03 outubro 2005

O equívoco

- Alô... Sr. Engº Aristóteles?
- Sim... quem fala?
- Felisberto Carapau, do Grupo Desportivo da CP.
- Grupo desportivo da CP? Sim... faça favor.
- Ó Sr. Engº... então o que é que se passa com essa história de ir despedir aqui uns quantos funcionários?
- Despedir funcionários? Ahhh!... está a falar dos gestores?
- Pois claro!
- Ó homem... então esses gajos andavam a trocar contratações com a malta da REFER e as Finanças descobriram... o que é que você quer que eu lhe faça?
- O que é que eu quero? Quero que o Sr. Engº desfaça este grande equívoco.
- Equívoco? Qual equívoco?
- Mais um daqueles equívocos em que V. Exa. é especialista e que só demonstra o profundo desrespeito e desconhecimento por tudo o que é público.
- Ah sim?... então explique lá isso.
- O que se passa é que nos encontramos em plena época de transferências. Ora como o Grupo Desportivo da CP está fortemente empenhado no Campeonato Nacional de pesca do INATEL e precisa de reforçar a equipa, fomos buscar uns quantos pescadores à Casa do Pessoal da REFER. E não há aqui subornos nem corrupções. Aliás, não houve sequer quaisquer passagens de dinheiro. As nossas contratações custaram apenas seis grades de cerveja e uns quantos Administradores que andavam aqui só a passear de Volvo e a coçar os tomates.
- É pá... porra! Mas ninguém me avisou...
- É o costume!
- E agora? Como é que eu vou resolver isto?... Já sei! Diga aí à malta para aguardar uns mesitos que eu vou já telefonar ao meu paneleiro...
- Ó Sr. Engº... ao seu paneleiro?
- Sim homem... não sabe o que é um paneleiro? É alguém que faz tachos e panelas.
- Ó Sr. Engº... desculpe lá... é que... por momentos... Mas... então foi por isso que durante a campanha eleitoral se levantou o boato que o Sr. Engº era paneleiro: estavam era a acusá-lo de criar tachos para os amigos.
- É pá... veja lá essas conversas ao telefone porque pode estar alguém a ouvir!
- Mas dizia o Sr. Engº...
- Sim... dizia que vou telefonar ao meu paneleiro. Como o TGV está aí a estourar, pode ser que ele consiga criar uma nova empresa pública ou um instituto qualquer onde se consiga enfiar essa rapaziada toda.
- Boa! O Sr. Engº é o maior! Ainda andam para aí uns saudosistas a carpir que o Salazar é que era bom... que o Salazar era o pai da nação... que o Salazar providenciava... não conhecem é o Sr. Engº. Eu vou passar a informação e tenho a certeza que a malta vai ficar satisfeita e que lhe vai querer agradecer pessoalmente. Já estou a ver uma faixa com os dizeres “Aristóteles resolve!”.
- Deixe lá isso homem. A gente não está cá para outra coisa!
- Ó Sr. Engº... desculpe lá a pergunta, mas como falou no TGV, acho que vem a talhe de foice: O meu sogro tem uns terrenos estéreis ali para os lados do Cabo Espichel. O Sr. Engº vê alguma possibilidade de ainda se ir a tempo de alterar o traçado do TGV, de modo a expropriar o homem a preços de amigo? É que, afinal de contas, até era capaz de ser interessante que o TGV para Espanha tivesse estação em Sesimbra e apeadeiro na Aldeia do Meco. O que acha?
- Olha que rica ideia! Vou ver o que é que se pode arranjar e depois aviso!...
- Muito obrigado Sr. Engº. Até lá e bem haja! Felisberto Carapau... over and out!

2 comentários:

Unknown disse...

Com muita imaginação...:-)

Anónimo disse...

Espectáculo!!

O que eles precisavam mesmo, era levarem com um monte de T R . M . A
naquelas ventas, para não brincarem mais com a quantidade de famílias que continuam a destruir, deixando-as bem piores do que "carapaus albardados".

Bjcas
Mana

 

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