2010
03 novembro 2010
A minha velhice em versão Almodovar
- Amor?
- O que foi? (Rái´s parta o velho!...)
- Trazes-me o saquinho de água quente? Doem-me as mazeuas todas até à espinau medua.
- Levanta o cu da poltrona e vai lá tu buscá-lo!
- Mas... amorzinho... Está a dar o Benfica na teuevisão.
- Já se te acabou o "Corega"?
- Porquê?
- É que tens a dentadura solta e estás outra vez a comer os "éles": "teuevisão"; "mazeuas"; "espinau"; "medua"...
- Vá uá paixão. Já não ganhamos o campeonato há 25 anos...
- Estou a "uimpar" a "uouça"... (riso escarninho)
- Isso... goza-me. Bruxa!!! Quando te vieres cá encostar à noite, mando-te ir dormir com a vassoura.
- Olha... essa p'lo menos ainda tem pau.
- Cabresta!
- Toma lá a porcaria do saco. Mas não te acomodes muito porque quando acabar o jogo tens que ir comigo ao Colombo.
- Ao Cuombo??? A mulher endoidou. E eu uá vou a estas horas pa Uisboa?
- Tenho que ir lá comprar uma mala que vi a semana passada.
- E para que queres a maua? Vais de viagem?
- Pouco barulho que incomodas os vizinhos. Prepara a carteira e não bufes muito senão distraio-me nas garrafas e tempero-te a salada com "Super Pop Limão".
- Não... ai não... queres ver?... ai... ai... isto não está a acontecer. O Benfica a perder com o Estreua da Amadora... Eu morro aqui sentado.
- Essa sorte não tenho eu!...
- E que história é essa de "prepara a carteira"? A maua é p'ra mim? Vai à uata onde escondes as notas graúdas.
-Nem pensar. Sabes muito bem para o que é esse dinheiro!
- Pfffffff! Uma uipoaspiração. Vê mas é se abres a pestana. Para te sugar essa gordura toda tinhas que mandar vir uma grua para te suspender e três aspiradores dos que se usam em prospecções subaquáticas.
- Parabéns! Acabas de assegurar duas semanas sem almoço. Velho tinhoso!
- Pois sim... e eu rauado com isso.
- Eu vou sozinha ao Colombo. Assim como assim, mais vale ser eu a levar o carro porque tu - meu traste imprestável - já nem conduzir sabes.
- Achas?
- Eu não acho. Eu tenho a certeza! Ainda esta manhã, a figura que fizeste ao arrancar com o carro aos solavancos... a vizinhança toda a rir...
- A rir mas era de ti.
- De mim? Como de mim?
- Do gatafunho de baton que fizeste da boca à testa quando eu arranquei com o carro. Quem te manda pintar os uábios com o carro em andamento?
- Não me digas que foi de propósito para eu me esborratar toda?
- Honestamente?
- Sim... responde.
- Bem... para dizer a verdade a ideia era a de ver se te conseguia fazer bater com a testa no pára-brisas. Mas assim também serviu!
- Piolhoso!
- Também te adoro!
- Ranhoso!
- Amo-te!
- Múmia decrépita!
- Vai tu!
- O que foi? (Rái´s parta o velho!...)
- Trazes-me o saquinho de água quente? Doem-me as mazeuas todas até à espinau medua.
- Levanta o cu da poltrona e vai lá tu buscá-lo!
- Mas... amorzinho... Está a dar o Benfica na teuevisão.
- Já se te acabou o "Corega"?
- Porquê?
- É que tens a dentadura solta e estás outra vez a comer os "éles": "teuevisão"; "mazeuas"; "espinau"; "medua"...
- Vá uá paixão. Já não ganhamos o campeonato há 25 anos...
- Estou a "uimpar" a "uouça"... (riso escarninho)
- Isso... goza-me. Bruxa!!! Quando te vieres cá encostar à noite, mando-te ir dormir com a vassoura.
- Olha... essa p'lo menos ainda tem pau.
- Cabresta!
- Toma lá a porcaria do saco. Mas não te acomodes muito porque quando acabar o jogo tens que ir comigo ao Colombo.
- Ao Cuombo??? A mulher endoidou. E eu uá vou a estas horas pa Uisboa?
- Tenho que ir lá comprar uma mala que vi a semana passada.
- E para que queres a maua? Vais de viagem?
- Pouco barulho que incomodas os vizinhos. Prepara a carteira e não bufes muito senão distraio-me nas garrafas e tempero-te a salada com "Super Pop Limão".
- Não... ai não... queres ver?... ai... ai... isto não está a acontecer. O Benfica a perder com o Estreua da Amadora... Eu morro aqui sentado.
- Essa sorte não tenho eu!...
- E que história é essa de "prepara a carteira"? A maua é p'ra mim? Vai à uata onde escondes as notas graúdas.
-Nem pensar. Sabes muito bem para o que é esse dinheiro!
- Pfffffff! Uma uipoaspiração. Vê mas é se abres a pestana. Para te sugar essa gordura toda tinhas que mandar vir uma grua para te suspender e três aspiradores dos que se usam em prospecções subaquáticas.
- Parabéns! Acabas de assegurar duas semanas sem almoço. Velho tinhoso!
- Pois sim... e eu rauado com isso.
- Eu vou sozinha ao Colombo. Assim como assim, mais vale ser eu a levar o carro porque tu - meu traste imprestável - já nem conduzir sabes.
- Achas?
- Eu não acho. Eu tenho a certeza! Ainda esta manhã, a figura que fizeste ao arrancar com o carro aos solavancos... a vizinhança toda a rir...
- A rir mas era de ti.
- De mim? Como de mim?
- Do gatafunho de baton que fizeste da boca à testa quando eu arranquei com o carro. Quem te manda pintar os uábios com o carro em andamento?
- Não me digas que foi de propósito para eu me esborratar toda?
- Honestamente?
- Sim... responde.
- Bem... para dizer a verdade a ideia era a de ver se te conseguia fazer bater com a testa no pára-brisas. Mas assim também serviu!
- Piolhoso!
- Também te adoro!
- Ranhoso!
- Amo-te!
- Múmia decrépita!
- Vai tu!
02 novembro 2010
A culpa não será do photoshop
Ainda a caminhada à Peninha. Eu e o meu grande amigo Jorge.
Lá íamos nós palmilhando tranquilamente os caminhos florestais que nos conduziriam ao destino pretendido, quando se misturou gente de um outro grupo de caminheiros.
