Concluída a terapia cardio-vascular bimestral (sim... que resistir a um jogo inteirinho do Benfica é muito mais fiável do que um vulgar electrocardiograma), pus-me na mecha para casa.
Objectivo: Chegar a tempo de assistir à segunda parte do “Prós e Contras”, numa edição subordinada à problemática da Justiça em Portugal.
Tenho que admitir ser portador de um interesse injustificado por tudo o que é mórbido. Ora digam-me lá vocês se existe algo mais morbidamente interessante do que uma discussão sobre qualquer coisa que se encontre em estado comatoso, decrépito e vegetativo?
Já vi mortos muito mais fresquinhos e a cheirar menos a podre do que a Justiça portuguesa.
Quando liguei a televisão já a coisa ia adiantada. Aliás, fiz um instantâneo desse momento:
Dizia o representante da Associação Sindical dos Magistrados: “Este Governo mais não fez do que desencadear um ataque feroz à independência da Magistratura!”
E retorquia o Ministro da Justiça: “O quê?... O quê? Isso é ridículo!... Ridículo!”
Até aqui… tudo bem. Eu ainda ia percebendo a conversa. “Ridículo” queria dizer: que provoca riso; irrisório; de pouco valor; insignificante.
Mas depois é que o gato foi às filhós… Continuou o Ministro: “Isso é uma ideia completamente esdrúxula!”.
E eu disse logo: “Agora é que este gajo me lixou!...”
Não há debate nenhum em que isto não me aconteça. Raios partam!...
Eu já me sento no sofá a tremer, mesmo antes dos programas terem início. É assim a modos como “a angústia do guarda-redes antes do penalti”.
Vocês poderão rir-se mas o caso é sério. Uma pessoa quando vai para velha começa a ter estes lapsos e relapsos de demência extemporânea. E eu não sou excepção. Quando ouço algo que não percebo, começo a empreender nos detalhes e, enquanto não resolver o conflito mental daí resultante, abstraio-me completamente das coisas.
Vai daí pus-me a pensar:
Ora bem! Esdrúxula, analisado o termo no seu sentido figurativo, o Ministro deve é ter querido dizer que a ideia do Juiz era esquisita ou exótica. E logo me veio à cabeça a imagem de um magistrado vestido de havaiana, a bambolear as ancas num qualquer areal paradisíaco.
Não era isso… certamente.
Se o sentido de esdrúxula era para ser pensado stricto sensu, então a resposta do Ministro continha uma mensagem subliminar.
Com o entusiasmo que me transporta sempre às leituras de Conan Doyle da minha juventude, pus-me, qual Sherlock Holmes, a tentar decifrar a dita mensagem
Esdrúxula significa “com acento tónico na antepenúltima sílaba”.
Vai daí, peguei na palavra “Magistratura” e saquei-lhe a antepenúltima sílaba: “tra”. Era nela que se centrava a chave de tão adensado mistério.
Atirei-me de cabeça ao dicionário e fui à procura de palavras começadas pela sílaba “tra”.
O resultado ainda me baralhou mais. Deixo-vos um leque de possibilidades a partir do qual cada um de vós tirará, pessoalmente, a resposta que achar apropriada.
Traque – a menos que o Ministro tenha querido dizer que o Juiz, ao invés de emitir uma opinião, se limitou a expelir um peido… não sei se fará muito sentido;
Tragédia – pareceu-me muito teatral;
Tralha – será que quis dizer que a opinião do Juiz era apenas lixo?
Traquina – será que o Ministro estava a pensar em debruçar o Juiz no colo e aplicar-lhe umas palmadas no rabo? Se fosse o Paulo Portas ainda vá que não vá!...
Trama, tramóia, trapaça – será que há aqui uma conspiração encapotada?
Trapalhice – será que o Ministro quis apenas dizer que o Juiz estava a confundir “Manuel Germano” com “Género Humano”?
Foi demais para a minha pobre cabeça, já de si tão derreada.
Voltei a prestar atenção ao pequeno écran… o programa tinha acabado e estava a passar um anúncio de fraldas para criança.
Ó vil existência…
Nullum infortunium venit solum… que é o mesmo que dizer: Uma desgraça nunca vem só!
(Quando me salta o Latim… é esta pouca-vergonha!)
1 comentário:
A justiça portuguesa está mais que podre, mas se tudo o resto em Portugal tbem está, pk haveria de ser diferente com a justiça?... basta olhar para o que se tem passado na campanha para as autárquicas, há algo mais podre que isto???
Enviar um comentário