Mesmo à nossa frente, vá-se lá perceber por que artes, (a floresta tem destas coisas misteriosas), interpôs-se uma fulana que, apenas para começar, nos colocava imediatamente perante o seguinte dilema: como é que esta personagem se conseguiu meter dentro das calças?
Se as ditas cujas, pretas, de sarja, pudessem comunicar, fá-lo-iam num misto de grito/gemido/carpido capaz de fazer chorar os eucaliptos que nos delimitavam a marcha.
Não fossem as conversas de circunstância dentro do grupo e, tenho a certeza absoluta, ouvir-se-ia o ranger das costuras.
O (des)interessante é que a rapariga quase não tinha peito. O que lhe faltava no primeiro andar sobrava no rés-do-chão.
As nádegas (meu Deus... aqueles colossais nadegueiros) oprimiam de tal forma o tecido que, ao criar um conjunto incontável de pregas, formavam dois verdadeiros blocos de massa folhada.
Um pouco assustado com a possibilidade de alguma daquelas tachas que decoram os bolsos poder, de repente e sem qualquer aviso prévio, sair disparada na nossa direcção (não exagero se vos disser que o impacto entre os olhos de um tal projéctil, à velocidade com que seria expelido, seria motivo para uma morte fulminante), sugeri ao Jorge que mudássemos de posição na comitiva. Respondeu-me "que não!". Na sua opinião tudo aquilo não passava de um simples fenómeno de transferência de massas e que eu era demasiado alarmista, e coiso e tal e tal e coiso...
Lá anuí em continuar, mas sempre a rezar aos meus anjos da guarda.
Pelo menos numa coisa eu e o Jorge estivemos de acordo: era um problema de massa (para mim... folhada).
Chegados à porta do santuário, para meu deleite e olhar invejoso dos restantes presentes, o Jorge fez saltar da sua cartola de primeiros-socorros duas garrafas de Super-Bock que bebericámos com requintes de malvadez.
Enquanto dois elementos do tal outro grupo trocavam impressões sobre um qualquer curso de Photoshop, eis que chega Miss massa folhada e, dirigindo-se a um deles, diz:
- Môr... depois quero que me ponhas linda em todas as fotografias.
Resposta pronta:
- Queres umas mamas maiores e/ou um rabo mais pequeno?
Abrenúncio!!!
Visivelmente incomodada com a apresentação pública que o marido (?) havia feito sobre o deve e o haver da mulher, lançou-lhe um olhar fulminante, carregado de promessas de longa e penosa austeridade sexual.
- Eu disse "bonita". Não me referi a mexer em mais nada porque eu sou booooaaaaa, tá?
O rapaz lá foi encolhendo os ombros, mal dizendo a opção pelo curso básico de Photoshop. Devia, isso sim, ter tirado uma Licenciatura em Artes gráficas ou, melhor ainda, Cirurgia Plástica.
Escondemos as gargalhadas pois ninguém de bom-senso se ri na cara de uma mulher com um bastão de alumínio na mão.
Uma coisa é certa: a pretexto de um atacador mal apertado, na descida fiquei um pouco mais para trás.
Não fosse o capeta tecê-las!...
Lá íamos nós palmilhando tranquilamente os caminhos florestais que nos conduziriam ao destino pretendido, quando se misturou gente de um outro grupo de caminheiros.
Mesmo à nossa frente, vá-se lá perceber por que artes, (a floresta tem destas coisas misteriosas), interpôs-se uma fulana que, apenas para começar, nos colocava imediatamente perante o seguinte dilema: como é que esta personagem se conseguiu meter dentro das calças?
Se as ditas cujas, pretas, de sarja, pudessem comunicar, fá-lo-iam num misto de grito/gemido/carpido capaz de fazer chorar os eucaliptos que nos delimitavam a marcha.
Não fossem as conversas de circunstância dentro do grupo e, tenho a certeza absoluta, ouvir-se-ia o ranger das costuras.
O (des)interessante é que a rapariga quase não tinha peito. O que lhe faltava no primeiro andar sobrava no rés-do-chão.
As nádegas (meu Deus... aqueles colossais nadegueiros) oprimiam de tal forma o tecido que, ao criar um conjunto incontável de pregas, formavam dois verdadeiros blocos de massa folhada.
Um pouco assustado com a possibilidade de alguma daquelas tachas que decoram os bolsos poder, de repente e sem qualquer aviso prévio, sair disparada na nossa direcção (não exagero se vos disser que o impacto entre os olhos de um tal projéctil, à velocidade com que seria expelido, seria motivo para uma morte fulminante), sugeri ao Jorge que mudássemos de posição na comitiva. Respondeu-me "que não!". Na sua opinião tudo aquilo não passava de um simples fenómeno de transferência de massas e que eu era demasiado alarmista, e coiso e tal e tal e coiso...
Lá anuí em continuar, mas sempre a rezar aos meus anjos da guarda.
Pelo menos numa coisa eu e o Jorge estivemos de acordo: era um problema de massa (para mim... folhada).
Chegados à porta do santuário, para meu deleite e olhar invejoso dos restantes presentes, o Jorge fez saltar da sua cartola de primeiros-socorros duas garrafas de Super-Bock que bebericámos com requintes de malvadez.
Enquanto dois elementos do tal outro grupo trocavam impressões sobre um qualquer curso de Photoshop, eis que chega Miss massa folhada e, dirigindo-se a um deles, diz:
- Môr... depois quero que me ponhas linda em todas as fotografias.
Resposta pronta:
- Queres umas mamas maiores e/ou um rabo mais pequeno?
Abrenúncio!!!
Visivelmente incomodada com a apresentação pública que o marido (?) havia feito sobre o deve e o haver da mulher, lançou-lhe um olhar fulminante, carregado de promessas de longa e penosa austeridade sexual.
- Eu disse "bonita". Não me referi a mexer em mais nada porque eu sou booooaaaaa, tá?
O rapaz lá foi encolhendo os ombros, mal dizendo a opção pelo curso básico de Photoshop. Devia, isso sim, ter tirado uma Licenciatura em Artes gráficas ou, melhor ainda, Cirurgia Plástica.
Escondemos as gargalhadas pois ninguém de bom-senso se ri na cara de uma mulher com um bastão de alumínio na mão.
Uma coisa é certa: a pretexto de um atacador mal apertado, na descida fiquei um pouco mais para trás.
Não fosse o capeta tecê-las!...
01 novembro 2010
Uma esquina de passeio.
Uma esquina de passeio como tantas outras...
O lancil corre em cotovelo, carregando as lordoses impostas pelo pisar e repisar constantes de pneus de automóveis mal estacionados.
Um ecoponto saturado, imundo, mantém alguma dignidade graças à lâmpada fundida de um candeeiro de rua que desistiu de iluminar.
A tristeza paira dominadora, saturando o ar, exibindo o seu véu obscuro de forma magestática.
Aqui, um televisor de cinescópio, esventrado, resignado à sua obsolescência e à ingratidão de quem dele disfrutou.
Ali, um novelo indecifrável de camisolas de malha e latas de conserva, numa promiscuidade de fibras e gorduras dificilmente suportáveis.
Acolá, um pacote de cereais acolhe agora uma fralda de criança.
Uma boneca desmembrada jaz de costas na calçada, contemplando as estrelas. A seu lado, mas irremediavelmente apartado, um braço de borracha, a palma da mão virada para o céu, os dedos entreabertos, suplicando o abraço e o colo de meninas de outrora, agora feitas mulheres.
Um reposteiro carmim repousa perigosamente entre o passeio e o asfalto. Exibe com orgulho os berloques que rematam o debruado de um dourado que perdeu o fulgor. Sob a sua cobertura, um rafeiro sem brilho nos olhos prepara-se para a noite, sacundindo sarna e pulgas uma última vez antes de se enroscar sobre um chão molhado, frio, inóspito, tal como a vida para a qual foi parido sem voto na matéria.
As luzes de um carro que passa descobrem duas órbitas brilhantes num vulto que se encontra encostado ao vidrão. Um gato. Ali está... imóvel, impávido. Não se percebe se vencido e conformado, se expectante e determinado.
Uma rajada de vento levanta no ar uma espiral de maus-cheiros, sacos de plástico, papéis com figuras - pedaços de um baralho que esta noite joga as suas últimas cartadas.
Estou confuso!
O vento troca-me as ideias com a mesma facilidade com que baralha as cartas que se contorcem sobre si, enrolando pedaços da noite.
Levanto-me dos degraus de mármore em que me encontrava sentado, aspirando mais uma nuvem de fumo de um cigarro que desejei mas não fumei.
Rezo por alguma paz, peço luz na minha vida...
Afinal de contas só Deus sabe aquilo que nos está reservado... ao virar de mais uma esquina.
O lancil corre em cotovelo, carregando as lordoses impostas pelo pisar e repisar constantes de pneus de automóveis mal estacionados.
Um ecoponto saturado, imundo, mantém alguma dignidade graças à lâmpada fundida de um candeeiro de rua que desistiu de iluminar.
A tristeza paira dominadora, saturando o ar, exibindo o seu véu obscuro de forma magestática.
Aqui, um televisor de cinescópio, esventrado, resignado à sua obsolescência e à ingratidão de quem dele disfrutou.
Ali, um novelo indecifrável de camisolas de malha e latas de conserva, numa promiscuidade de fibras e gorduras dificilmente suportáveis.
Acolá, um pacote de cereais acolhe agora uma fralda de criança.
Uma boneca desmembrada jaz de costas na calçada, contemplando as estrelas. A seu lado, mas irremediavelmente apartado, um braço de borracha, a palma da mão virada para o céu, os dedos entreabertos, suplicando o abraço e o colo de meninas de outrora, agora feitas mulheres.
Um reposteiro carmim repousa perigosamente entre o passeio e o asfalto. Exibe com orgulho os berloques que rematam o debruado de um dourado que perdeu o fulgor. Sob a sua cobertura, um rafeiro sem brilho nos olhos prepara-se para a noite, sacundindo sarna e pulgas uma última vez antes de se enroscar sobre um chão molhado, frio, inóspito, tal como a vida para a qual foi parido sem voto na matéria.
As luzes de um carro que passa descobrem duas órbitas brilhantes num vulto que se encontra encostado ao vidrão. Um gato. Ali está... imóvel, impávido. Não se percebe se vencido e conformado, se expectante e determinado.
Uma rajada de vento levanta no ar uma espiral de maus-cheiros, sacos de plástico, papéis com figuras - pedaços de um baralho que esta noite joga as suas últimas cartadas.
Estou confuso!
O vento troca-me as ideias com a mesma facilidade com que baralha as cartas que se contorcem sobre si, enrolando pedaços da noite.
Levanto-me dos degraus de mármore em que me encontrava sentado, aspirando mais uma nuvem de fumo de um cigarro que desejei mas não fumei.
Rezo por alguma paz, peço luz na minha vida...
Afinal de contas só Deus sabe aquilo que nos está reservado... ao virar de mais uma esquina.
Ironicamente lixo
Por vezes não consigo rever-me noutra imagem que não a de lixo. Não no sentido de lixo limite, sem apelo nem agravo, sem outra esperança possível a não ser a ser a da sua própria impossibilidade. Sinto-me como lixo deitado fora com displicência, de forma precipitada. Lixo resultado de subaproveitamento.
Sou lixo com uma licenciantura, duas pós-graduações e um mestrado. O que importa isso do exercício contínuo do intelecto. O que importa enveredar por múltiplas áreas disciplinares? O que interessa frequentar cursos de Mandarim, palestras de Antropologia e Sociologia? De que valem vinte anos de experiência profissional e ser autor de projectos pioneiros na área da museologia e da museografia? De que me serviu publicar trabalhos?
Tudo ponderado eu sei bem qual é a resposta. Serviu-me para ser quem sou. Para andar na rua de cabeça erguida. Para honrar aqueles a quem devo o "lixo" que sou e a quem, apenas de forma muito pálida, faço justiça.
Os meus pais, os meus avós, os meus tios João e Carlos. Nunca - MAS NUNCA - serei lixo suficiente para fazer parte de semelhante panteão.
Eu sou o que sou e se não estiverem contentes tentem reciclar-me. Experimentem só!...
Trash
Suede
Sou lixo com uma licenciantura, duas pós-graduações e um mestrado. O que importa isso do exercício contínuo do intelecto. O que importa enveredar por múltiplas áreas disciplinares? O que interessa frequentar cursos de Mandarim, palestras de Antropologia e Sociologia? De que valem vinte anos de experiência profissional e ser autor de projectos pioneiros na área da museologia e da museografia? De que me serviu publicar trabalhos?
Tudo ponderado eu sei bem qual é a resposta. Serviu-me para ser quem sou. Para andar na rua de cabeça erguida. Para honrar aqueles a quem devo o "lixo" que sou e a quem, apenas de forma muito pálida, faço justiça.
Os meus pais, os meus avós, os meus tios João e Carlos. Nunca - MAS NUNCA - serei lixo suficiente para fazer parte de semelhante panteão.
Eu sou o que sou e se não estiverem contentes tentem reciclar-me. Experimentem só!...
Trash
Suede
31 outubro 2010
Amor em fundo ferroviário
Estação de comboios - uma qualquer.
Os carros fazem paragens sucessivas para largar ou recolher passageiros.
Estacionei; desliguei; fiquei sentado.
Pára um outro carro de onde sai um jovem casal.
Dá para perceber: ela fica, ele vai.
Um abraço... múltiplos beijos.
Mudo de opinião. Afinal de contas ambos ficam... ambos vão.
Ambos ficam na sua lembrança e no seu coração.
Ambos vão na lembrança e no coração do outro... quiçá, numa réstea de sabor que perdura nos lábios ou num fio de perfume entranhado na recordação de uma tarde passada em entrega total?
Ele consulta o relógio, beija-a uma vez mais e dirige-se para a entrada.
Vacila... olha para trás.
Ela acena um adeus e encena um sorriso que só a custo convive com dois olhos embargados de lágrimas.
É tempo de partir.
A vida é assim mesmo: podemos apear-nos temporariamente mas, em última instância, o comboio avança sem contemplações.
Os carros fazem paragens sucessivas para largar ou recolher passageiros.
Estacionei; desliguei; fiquei sentado.
Pára um outro carro de onde sai um jovem casal.
Dá para perceber: ela fica, ele vai.
Um abraço... múltiplos beijos.
Mudo de opinião. Afinal de contas ambos ficam... ambos vão.
Ambos ficam na sua lembrança e no seu coração.
Ambos vão na lembrança e no coração do outro... quiçá, numa réstea de sabor que perdura nos lábios ou num fio de perfume entranhado na recordação de uma tarde passada em entrega total?
Ele consulta o relógio, beija-a uma vez mais e dirige-se para a entrada.
Vacila... olha para trás.
Ela acena um adeus e encena um sorriso que só a custo convive com dois olhos embargados de lágrimas.
É tempo de partir.
A vida é assim mesmo: podemos apear-nos temporariamente mas, em última instância, o comboio avança sem contemplações.
30 outubro 2010
Sons
Eu sei que estamos quase em Lua Nova, mas como já estou com os copos ninguém desconfia.
Divirtam-se e sejam (MUITO) felizes
Guarda che luna
Luciano Pavarotti e Irene Grandi
Divirtam-se e sejam (MUITO) felizes
Guarda che luna
Luciano Pavarotti e Irene Grandi
29 outubro 2010
Vade retro galináceos e animais de carapaça
Hoje tive o azar de precisar de um almoço rápido e de pensar que meio frango da Guia com uma salada de tomate resolveriam o assunto.
Entrei no "Frango da Guia" do Almada Fórum e pedi meio galináceo, estimando que a coisa seria expedita.
A songa monga que me veio buscar à entrada, depois de algum tempo de espera perante um restaurante vazio (eram 12,15 horas), fez questão de exibir a maior das acrimónias logo desde o início. Quis sentar-me à entrada... recusei! Quis sentar-me no corredor, sujeito à corrente de ar que vinha da porta... recusei. Pedi-lhe para me sentar junto à parede. Respondeu-me com enfado: "escolha!", ao que retorqui: "O quê? a mesa ou a parede?". Continuou soturna como uma noite de Inverno. Pensei: "estou consumido!" (com um "F" grande)...
Acabou por me sentar sob um LCD suspenso da parede. Não percebi se a ideia era de que aquilo despencasse da parede e me amarrotasse a crista ou se a intenção era muito mais sórdida. É que, acto contínuo, a moçoila ligou a geringonça e eu tive que aturar o cacarejar de duas aves canoras escorraçadas das respectivas capoeiras, perto das quais o bardo Chatotorix (da aldeia de Astérix) seria um verdadeiro Pavarotti. Tentei pensar positivo, que seria uma forma de acelerar o palato de modo a poder fugir dali o mais rapidamente possível.
A moçoila, entretanto, conseguiu deixar-me sem perceber se olhava para mim se através de mim. Parecia-me estar a ser escrutinado pela capataz do aviário...
Nisto e naquilo passaram-se quarenta minutos e nada de meio-frango. Chamei a atenção para o facto, alertando que tinha que ir para o cinema e a sessão estava prestes a começar. Pois sim... tivesse o meio-frango duas patas (por qualquer alteração transgénica) e mover-se-ia mais rapidamente do que todos os empregados juntos. Viesse ele ainda com a cabeça e, apesar de morto, depenado e assado, teria certamente melhor aspecto do que aqueles aprendizes de empregados de mesa.
Mas lá veio o bicho, mais esfalfado do que eu...
Comi à pressa; chamei a estafermóide e pedi-lhe um café e a conta, ficando a pensar se ela seria capaz de tomar conta de dois pedidos em simultâneo...
A despesa perfez € 9,95. Dei-lhe uma nota e esperei pelo troco. Quando regressou ficou ali naquele vai que não vai, fica que não fica, a ver se sobrava alguma coisa. Disse-lhe: "Não encontro trocos nenhuns. Devem ter ficado perdidos junto com a sua simpatia. Fica para uma próxima oportunidade."
Foi um almoço de frango, comido por um fóssil e servido por cágados. A verdadeira refeição National Geographic.
Entrei no "Frango da Guia" do Almada Fórum e pedi meio galináceo, estimando que a coisa seria expedita.
A songa monga que me veio buscar à entrada, depois de algum tempo de espera perante um restaurante vazio (eram 12,15 horas), fez questão de exibir a maior das acrimónias logo desde o início. Quis sentar-me à entrada... recusei! Quis sentar-me no corredor, sujeito à corrente de ar que vinha da porta... recusei. Pedi-lhe para me sentar junto à parede. Respondeu-me com enfado: "escolha!", ao que retorqui: "O quê? a mesa ou a parede?". Continuou soturna como uma noite de Inverno. Pensei: "estou consumido!" (com um "F" grande)...
Acabou por me sentar sob um LCD suspenso da parede. Não percebi se a ideia era de que aquilo despencasse da parede e me amarrotasse a crista ou se a intenção era muito mais sórdida. É que, acto contínuo, a moçoila ligou a geringonça e eu tive que aturar o cacarejar de duas aves canoras escorraçadas das respectivas capoeiras, perto das quais o bardo Chatotorix (da aldeia de Astérix) seria um verdadeiro Pavarotti. Tentei pensar positivo, que seria uma forma de acelerar o palato de modo a poder fugir dali o mais rapidamente possível.
A moçoila, entretanto, conseguiu deixar-me sem perceber se olhava para mim se através de mim. Parecia-me estar a ser escrutinado pela capataz do aviário...
Nisto e naquilo passaram-se quarenta minutos e nada de meio-frango. Chamei a atenção para o facto, alertando que tinha que ir para o cinema e a sessão estava prestes a começar. Pois sim... tivesse o meio-frango duas patas (por qualquer alteração transgénica) e mover-se-ia mais rapidamente do que todos os empregados juntos. Viesse ele ainda com a cabeça e, apesar de morto, depenado e assado, teria certamente melhor aspecto do que aqueles aprendizes de empregados de mesa.
Mas lá veio o bicho, mais esfalfado do que eu...
Comi à pressa; chamei a estafermóide e pedi-lhe um café e a conta, ficando a pensar se ela seria capaz de tomar conta de dois pedidos em simultâneo...
A despesa perfez € 9,95. Dei-lhe uma nota e esperei pelo troco. Quando regressou ficou ali naquele vai que não vai, fica que não fica, a ver se sobrava alguma coisa. Disse-lhe: "Não encontro trocos nenhuns. Devem ter ficado perdidos junto com a sua simpatia. Fica para uma próxima oportunidade."
Foi um almoço de frango, comido por um fóssil e servido por cágados. A verdadeira refeição National Geographic.
Thursday night fever
Hard Rock Cafe.
Quinta-feira à noite.
Do tecto pendem teias de aranha artificiais e esqueletos fluorescentes. Finados made in the USA.
O balcão é uma torre de babel: múltiplos idiomas afinando pelo diapasão aglutinador do álcool.
Nas mesas a fauna é diversa, dela sobressaindo uma holandesa envergando óculos de sol maiores do que as suas próprias mandibulas e um brasileiro que sucumbiu de borco sobre o tampo da mesa, indiferente a um Kid Rock que debita em écran gigante. Os companheiros riem sem intervir. É a velha solidariedade entre gente etilizada.
O espaço, a egrégora, as energias de há pouco eram mais calmas.
Mas não é no que é diferente que nos complementamos?
Bjs... on the rocks.
Quinta-feira à noite.
Do tecto pendem teias de aranha artificiais e esqueletos fluorescentes. Finados made in the USA.
O balcão é uma torre de babel: múltiplos idiomas afinando pelo diapasão aglutinador do álcool.
Nas mesas a fauna é diversa, dela sobressaindo uma holandesa envergando óculos de sol maiores do que as suas próprias mandibulas e um brasileiro que sucumbiu de borco sobre o tampo da mesa, indiferente a um Kid Rock que debita em écran gigante. Os companheiros riem sem intervir. É a velha solidariedade entre gente etilizada.
O espaço, a egrégora, as energias de há pouco eram mais calmas.
Mas não é no que é diferente que nos complementamos?
Bjs... on the rocks.
28 outubro 2010
Sons
Ó p'ra mim fresco que nem uma alface mas à procura de um pretexto para desfazer as frustrações na tromba do primeiro que olhar para mim de esguelha...
O melhor será ir já tratar desse assunto. Olho-me de través ao espelho e estampo a testa no dito cujo. ;-)
Depois fico a beber um copo, o sangue a pingar-me do nariz para dentro do hidromel... gotas que me parecem cair em câmara lenta.
Vermelho púrpura no dourado do malte... bonito.
Turva-se a vista, o líquido, a vida...
Nada como cair para trás num sofá e ouvir um som daqueles de querubim...
Waltz 4 Koop
Koop
O melhor será ir já tratar desse assunto. Olho-me de través ao espelho e estampo a testa no dito cujo. ;-)
Depois fico a beber um copo, o sangue a pingar-me do nariz para dentro do hidromel... gotas que me parecem cair em câmara lenta.
Vermelho púrpura no dourado do malte... bonito.
Turva-se a vista, o líquido, a vida...
Nada como cair para trás num sofá e ouvir um som daqueles de querubim...
Waltz 4 Koop
Koop
27 outubro 2010
"Bem prega frei Tomás..."
Dizia recentemente a uma amiga que, por vezes, os nossos piores inimigos somos nós próprios.
Muito gostaria eu que essa consciência me isentasse de cair tanta vez em situações que me deixam tão angustiado.
Mas enfim... deve fazer parte de alguma agenda inconsciente de auto-flagelação (ou coisa que o valha).
Muito gostaria eu que essa consciência me isentasse de cair tanta vez em situações que me deixam tão angustiado.
Mas enfim... deve fazer parte de alguma agenda inconsciente de auto-flagelação (ou coisa que o valha).
26 outubro 2010
Tão longe e tão perto.
O tanto de bem que dissémos, o tanto de bem que fizémos quando o amor não cabia em nós.
O tanto de mal que dissémos, o tanto de mal que fizémos quando o amor se distraiu entre nós, ou de nós, já nem sei.
Perdemo-nos realmente ou ficámos apenas reféns do mal que nos oferecemos?
O tempo, que tudo cura, passa por mim acenando de longe com a promessa de um remédio que não vem. Mas afinal que impasse é este em que escorrego, mal me tendo de pé?
Quando tudo parece esfumar-se num passado longínquo, eis-me na presença da tua lembrança, pungente, como se de ti própria se tratasse. Vislumbro-te num carro que vem de frente; deitada na areia da praia; sentada numa cadeira de cinema; vejo-te entre duas colheres de maçã assada, sentado à mesa do restaurante, sozinho mas na tua companhia, o que me deixa ainda e cada vez mais só.
Quando te vejo não consigo deixar de fitar a tua boca. Acaba por ser irónico: eu tão triste enquanto a felicidade está mesmo ali, ao virar de um beijo teu... tão longe e tão perto.
O tanto de mal que dissémos, o tanto de mal que fizémos quando o amor se distraiu entre nós, ou de nós, já nem sei.
Perdemo-nos realmente ou ficámos apenas reféns do mal que nos oferecemos?
O tempo, que tudo cura, passa por mim acenando de longe com a promessa de um remédio que não vem. Mas afinal que impasse é este em que escorrego, mal me tendo de pé?
Quando tudo parece esfumar-se num passado longínquo, eis-me na presença da tua lembrança, pungente, como se de ti própria se tratasse. Vislumbro-te num carro que vem de frente; deitada na areia da praia; sentada numa cadeira de cinema; vejo-te entre duas colheres de maçã assada, sentado à mesa do restaurante, sozinho mas na tua companhia, o que me deixa ainda e cada vez mais só.
Quando te vejo não consigo deixar de fitar a tua boca. Acaba por ser irónico: eu tão triste enquanto a felicidade está mesmo ali, ao virar de um beijo teu... tão longe e tão perto.
Há quatro anos atrás
Há exactamente quatro anos atrás, transcrevi para este blog a opinião do Dr. João Marques dos Santos. Hoje, numa demonstração inequívoca da velha máxima Os cães ladram mas a caravana passa, cumpre-me voltar a fazê-lo.
Ah! Já agora:
- Béu, béu!
Nunca se viu tão fantástica unanimidade mediática sobre um projecto de Orçamento de Estado. Os economistas continuam a fingir não entender que alimentam um monstro, autofágico, que já começou a engolir a própria cauda. Sabemos que somos vítimas do PEC, da Europa, da globalização, e do fantástico poder do dinheiro. Mas é lastimável que os nossos maiores carrascos sejam sempre os nossos governantes. Sócrates e as suas pequenas marionetas não têm imaginação, nem capacidade técnica, nem doutrinal ou humana para mais. Já mostraram tudo quanto têm para dar.
Incapaz de gerir as receitas do Estado ou de promover o crescimento económico, Sócrates, para recolher aplausos, refugia-se na política do corte. Sem anestesia, nem transfusões. Por isso se não entende tão grande unanimidade opinativa face às graves agressões deste orçamento. Porque este Governo não avança a direito. Faz umas curvas apertadas. Escolhe as suas vítimas e protege, sem vergonha, as suas melhores clientelas. O alarme de Jorge Coelho é sintomático. As almas de Sócrates, Campos, Pinho e outros ditos ‘governantes’ têm direito a inscrição a ouro no livro de honra da mais detestável das direitas. A que suga a vaca até a matar. Desapiedada. Que se não comove com os mais desfavorecidos e está sempre pronta para os atirar ainda mais para baixo na escala social. Quem se não incomoda em diminuir salários reais, quem agrava a carga fiscal dos reformados e deficientes, quem aumenta descontos para a CGA, quem todas as semanas corta nos medicamentos e na assistência médica e aumenta taxas moderadoras, quem ameaça diminuir 27% nos encargos do Estado com a ADSE, quem (no meio desta tempestade) cria excepções para a Banca oferecendo-lhe, como brinde, um regime de favor no apuramento dos seus impostos, não tem sequer direito a andar na rua de cara descoberta. E provoca náuseas quando insiste em dizer-se socialista. Deus livre os socialistas destes atabalhoados travestis políticos.
No limite, todos os socialistas que se empenhem em devolver alguma dignidade à vida política ver-se-ão obrigados a varrer os impostores e a votar na Direita (única alternativa conjuntural) para salvar as tradições e o bom-nome da Esquerda socialista, a sua cultura e os seus valores. Que são uma realidade histórica a respeitar. E que Sócrates aposta em esfrangalhar. Não é uma política restritiva e de rigor que está em causa. É o facto de essa política ser vesga. Maltratar (e beneficiar) sempre os mesmos. Sócrates massacra os portugueses mais desprotegidos com brutais restrições. Que são imediatas. Efectivas. Actuais. Indignas. E empobrecedoras. E nada oferece em troca senão mentirosas miragens. No que diz respeito à sua política social, este Governo espera que os mais velhos morram depressa e fia-se na adaptação e resignação dos mais novos, que não têm a memória de melhores dias. É este o seu programa.
João Marques dos Santos, Advogado
in "Opinião", Correio da Manhã, 20.10.2006
Ah! Já agora:
- Béu, béu!
Nunca se viu tão fantástica unanimidade mediática sobre um projecto de Orçamento de Estado. Os economistas continuam a fingir não entender que alimentam um monstro, autofágico, que já começou a engolir a própria cauda. Sabemos que somos vítimas do PEC, da Europa, da globalização, e do fantástico poder do dinheiro. Mas é lastimável que os nossos maiores carrascos sejam sempre os nossos governantes. Sócrates e as suas pequenas marionetas não têm imaginação, nem capacidade técnica, nem doutrinal ou humana para mais. Já mostraram tudo quanto têm para dar.
Incapaz de gerir as receitas do Estado ou de promover o crescimento económico, Sócrates, para recolher aplausos, refugia-se na política do corte. Sem anestesia, nem transfusões. Por isso se não entende tão grande unanimidade opinativa face às graves agressões deste orçamento. Porque este Governo não avança a direito. Faz umas curvas apertadas. Escolhe as suas vítimas e protege, sem vergonha, as suas melhores clientelas. O alarme de Jorge Coelho é sintomático. As almas de Sócrates, Campos, Pinho e outros ditos ‘governantes’ têm direito a inscrição a ouro no livro de honra da mais detestável das direitas. A que suga a vaca até a matar. Desapiedada. Que se não comove com os mais desfavorecidos e está sempre pronta para os atirar ainda mais para baixo na escala social. Quem se não incomoda em diminuir salários reais, quem agrava a carga fiscal dos reformados e deficientes, quem aumenta descontos para a CGA, quem todas as semanas corta nos medicamentos e na assistência médica e aumenta taxas moderadoras, quem ameaça diminuir 27% nos encargos do Estado com a ADSE, quem (no meio desta tempestade) cria excepções para a Banca oferecendo-lhe, como brinde, um regime de favor no apuramento dos seus impostos, não tem sequer direito a andar na rua de cara descoberta. E provoca náuseas quando insiste em dizer-se socialista. Deus livre os socialistas destes atabalhoados travestis políticos.
No limite, todos os socialistas que se empenhem em devolver alguma dignidade à vida política ver-se-ão obrigados a varrer os impostores e a votar na Direita (única alternativa conjuntural) para salvar as tradições e o bom-nome da Esquerda socialista, a sua cultura e os seus valores. Que são uma realidade histórica a respeitar. E que Sócrates aposta em esfrangalhar. Não é uma política restritiva e de rigor que está em causa. É o facto de essa política ser vesga. Maltratar (e beneficiar) sempre os mesmos. Sócrates massacra os portugueses mais desprotegidos com brutais restrições. Que são imediatas. Efectivas. Actuais. Indignas. E empobrecedoras. E nada oferece em troca senão mentirosas miragens. No que diz respeito à sua política social, este Governo espera que os mais velhos morram depressa e fia-se na adaptação e resignação dos mais novos, que não têm a memória de melhores dias. É este o seu programa.
João Marques dos Santos, Advogado
in "Opinião", Correio da Manhã, 20.10.2006
24 outubro 2010
23 outubro 2010
Cenas dos próximos capítulos...
Hoje é Sábado gastronómico.
Amanhã vou escalar a Peninha, em Sintra.
Se desaparecer de circulação foi porque me escaqueirei todo...
Amanhã vou escalar a Peninha, em Sintra.
Se desaparecer de circulação foi porque me escaqueirei todo...
20 outubro 2010
Férias / Vacations / Holidays
Encerrado.
Fui à pesca!
Fermé.
Je suis allé à la pêche!
Closed.
Gonne fishing!
Fui à pesca!
Fermé.
Je suis allé à la pêche!
Closed.
Gonne fishing!
Sons (dose dupla de hipnose musical)
Speak low
Billie Holiday
(Bent remix)
How soon is now?
The Smiths
18 outubro 2010
Santa pasmaceira...
Despertar: 7 da matina;
Serviço 1: Levar herdeiro à escola;
Entrementes 1: Carro; comboio; Metro;
Serviço 2: Reunião de trabalho em Lisboa (mais amorfa e improdutiva do que o actual Governo);
Entrementes 2: Metro; comboio; carro;
Serviço 3: Ir buscar herdeiro à escola e levá-lo a casa;
Entrementes 3: Ida à farmácia para administração da vacina anti-gripe;
Serviço 4: Ir à Ford entregar um documento;
Serviço 5: Ir tratar dos meus canitos;
Entrementes 4: Chegar a casa, sentar o rabo numa cadeira e beber um scotch enquanto escrevo esta coisa deslavada...
E agora? Música (já está!... nem podia ser de outro modo); ler... hoje não me apetece muito por aí além; TV? Vade Retro Satanás!... Gravações? Tenho o filme Coeurs, de Alain Resnais, para ver, mas não é já...;
DVD? Tenho o La Graine et le Mulet, do tunisino Abdellatif Kechiche, para ver, mas também não é para já...
Podia começar a fazer o jantar mas, PORRA!, também não me apetece... Será que estou com uma doença grave?
Santa pasmaceira!!!...
Serviço 1: Levar herdeiro à escola;
Entrementes 1: Carro; comboio; Metro;
Serviço 2: Reunião de trabalho em Lisboa (mais amorfa e improdutiva do que o actual Governo);
Entrementes 2: Metro; comboio; carro;
Serviço 3: Ir buscar herdeiro à escola e levá-lo a casa;
Entrementes 3: Ida à farmácia para administração da vacina anti-gripe;
Serviço 4: Ir à Ford entregar um documento;
Serviço 5: Ir tratar dos meus canitos;
Entrementes 4: Chegar a casa, sentar o rabo numa cadeira e beber um scotch enquanto escrevo esta coisa deslavada...
E agora? Música (já está!... nem podia ser de outro modo); ler... hoje não me apetece muito por aí além; TV? Vade Retro Satanás!... Gravações? Tenho o filme Coeurs, de Alain Resnais, para ver, mas não é já...;
DVD? Tenho o La Graine et le Mulet, do tunisino Abdellatif Kechiche, para ver, mas também não é para já...
Podia começar a fazer o jantar mas, PORRA!, também não me apetece... Será que estou com uma doença grave?
Santa pasmaceira!!!...
16 outubro 2010
Leituras
(...) da viagem secreta ao fundo do coração trouxe um sono vertiginosamente profundo. a água e o ópio a ausência e o ritual a epígrafe e o punhal a prece e a pressa de partir. amadureço este inverno que é segredo. e o óbvio é uma oração em rodapé.
e o céu existe... cravado de pétalas... no olhar em que te alago.
"A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce. Não cuida de si mesma. Nem pergunta se alguém a vê." Disse Silesius.
e eu reincido_____________ vês a pétala que te deixo?
assim
____________é tão tua. floresceu no deserto. é-me fonte e espinho. muralha e poros nocturna e partitura. vejo respondes e logo de seguida és parto e floresta.
sangue acamado na minha anca. mártir de um segredo mátreo. a rosa que não seca neste espinhoso mapa do coração. que te ofereço. cuidador dos lobos que me rasgam de rajada.
As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar
Isabel Mendes Ferreira
e o céu existe... cravado de pétalas... no olhar em que te alago.
"A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce. Não cuida de si mesma. Nem pergunta se alguém a vê." Disse Silesius.
e eu reincido_____________ vês a pétala que te deixo?
assim
____________é tão tua. floresceu no deserto. é-me fonte e espinho. muralha e poros nocturna e partitura. vejo respondes e logo de seguida és parto e floresta.
sangue acamado na minha anca. mártir de um segredo mátreo. a rosa que não seca neste espinhoso mapa do coração. que te ofereço. cuidador dos lobos que me rasgam de rajada.
As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar
Isabel Mendes Ferreira
15 outubro 2010
14 outubro 2010
Mulher com brinco de mar
Quando ela me sussura ao ouvido é como o fervilhar da água, absorvida pela areia húmida no rescaldo de uma vaga nocturna.
Quando me beija a nuca, ela é o rebojo de uma onda que rebentou sobre mim, envolvendo-me numa explosão de minúsculas bolhas de oxigénio, fazendo estremecer o meu mais profundo eu.
Quando se arranja para uma festa, ela é lago de plácidas águas cristalinas, espelhando as constelações da estação, ou tormenta desfeita no mais rigoroso dos invernos.
Quando dança para mim, espraia toda a volúpia de uma laminária acariciada pelo vai-vem da maré.
Quando dançamos juntos somos como partículas de maresia arrancadas à superfície pelo sopro do vento boreal.
Quando o mau tempo se deixa adivinhar no horizonte ela sabe e relembra, melhor do que ninguém, que o amor é feito de marés cheias e marés vazias, de tempestades e de bonanças.
Quando chora, as suas lágrimas desvanecem-se céleres, como salpicos de água sobre uma rocha quente. As marcas, essas, perduram, mas apenas de modo efémero, como singelas manchas de sal.
Quando faz amor comigo ela é a calmaria seguida da tempestade que investe imparável contra o cabo, sem quaisquer estratégias, receios ou hesitações, varrendo encostas e sorvendo tudo à sua passagem enquanto os seus olhos me dizem:
- Faz de mim terra, tal como eu faço de ti água. Possui-me neste instante, tal como eu te possuo a ti. Juntos seremos a soma de ambos, o universo fundido num só instante".
Deus pode ter criado o homem à sua imagem. Mas a mulher... a mulher - Deus foi ainda mais ambicioso - criou-a à imagem do mar.
Quando me beija a nuca, ela é o rebojo de uma onda que rebentou sobre mim, envolvendo-me numa explosão de minúsculas bolhas de oxigénio, fazendo estremecer o meu mais profundo eu.
Quando se arranja para uma festa, ela é lago de plácidas águas cristalinas, espelhando as constelações da estação, ou tormenta desfeita no mais rigoroso dos invernos.
Quando dança para mim, espraia toda a volúpia de uma laminária acariciada pelo vai-vem da maré.
Quando dançamos juntos somos como partículas de maresia arrancadas à superfície pelo sopro do vento boreal.
Quando o mau tempo se deixa adivinhar no horizonte ela sabe e relembra, melhor do que ninguém, que o amor é feito de marés cheias e marés vazias, de tempestades e de bonanças.
Quando chora, as suas lágrimas desvanecem-se céleres, como salpicos de água sobre uma rocha quente. As marcas, essas, perduram, mas apenas de modo efémero, como singelas manchas de sal.
Quando faz amor comigo ela é a calmaria seguida da tempestade que investe imparável contra o cabo, sem quaisquer estratégias, receios ou hesitações, varrendo encostas e sorvendo tudo à sua passagem enquanto os seus olhos me dizem:
- Faz de mim terra, tal como eu faço de ti água. Possui-me neste instante, tal como eu te possuo a ti. Juntos seremos a soma de ambos, o universo fundido num só instante".
Deus pode ter criado o homem à sua imagem. Mas a mulher... a mulher - Deus foi ainda mais ambicioso - criou-a à imagem do mar.
13 outubro 2010
09 outubro 2010
Polémico?
John Lennon foi assassinado faz hoje trinta anos.
Não fosse a sempre triste circunstância da morte de uma pessoa relativamente nova e o facto de ter escrito e composto algumas canções de antologia, pergunto:
E depois???
Não fosse a sempre triste circunstância da morte de uma pessoa relativamente nova e o facto de ter escrito e composto algumas canções de antologia, pergunto:
E depois???
08 outubro 2010
Oração do dia
Mestres, namastê!
Que as graças que julgueis ser justo atribuir-me em resultado do meu trabalho, possam ser distribuídas pela minha família, pelos meus amigos e por todos quantos mais delas necessitem do que eu.
Dai-me a força de espírito para que me possa manter na senda do merecimento.
Que tudo aquilo que eu venha a obter por vosso intermédio, incluindo a resposta a esta prece, resulte do meu humilde esforço e não do meu pedido.
Obrigado!
Que as graças que julgueis ser justo atribuir-me em resultado do meu trabalho, possam ser distribuídas pela minha família, pelos meus amigos e por todos quantos mais delas necessitem do que eu.
Dai-me a força de espírito para que me possa manter na senda do merecimento.
Que tudo aquilo que eu venha a obter por vosso intermédio, incluindo a resposta a esta prece, resulte do meu humilde esforço e não do meu pedido.
Obrigado!
Hachiko
Baseado numa história verídica ocorrida no Japão entre os anos 20 e 30 do século passado, este filme conta-nos uma belíssima história de amor incondicional.
Daquelas dádivas de que só os animais são capazes.
Curiosamente, conheço uma história muito semelhante a esta. Há não muitos anos, na Costa de Caparica, viveu um vira-lata minorca que, após o falecimento do dono, fazia diariamente o percurso do Bairro dos Pescadores até ao cemitério local, aguardando a abertura das portas pela manhã e saindo à hora de encerramento. Passava os dias deitado aos pés da campa do dono. Esta sua rotina apenas cessou alguns anos depois, no dia em que foi atropelado ao atravessar a via-rápida, algo que era obrigado a fazer duas vezes por dia.
Hachico - Amigos para sempre, não é um grande filme (nem nada que se pareça). Mas é uma grande história e, sobretudo, uma grande lição.
[Não levem um lenço... levem um lençol. Eu não levei uma coisa nem outra e passei um mau bocado a secar olhos e nariz com os dedos...]
Daquelas dádivas de que só os animais são capazes.
Curiosamente, conheço uma história muito semelhante a esta. Há não muitos anos, na Costa de Caparica, viveu um vira-lata minorca que, após o falecimento do dono, fazia diariamente o percurso do Bairro dos Pescadores até ao cemitério local, aguardando a abertura das portas pela manhã e saindo à hora de encerramento. Passava os dias deitado aos pés da campa do dono. Esta sua rotina apenas cessou alguns anos depois, no dia em que foi atropelado ao atravessar a via-rápida, algo que era obrigado a fazer duas vezes por dia.
Hachico - Amigos para sempre, não é um grande filme (nem nada que se pareça). Mas é uma grande história e, sobretudo, uma grande lição.
[Não levem um lenço... levem um lençol. Eu não levei uma coisa nem outra e passei um mau bocado a secar olhos e nariz com os dedos...]
07 outubro 2010
As vagas vêm em vagas
As vagas vêm em vagas
tragando tudo à sua passagem,
levantando castelos de água e núvens de espuma,
revolvendo areia, envolvendo-me na bruma.
As vagas vêm em vagas
e eu deixei de ver.
É da areia, da maresia no ar,
ou desta cegueira em que me quero afogar?
As vagas vêm em vagas
num sem parar de voltar.
Enrolam, desenrolam,
em chamas de sol se imolam.
As vagas vêm em vagas
lavando-me os sentimentos.
Indiferentes se bons se maus,
sobem escadas, descem degraus.
As vagas vêm em vagas,
impacientes, inclementes.
Não trazem calor nem amor
a um peito dilacerado pela dor.
As vagas vêm em vagas
mesmo quando o crepúsculo boceja.
Cai a noite... a praia descansa.
Acorda o pesadelo que cansa.
As vagas vêm em vagas,
estendendo-se no colo do mar.
Sob o luar, próximas, belas...
Quiçá um dia irei com elas?
06 outubro 2010
05 outubro 2010
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